O ano de 2024 finalmente chegou ao fim, e é com muito louvor (e cansaço) que eu deixo aqui a minha lista com os 30 filmes do ano que eu mais gostei (um pouco atrasado), fazendo breves comentários sobre cada um deles com o intuito de deixar a curiosidade de todos instigada.
OBS: Essa lista segue o gosto pessoal do redator, e não representa a opinião geral do site Fórum Nerd.
Gostaria de destacar também que obviamente não assisti todos os filmes do ano, e alguns lançamentos muito aguardados por mim e que poderiam estar nessa lista, como: O Brutalista, Tudo que Imaginamos Como a Luz, O Quarto ao Lado, Um Completo Desconhecido, Nickel Boys, Queer e Hard Truths, não foram disponibilizados para aluguel digital ou lançados nos cinemas brasileiros. Vamos então para a lista, passando rapidamente por algumas menções honrosas que não couberam na lista.
Menções Honrosas:
Exhuma (Dir: Jang Jae-hyun), Entrevista com o Demônio (Dir: Cameron Cairnes e Colin Cairnes), Babygirl (Dir: Halina Reijn), Strange Darling (Dir: JT Mollner), O Robô Selvagem (Dir: Chris Sanders), Problemista (Dir: Julio Torres), Fúria Primitiva (Dir: Dev Patel), Armadilha (Dir: M. Night Shyamalan) e Megalopolis (Dir: Francis Ford Coppola).
30. Herege (Heretic, Dir: Scott Beck e Bryan Woods)
Duas jovens missionárias devotas acabam presas na casa de um homem misterioso. Elas são forçadas a participar de um jogo perturbador que desafia sua fé e põe em xeque tudo o que acreditam.
A premissa batida pode enganar a primeira vista, mas temos aqui um bacana suspense/terror religioso que te deixa na ponta da cadeira do começo ao fim, sempre te fazendo duvidar de tudo e todos.
Todo mundo tem a sua fé (mesmo que seja para nenhum ser divino), mas já questionou ou foi questionado se o que acredita é realmente o certo. Esse é o mote central da história, e mesmo trazendo grandes questionamentos sobre as religiões (de forma justa e coerente), não cospe na fé alheia, e o balanceamento feito é algo que me surpreendeu bastante.
O suspense funciona pela temática e ambiente claustrofóbico e "labirintistico" que é a casa, sem falar na excelente atuação de Hugh Grant (Simplesmente Amor, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes), que vive um ateu de facebook meio Jigsaw sinistro e manipulador, que até o fim não deixa as suas intenções claras.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
29. A Verdadeira Dor (A Real Pain, Dir: Jesse Eisenberg)
Dois primos que não se dão bem se reúnem para uma excursão pela Polônia para homenagear sua amada avó. A aventura toma um rumo diferente quando as antigas tensões deles ressurgem contra o pano de fundo de sua história familiar.
Todo mundo passa por problemas na vida e cedo ou tarde, tem que enfrentar o luto. E isso que dois primos judeus tem que lidar, enquanto fazem uma viagem juntos para a Polônia para conhecerem mais as origens de sua falecida avó.
É engraçado ver o ator Jesse Eisenberg (A Rede Social, Zumbilândia) estrelando e assumindo a cadeira de direção com um projeto que parece tão pessoal. Sempre gostei dele como ator, apesar de algumas derrapadas, e não é que ele se mostrou um diretor competente?? Mas quem rouba o show é o ator Kieran Culkin (Succession, Scott Pilgrim Contra o Mundo), que é o favorito para finalmente receber o seu primeiro Oscar (pouco mais de 1 ano após vencer um Emmy).
Durante boa parte do filme, Kulkin parecia estar apenas repetindo seus manejos e personalidade que aplicou em Roman Roy, seu personagem de "Succession" que marcou todo mundo. Mas durante o terço final, ele mostra um desenvolvimento único que foge de tudo que ele tinha feito antes na sua carreira, sendo de fato uma interpretação poderosa e digna de prêmios.
É um filme surpreendentemente melancólico e... gostoso de assistir? Que trata do luto de forma madura pela perspectiva de duas pessoas bem diferentes.
O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 30 de Janeiro.
28. Guerra Civil (Civil War, Dir: Alex Garland)
Em um futuro distópico, quatro jornalistas percorrem os Estados Unidos durante um conflito nacional. Enquanto tentam sobreviver, eles têm como objetivo chegar à Casa Branca para entrevistar o presidente antes que ele seja derrubado.
Ambientado em um Estados Unidos caótico tomado pelo extremismo (quase como é atualmente), temos aqui uma ode ao fotojornalismo e aos profissionais que embarcam apostando suas vidas nesses campos de guerra para registrarem o maior número possível de coisas.
A tensão constante e criação de um mundo que está muito mais próximo de nós do que imaginamos é aterrorizante, e a cena onde eles vão de encontro com dois soldados armados que começam a questionar "que tipo de americanos eles são" é de longe uma das mais tensas do ano.
Com grandes atuações de Kirsten Dunst (Homem-Aranha 2, Ataque dos Cães), Wagner Moura (Narcos, Tropa de Elite) e Cailee Spaeny (Alien: Romulus, Priscilla), e direção de Alex Garland (Ex_Machina: Instinto Artificial, Aniquilação), o filme não atinge o seu potencial completo pela covardia do diretor (que também é o roteirista) de não escolher um lado e botar os pingos nos is, mesmo todo mundo sabendo de que lado eram os extremistas que estavam causando tudo isto.
O filme está disponível no catálogo da Max.
27. O Mal Não Existe (Aku wa Sonzai Shinai, Dir: Ryûsuke Hamaguchi)
Em uma vila de Mizubiki, perto de Tóquio, vivem Takumi e sua filha Hana. Um dia, os habitantes da vila ficam sabendo de um plano para construir um local de glamping perto da casa de Takumi, oferecido a um morador da cidade e isso afeta a vida de Takumi.
Um conto da natureza do homem e a sua relação com a vida animal e vegetal. Uma comunidade simples que se vê em um dilema de aceitar ou não um lobo em pele de cordeiro adentrar a sua comunidade.
A direção calma, lenta e suave opta por dar foco na natureza, na rotina dos moradores e na lenta mas gradativa tentativa dos funcionários de uma empresa em se aproximar deles. Não é um filme que me marcou profundamente, apesar da segunda metade apresentar uma história que me deixou investido, para quebrar tudo com os 30 segundos finais mais surpreendentes que eu já vi (acho impossível alguém prever que este seria o desfecho da história).
Acho Ryûsuke Hamaguchi (Drive My Car, A Roda da Fortuna) um dos melhores diretores da atualidade, e mesmo este sendo mais um trabalho fascinante (e diferente) de sua filmografia, ainda fico com uma sensação de decepção por conhecer o seu potencial.
O filme está disponível no catálogo da Mubi.
26. Eu Vi o Brilho na TV (I Saw the TV Glow, Dir: Jane Schoenbrun)
Um adolescente está tentando sobreviver à vida nos subúrbios quando uma colega de classe apresenta a ele um misterioso programa televisivo noturno.
No que seria um grito de socorro e uma alerta de que ainda há tempo para você ser/redescobrir quem você realmente é, a diretora Jane Schoenbrun (We're All Going to the World's Fair) faz o seu segundo e mais pessoal filme, uma carta de amor ao cinema e a comunidade trans, dando as mãos para todos e urrando uma mensagem poderosa.
Um garoto que cresce perdido, se lembrando de memórias específicas do passado com uma garota que deu uma chance para ele mudar de vida, que ele por medo negou e causou um grande arrependimento. O horror da ficção brevemente tomando a realidade e mostrando o que realmente é assustador no nosso mundo, causando a completa disrupção mental dele.
No que considero a melhor interpretação da carreira de Justice Smith (Detetive Pikachu, The Get Down), "Eu Vi o Brilho na TV" definitivamente não é um filme para todos, e em alguns momentos não era um filme para mim (e tá tudo bem). Não tem como não ver o alto valor artístico impresso aqui, e cada shot esbanja criatividade e personalidade, com uma montagem bem interessante, mas sinto que as vezes a direção se perde em construir uma narrativa confusa e as vezes vazia.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
25. Sing Sing (Dir: Greg Kwedar)
Divine G, preso em Sing Sing por um crime que não cometeu, encontra um propósito ao atuar em um grupo de teatro ao lado de outros homens encarcerados nesta história de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte.
O peso e valor da arte é incompreensível. Baseado em uma história real, acompanhamos um grupo de homens presos lutado para salvar as suas almas através da arte e de um grupo de teatro na prisão, com uma história tocante sobre a importância da arte para a vida humana.
Colman Domingo (Euphoria, Rustin) é o grande destaque. Ele entrega uma atuação frágil, humana e ao mesmo tempo poderosa, não só uma das melhores performances do ano mas também uma das melhores da carreira de Colman, que é um dos grandes atores modernos. A maioria dos atores que estão interpretando os prisioneiros na realidade estão vivendo eles mesmos, exorcizando seus demônios do passado, como se fosse algo poético.
O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 13 de Fevereiro.
24. A Primeira Profecia (The First Omen, Dir: Arkasha Stevenson)
Uma jovem americana é enviada a Roma para começar uma vida de serviço à Igreja. Ela acaba desvendando uma aterrorizante conspiração que deseja provocar o nascimento do mal encarnado.
A maior surpresa do ano. Disparado.
Quando estava fazendo a minha já famigerada lista de lançamentos para cinema de 2024, coloquei "A Primeira Profecia" em uma das últimas posições. Apesar do elenco extremamente competente, tudo cheirava a uma prequel vagabunda e totalmente caça-níquel de uma franquia que já não é lá essas coisas além do seu primeiro filme. E bem, não poderia ter errado mais nesta suposição (ainda bem!).
"A Primeira Profecia" é um dos horrores mais fisgantes e interessantes do ano, e não é necessário vter visto ou conhecer a história de nenhum filme da franquia "A Profecia". A diretora Arkasha Stevenson (Legião, Vingança Sabor Cereja) não tem medo de ir além e mostrar o grotesco e sinistro de uma maneira que te faz realmente ficar chocado com o que está vendo. Sabemos como essa história vai acabar, mas o caminho é conduzido de maneira intrigante e satisfatória.
É hilário como este filme é idêntico a "Imaculada", um filme também de terror lançado algumas semanas antes. E mesmo eles sendo iguais (não, é sério parece até que filmaram nos mesmos locais), este filme é tão superior e possui tanta, mas tanta personalidade que deveria ser obrigatório fazer uma sessão seguida dos dois filmes em faculdades de cinema. E esse filme inclusive é um forte advogado na causa dos filmes "prequels que ninguém pediu".
O filme está disponível no catálogo do Disney+.
23. Crepúsculo dos Guerreiros: Walled In (Jiu Long Cheng Zhai, Dir: Soi Cheang)
Na década de 1980, o jovem problemático Chan Lok Kwun entra acidentalmente na Cidade Murada, descobre a ordem em meio ao caos e aprende importantes lições de vida ao longo do caminho. Na Cidade Murada, ele se torna amigo íntimo de Shin, Décimo Segundo Mestre e AV. Sob a liderança de Tornado, eles resistem à invasão do vilão Mr Big, em uma série de batalhas ferozes. Juntos, eles juram proteger o porto seguro que é a Cidade Murada de Kowloon.
Outra das surpresas do ano. Não sou muito familiarizado com o cinema de ação de Hong Kong, apesar de ter visto alguns bons filmes, acho que nunca tinha visto um filme tão recente que tivesse essas técnicas de filmagem e coreografia, que criam cenas de ação impressionantes que pareciam ter saído de alguma animação, só que executada em live-action, um grande mérito do experiente diretor Soi Cheang (Zhì chi).
A ação eletrizante e o ritmo acelerado rapidamente te deixa preso e interessado em tudo que está acontecendo, com a jornada do protagonismo e a sua jornada nesta cidade dentro de uma cidade sendo básica mas eficiente. Algumas conveniências e forçações de barra não ajudam em nada o filme, e parecem só estar lá para aumentar a duração do filme. No mais, é um filme de ação bem criativo e com bastante alma.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
22. A Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve, Dir: J. A. Bayona)
Inspirado em uma história real e baseado no livro homônimo de Pablo Vierci, temos o caso que ocorreu em 1972, quando o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, cai em uma geleira no coração dos Andes. Apenas 16 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, eles são obrigados a recorrer a medidas extremas para se manterem vivos.
Um caso que chocou o mundo e até hoje continua recebendo adaptações e sendo recontado.
O que torna o filme tão assustador é o uso pontual de efeitos especiais em cenas como a queda do avião e para recriar e ampliar alguns cenários onde eles gravaram, deixando o ambiente bem mais opressivo e que dá a sensação de que essas pessoas nunca vão sair dali com vida.
É difícil não sentir a angustia e pressão com tudo o que vai acontecendo. A progressão e desespero mútuo dos personagens causa essa explosão de sentimentos, ao mesmo tempo em que constrói cada um deles e essa jornada de dor que eles tem que passar. Uma experiência perturbadora e catártica que só o cinema pode proporcionar, muito pela direção magnifica de J.A. Bayona (O Impossível, Jurassic World: O Reino Ameaçado) que sabe trabalhar com esse tipo de narrativa e história.
Disponível no catálogo da Netflix, leia a nossa crítica do filme clicando aqui.
21. Assassino Por Acaso (Hit Man, Dir: Richard Linklater)
Gary Johnson é um policial disfarçado de assassino de aluguel com a missão de prender aqueles que tentam contratá-lo, até que ele quebra o protocolo para tentar salvar uma mulher desesperada.
Como não amar Richard Linklater (Boyhood: Da Infância á Juventude, Acordar Para a Vida)?? Um cineasta que já nos entregou filmes incríveis, além de uma das melhores trilogias do cinema que é a "Trilogia Before". Ele já se aventurou em vários gêneros, inclusive na comédia com o divertido "Escola do Rock", então não era nada chocante ver ele envolvido em mais uma comédia.
Sempre projetamos uma vida ou personalidade de algo que não somos. Almejamos cargos, relacionamentos, status e fantasias de poder que não se encaixam com nós ou dificilmente alcançamos. Por isto o protagonista e a premissa de "Assassino Por Acaso" é tão aconchegante e fascinante, em certo ponto.
Além de estrelar, Glen Powell (Top Gun: Maverick, Todos Menos Você) também assina o roteiro junto de Linklater, e aqui mostra que talvez tenha o carisma necessário para ser chamado de Estrela de Cinema. Ele tá solto, convence como todos os assassinos idiotas, o loser principal e quando necessário, um psicopata calculista. E a sua química com a também boa atriz Adria Arjona (Andor, Morbius) entrega um romance convincente e explosivo.
Uma das comédias mais legais do ano (e talvez dos últimos anos) que tem um twist macabro e delicioso no seu ato final. Não é nenhum filme revolucionário ou entre os melhores do diretor, mas entrega o que se propõe e te diverte do começo ao fim.
Disponível no catálogo da Amazon Prime Video, leia a nossa crítica do filme clicando aqui.
20. Super/Man: A História de Christopher Reeve (Super/Man: The Christopher Reeve Story, Dir: Ian Bonhôte e Peter Ettedgui)
Documenta a ascensão de Christopher Reeve ao estrelato como Super-Homem, bem como sua luta para encontrar uma cura para lesões na medula espinhal depois que ele ficou tetraplégico após um acidente de cavalo.
Christopher Reeve marcou gerações com a sua interpretação magistral do Supeman. Ele SE TORNOU o Superman, tanto na vida real quanto nas telas, e até hoje causa um impacto por um filme de quase 50 anos. E por isto que quando ele sofreu o acidente que o paralisou chocou o mundo todo.
O documentário explora a sua linda e trágica trajetória, e seu relacionamento com a família que ajudou a superar a tragédia. A montagem enfoca muito o paralelo e impacto que ele tinha como Superman, além de trazer diversos depoimentos de como ele continuou sendo um ícone mesmo após ficar paraplégico, com sua família atuando de maneira crucial para tudo.
Mas o que eu realmente achei surpreendente e positivo por eles abordarem os defeitos de Reeve como ser humano. Sempre foi mostrado e construído uma aura de perfeição e altruísmo em volta dele, mas aqui temos um olhar mais humano e falho sobre Reeve, e como ele negligenciou sua família durante a juventude para curtir a vida. E isso é extremamente corajoso e o que falta nessas obras chapa branca.
Provavelmente existem dezenas de documentários melhores do que este. Que trazem mais impacto, abordam temas grandiosos, são feitos com mais esmero e abordam temas mais abrangentes. Mas como não sou muito de ver documentários, este acabou sendo o que mais me impactou no ano.
O filme está disponível no catálogo da Max.
19. O Amor Sangra (Love Lies Bleeding, Dir: Rose Glass)
Lou, uma gerente de academia, tem um envolvimento com a ambiciosa Jackie, uma aspirante a fisiculturista. Tudo ia bem até que um ato de fúria impulsivo as colocará em um caminho doloroso de sangue e vingança.
Em seu segundo filme, a diretora Rose Glass (Saint Maud) continua impressionando com uma direção ousada e uma imaginação doentia que deu gosto de ver. Temos aqui uma jornada de duas mulheres que criam um relacionamento que as levam a enfrentar o mundo e seus maiores monstros.
Controle e relacionamentos tóxicos são abordados de diferentes ângulos e formas, entre uma namorada possessiva, um pai arrogante e monstruoso, um marido agressivo, uma ex-namorada stalker e muito mais.
Com ótimas interpretações de Kristen Stewart (Crepúsculo, Spencer), Katy O’Brian (O Mandaloriano, Twisters) e Ed Harris (Westworld, Uma Mente Brilhante), ela cria um thriller que pouco a pouco vai abraçando o fantástico e o lúdico até ter o seu ápice catártico e inesperado, assim como um relacionamento quebrado.
Disponível no catálogo da Max, leia a nossa crítica do filme clicando aqui.
18. Nosferatu (Dir: Robert Eggers)
Um conto gótico de obsessão entre uma jovem assombrada na Alemanha do século XIX e o antigo vampiro da Transilvânia que a persegue, trazendo consigo um horror incalculável.
"Nosferatu" de 1922 é um dos melhores horrores de todos os tempos. Uma versão alemã não autorizada do Drácula, é um horror expressionista gótico que impressiona até hoje, e quando o excelente cineasta Robert Eggers (O Homem do Norte, A Bruxa), disse que o projeto dos seus sonhos era fazer uma reimaginação deste clássico, sabia que algo especial viria.
Eggers recria a época como ninguém, e uma temática de seus filmes é como nunca podemos realmente compreender o que uma pessoa da antiguidade pensaria, já que é uma realidade quase que oposta da nossa. Nesta nova versão, ele explora a sexualidade, pecado e repressão de uma jovem que em um momento de dificuldade, se jogou para o prazer e acabou entrando em um relacionamento tóxico e perigoso com uma criatura, e ao se apaixonar por outro homem, acabou tendo que enfrentar os demônios do passado.
Com uma ambientação incrível, atuações afiadas e uma cinematografia invejável, "Nosferatu" não chega aos pés do original e nem mesmo é o melhor filme do diretor. Mas é um atestado de que na mão de pessoas competentes, com uma visão artística certa e com o amor pela obra original, conseguem reinventar até mesmo os maiores clássicos para novas gerações, dando o seu toque especial.
O filme está atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros, e você pode ler a nossa crítica clicando aqui.
17. Rivais (Challengers, Dir: Luca Guadagnino)
Tashi é uma antiga tenista que virou técnica, treinando seu marido, Art. Ela o transformou de um jogador medíocre em uma estrela do esporte, vencedor de vários grand slams. Para ajudá-lo a superar uma série de derrotas, ela o coloca para jogar um torneio Challenger, um dos níveis mais baixos do circuito profissional. Lá ele se encontra frente a frente com Patrick, um jogador que já foi uma promessa das quadras e caiu em decadência, além de ser o antigo namorado de Tashi.
Muito se fala de como falta tesão nos filmes atuais. Não chego a discordar pois é nítido que as novas gerações costumam a se afastar de filmes e séries que tem cenas de sexo, tendo até estudos que chegam a essa conclusão. E "Rivais" vêm com força para nadar contra esta maré e apresentar uma disputa de dois homens por uma mulher (que é manipulativa e perspicaz) que vira uma mistura de romance/bromance com cenas provocativas no melhor clima novelão que te deixa encucado em saber como isso tudo vai terminar.
Não quero me aprofundar muito já que este foi um dos filmes mais comentados do ano, mas eu tenho que reservar um espaço pra falar do jogo final nos últimos momentos do filme, que talvez seja uma das sequências de esportes mais eletrizantes e bem filmadas que eu já vi.
O trio Zendaya (Duna, Euphoria), Josh O’Connor (The Crown, O Reino de Deus) e Mike Faist (Amor, Sublime Amor, The Bikeriders) exalam química, e esse é um dos trabalhos mais energéticos da carreira do diretor Luca Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome, Queer). Sem falar na trilha sonora da dupla Trent Reznor e Atticus Ross (Watchmen, Soul), que considero disparada a melhor do ano.
O filme está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
16. Flow (Straume, Dir: Gints Zilbalodis)
Gato é um animal solitário, mas quando seu lar é destruído por uma grande inundação, ele encontra refúgio em um barco habitado por diversas espécies, tendo que se juntar a eles apesar das diferenças.
Uma das melhores animações de 2024, "Flow" é um filme indie da Letônia sem diálogos, que segue um grupo de animais (em uma espécie de futuro distópico sem humanos??) tentando sobreviver a uma inundação que pode significar o fim do mundo, sendo o segundo trabalho do diretor Gints Zilbalodis (Longe).
Puramente narrativo, ele dá foco nas relações e diferenças de raças de animais que ou nunca interagiram antes em suas vidas, ou simplesmente caçavam umas as outras. A animação visualmente é linda e única, parecendo as vezes algo que você veria em um vídeo-game (mas no bom sentido), e passa mais emoção do que qualquer outra animação com bichinhos ou criaturas deste ano. É também uma forte recomendação para amantes de gatos, embora seja angustiante ver o bichano passar por situações pesadas.
O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 30 de Janeiro.
15. Caminhos Cruzados (Crossing, Dir: Levan Akin)
Lia, uma professora aposentada que mora na Geórgia, descobre que sua sobrinha perdida, Tekla, uma mulher trans, cruzou a fronteira para a Turquia. Esperando trazer Tekla para casa após um período de afastamento, Lia viaja para Istambul com o imprevisível Achi para encontrá-la. Explorando as profundezas ocultas da cidade, eles cruzam o caminho de uma advogada transgênero chamada Evrim, que os ajuda em sua busca.
Um dos maiores prazeres para um amante de cinema é visitar filmes do mundo inteiro e encontrar pérolas escondidas infelizmente pouco faladas. E não é que um filme com premissa simples da Geórgia consegue causar impressões tão positivas?
Temos aqui um road movie que é uma jornada de amadurecimento de duas pessoas completamente diferentes. Uma mulher idosa que busca entender os seus próprios sentimentos e superar o luto reencontrando a sobrinha que a muito tempo não via, e um garoto perdido na vida que encontra uma oportunidade para dar um novo start.
É curioso como o filme não necessariamente aborda pautas trans que costumamos ver a toda hora, já que não é bem o foco da história. É uma jornada mais intimista que é repleta de pessoas trans sem cair no lugar comum, com um desfecho lindo e humano. E muito disto se dá pelas excelentes interpretações da dupla principal, que roubam o show.
O filme está disponível no catálogo da Mubi.
14. La Chimera (Dir: Alice Rohrwacher)
Todos têm sua própria Quimera, algo que buscam, mas nunca conseguem encontrar. Para uma gangue de ladrões de antigos objetos funerários e maravilhas arqueológicas, a Quimera significa o desejo pelo dinheiro fácil. Para Arthur, a Quimera se parece com a mulher que ele perdeu, Beniamina. Para encontrá-la, ele desafia o invisível e procura por toda parte em busca de um mitológico caminho para a vida após a morte. Numa jornada entre vivos e mortos, entre florestas e cidades, entre celebrações e solidão, desenrolam-se os destinos entrelaçados desses personagens, todos à procura da Quimera.
As vezes discutindo com alguns amigos, sempre digo que tá tudo bem dizer que um filme é "chato" (algo que é relativo para cada pessoa) mas ainda assim saber apreciar o valor dele e o que está dizendo. O grande problema é quando encontramos uma obra com tons de prepotência, onde nada acontece e ele se estende apenas para tentar criar algo contemplativo, só desperdiçando o nosso tempo. Mas chega a ser gratificante ver um filme que mesmo "sendo chato" consegue conter tanta beleza.
Alice Rohrwacher (Feliz como Lázaro, Corpo Celeste), uma diretora italiana que por sinal eu adoro, comanda este drama bem intimista de um homem que está perdido no mundo sem qualquer rumo. Ele é vivido maestralmente por Josh O’Connor (Rivais, The Crown), que neste ano provou que é um ator mais do que competente e tem calibre para se tornar um astro.
Existe uma tristeza profunda que pareia pelo filme, ao mesmo tempo que ele tem uma doçura e inocência humana. É quase como se ele conseguisse capturar a alma humana e esmiuçar a sua complexidade em um pouco mais de 2 horas.
Não sei se sou tão fã das metáforas e o uso de momentos mais contemplativos que o filme adota, mas não dá para negar que tudo funciona perfeitamente no que a diretora quer atingir e principalmente realizar com o final do filme, que é simplesmente perfeito.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
13. Centenas de Castores (Hundreads of Beavers, Dir: Mike Cheslik)
Durante o século XIX, um vendedor de licor de maçãs deve passar de zé ninguém à herói e se tornar o maior caçador de peles da América do Norte, derrotando centenas de castores.
Quando vi "Megalopolis", achei que nada seria mais insano e iria me impressionar neste ano. Mas eu estava completamente errado??
"Centenas de Castores" é um filme completamente em preto e branco que segue um homem maluco enfrentando... centenas de castores. E o que torna este filme tão especial é o fato dele ser basicamente um cartoon antigo feito em live-action.
Diferentemente de algumas adaptações de desenhos em live-action que vemos por aí, parece que eles de fato pegaram um roteiro de um desenho pirado antigo e executaram com atores e cenários "reais". Os personagens agem como se fossem desenhos, os cenários, alguns reais e outros completamente fakes geram um sentimento de nostalgia estranho, e o humor que só funciona pelo comprometimento da equipe e elenco faz essa loucura toda funcionar de uma forma que deveria ser proibido.
A história faz sentido total? Não. Existe alguma grande mensagem que vai te fazer refletir sobre algum tema? Também Não. Mas NADA DISTO IMPORTA e isto é MARAVILHOSO!
Não sei dizer se este é de fato o filme mais estranho do ano, já que o filme de Coppola já citado é realmente "ablue bleh das ideias", estaria mentindo se falar que este simpático filme aqui faz algum sentido ou é uma grande película que vai mudar a sua vida. Mas só por ter tanta ousadia, criatividade e criar talvez um dos maiores entretenimentos que eu já presenciei, acho que dá pra ver uma beleza singular aqui, e não estou sendo irônico.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
12. Jurado Nº 2 (Juror #2, Dir: Clint Eastwood)
Justin Kemp, um pai de família, atua como jurado em um julgamento de assassinato de alto nível, e se vê lutando contra um sério dilema moral - um dilema que ele poderia usar para influenciar o veredicto do júri.
Culpa, e uma espécie de redenção para figuras controversas e marginalizadas é um tema sempre presente na carreira de Clint Eastwood (Três Homens em Conflito, Menina de Ouro) como cineasta, principalmente nos seus últimos filmes. O lendário ator e cineasta nos presenteou com o que pode ser seu último filme, analisando o dilema de um homem bom que cometeu um grande pecado, e está tentando fazer o bem mesmo que isto custe a sua alma.
A cada minuto o cerco vai se fechando e as opções vão ficando escassas, e não tem como não ficar angustiado em saber o que vai acontecer. É um filme de tribunal clássico feito nos moldes das antigas que tem dilemas éticos e morais únicos, e o ritmo muito bem conduzido por Eastwood deixa a história bem mais palpável.
Com grandes interpretações de Nicholas Hoult (Mad Max: Estrada da Fúria, The Great) e Toni Collette (Entre Facas e Segredos, Hereditário), temos aqui uma prova cabal que mesmo aos seus 95 anos, Clint continua sendo um cineasta e artista de muito valor para o cinema. Se este será ou não seu último filme, ninguém sabe. Mas se mesmo nos seus últimos suspiros, ele nos presentear com outra obra, eu estarei presente na primeira fila (ou no conforto do meu sofá) para prestigia-lo.
O filme está disponível no catálogo da Max.
11. Conclave (Dir: Edward Berger)
O Cardeal Lawrence é encarregado de executar o processo secreto de escolha do novo sumo pontífice após a morte inesperada do amado Papa. Uma vez que os líderes mais poderosos da Igreja Católica se deslocaram de todas as partes do mundo e estão trancados nos salões do Vaticano, Lawrence encontra-se no centro de uma conspiração e descobre um segredo capaz de abalar a própria fundação da Igreja.
Quem poderia imaginar que a disputa para escolher o próximo Papa seria tão fascinante? Bem, o diretor alemão Edward Berger (Nada de Novo no Front, Your Honor) sabia muito bem como executar isto, e ele estava muito bem acompanhado de um elenco potente composto por Ralph Fiennes (O Grande Hotel Budapeste, O Menu), Stanley Tucci (O Diabo Veste Prada, Um Olhar do Paraíso), John Lithgow (Dexter, Uma Família de Outro Mundo), Isabella Rossellini (Veludo Azul, O Homem Duplicado) e outros.
Um thriller bem comandado e que te deixa fascinado do começo ao fim e principalmente pela visão da igreja e das maiores autoridades do catolicismo no mundo tendo que tomar decisões e agindo como figuras políticas sem pestanejar.
A questão da fé e religiosidade não é tão debatido quanto eu imaginava, com o grande foco sendo a instituição da igreja católica e todo os meandros que envolvem a votação. Ela até chega a ser importante na grande conclusão do filme, mas é curioso como isto quase nunca é importante para os personagens ou a votação.
No entanto, a maneira como eles chegam a conclusão de escolher quem é o próximo Papa é estúpida e beira uma infantilização de um mundo ideal onde as pessoas vão seguir uma pessoa altruísta com ideias genuinamente boas e não fascistas. Enfim, tirando este detalhe, temos um dos filmes mais divertidos e bem filmados do ano.
O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 23 de Janeiro.
10. Um Homem Diferente (A Different Man, Dir: Aaron Schimberg)
Um aspirante a ator passa por um procedimento médico radical para transformar sua aparência, mas esse tão sonhado novo rosto logo se transforma em pesadelo.
Histórias sobre a busca por uma identidade sempre me pegam, já que passamos um bom tempo tentando saber e entender quem realmente somos e qual é o nosso papel neste mundo.
Um homem que sente ser amaldiçoado pela sua aparência encontra uma forma de se tornar "normal", e abraça ela com força. Após conseguir êxito, o destino prega uma grande peça nele e coloca um homem diferente, mas com uma aparência igual a sua antiga na sua vida, e este homem rouba todos os holofotes e prova a ele que era capaz sim de atingir a felicidade.
Esta simples premissa joga Edward em uma poça de questionamentos pesados que o fazem enlouquecer e questionar mais do que nunca quem realmente é, sendo um estudo fascinante de personagem que gera um dos grandes filmes de 2024.
Sabia que Renate Reinsve (A Pior Pessoa do Mundo, Welcome to Norway) e Adam Pearson (Sob a Pele) iriam entregar grandes interpretações, já que eles são atores que mesmo com poucos papeis, já participaram de filmes incríveis. Porém a surpresa aqui é Sebastian Stan (Falcão e o Soldado Invernal, Pam & Tommy), que é um ator bem razoável mas que nunca se destacou em nada, mas carrega o filme com força e uma interpretação reveladora que o transforma em um ator convincente e com potencial futuro.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
9. Memórias de um Caracol (Memoir of a Snail, Dir: Adam Elliot)
Separada à força de seu irmão gêmeo quando eles ficam órfãos, uma desajustada garota melancólica aprende a encontrar confiança em si mesma em meio à confusão dos infortúnios da vida cotidiana.
Quando assisti "Mary e Max", o primeiro filme de animação do diretor Adam Elliot, não consegui gostar de quase nada, mesmo sendo uma animação em stop-motion bem aclamada. Acho que a visão de mundo um pouco niilista e depressiva demais apresentada não me impressionou e deixou tudo meio oblíquo e sem graça, parecendo um filme mais prepotente do que com conteúdo e temas para abordar.
Por isto, quando vi que seu novo filme depois de mais de 10 anos ia estrear em 2024, não dei muita bola ou criei qualquer expectativa. Da mesma forma que o seu primeiro filme, "Memórias de um Caracol" é uma grande fábula de uma tragédia humana, mas apresenta um olhar doce e esperançoso. Claro, ele ainda trabalha com temas pesados e a infelicidade da vida humana, mas aqui Elliot parece que sabe balancear as coisas e não cair em algo caricato.
Enquanto o filme avançava, me vi completamente conectado à esses personagens e a catarse emocional realmente me pegou forte. Apesar das desavenças da vida, o importante é seguir em frente e encontrar alguém que vai te dar o suporte necessário, mesmo que seja a pessoa mais estranha e improvável possível.
Emocionante, forte e provocador até o fim, eu suplico para que todos que estão lendo deem uma chance para esta linda animação. Ela me pegou bem mais do que eu achava que iria, e mesmo sendo um pouco manipulativa demais, sabe acertar nos lugares certos e vai me deixar pensando nela por uns bons anos.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
8. Dídi (Dir: Sean Wang)
Um garoto taiwanês americano de 13 anos descobre a patinação, o flerte e a verdadeira essência do amor maternal além dos ensinamentos da sua família.
Sou um apaixonado por coming of ages (ou histórias de amadurecimento), e temos aqui um fabuloso filme desta temática que é praticamente uma autobiografia da infância do diretor Sean Wang (Pessoas e Lugares Extraordinários: Vovó e Avó).
Chris, vivido muito bem por Izaac Wang (Raya e o Último Dragão, Bons Meninos) é um garoto falho como todos na sua idade. Ele está buscando se tornar popular, se dar bem nos estudos para agradar a família e se divertir com os amigos. Seu relacionamento com a família é lindo e realmente brilha no terço final do filme, principalmente com a sua mãe, interpretada pela veterana Joan Chen (O Juiz, Desejo e Perigo), que é uma caracterização bem real de uma mãe falha mas que ama o seu filho mais do que tudo.
O protagonista passa por dilemas que todos passamos na adolescência, mas com o diferencial do aspecto cultural de vir de uma família taiwanesa relativamente pobre e tem um uso bem interessante da internet do começo dos anos 2000. A funcionalidade dos vídeos, as conversas de chat e a obsessão por skates e gravar as manobras mostram que Chris já tinha uma paixão desde jovem por filmar e a arte de produzir filmes.
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
7. Ainda Estou Aqui (Dir: Walter Salles)
Uma mulher casada com um ex-político durante a ditadura militar no Brasil é obrigada a se reinventar e a traçar um novo destino para si e os filhos depois que a vida de sua família é impactada por um ato violento e arbitrário.
A história brasileira é trágica. A ditadura militar brasileira que matou, torturou e desapareceu com milhares de brasileiros foi o ato mais sombrio da nossa breve história como país e democracia. A adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva conta a vida de sua mãe, Eunice Paiva, durante o período da ditadura em que seu pai, Rubens Paiva, foi levado pelos militares e nunca mais retornou para casa.
O que é mais assustador neste filme de Walter Salles (Central do Brasil, Diários de Motocicleta), é que ele mantem até quase o fim um mistério e esperança de que Rubens esteja vivo e irá voltar para casa. Pode ser chocante para quem não conhece a história ou duvide dela, mas é muito bem retratado o horror que as pessoas captadas pelo exercito sofriam durante a época, assim como o desespero daqueles que permanecem.
É gratificante ver uma abordagem tão emocionante desta história sem qualquer medo de pisar em ovos, mostrando a visão daqueles que ficaram, lutaram e sofreram por aqueles que foram tomados de nós. O cinema brasileiro vive. Ele é incrível, e merece ser respeitado, amado e assistido por todos os brasileiros.
Fernanda Torres (Os Normais, Terra Estrangeira) é uma força da natureza que merece todo o prestigio mundial que está tendo, e Eunice Paiva é uma figura que merece ser eternizada como um símbolo da luta brasileira contra a ditadura e os milicos. E toda a garra que ela tem nunca suprimiu seu amor, felicidade que carregou durante toda a vida.
Entretanto, não morri completamente de amores por "Ainda Estou Aqui" como a maioria dos brasileiros, mas estaria mentindo se falasse que esse filme não me impactou emocionalmente no fim. E aquele final em específico, com uma breve cena da brilhante Fernanda Montenegro (O Auto da Compadecida, Central do Brasil) como a versão idosa de Eunice, no fim da vida, "recobrando seus sentidos" ao ver uma reportagem do marido, e gritando "Eu Ainda Estou Aqui" apenas com o olhar e sem dizer uma palavra é arrepiante. Viva o cinema nacional!
O filme não está disponível em nenhum serviço de streaming no momento.
6. Anora (Dir: Sean Baker)
O filme narra a história de Anora, uma jovem trabalhadora do sexo do Brooklyn, que ganha sua chance de viver uma história de Cinderella após conhecer e se casar com o filho de um oligarca. No entanto, seu conto de fadas se vê ameaçado quando a notícia chega à Rússia e os sogros da jovem embarcam para Nova York para anular o matrimônio.
Sean Baker (Projeto Florida, Red Rocket) tem uma espécie de hiperfoco em prostitutas e strippers que já viraram as grandes protagonistas de seus filmes. É bem discutível a sua abordagem em alguns casos, mas eu sinto que ele consegue humanizar estas figuras para além do sexo e da função de gerar prazer, tratando elas como seres humanos reais que são, com sentimentos, personalidades, sonhos e conflitos.
O que começa como um drama com romance e toques de comédia tem uma inversão durante o segundo ato que transforma o filme em algo caótico e sem freios, me lembrando algo na veia de "Joias Brutas". A quebra total com vários momentos cômicos e caóticos adiciona toda uma camada para o filme que eu não estava esperando, e foi a melhor decisão possível que Baker poderia ter tomado.
Mikey Madison (Pânico, Era Uma Vez em... Hollywood) encarna a protagonista com força e dá uma das grandes interpretações do ano, e faz de Ani uma personagem que não tem como você não amar e simpatizar.
"Anora" não só é um dos filmes mais divertidos do ano, como um dos mais devastadores, já que ele constrói esta personagem como alguém com uma personalidade única e que não fez nada de errado nesta história, o que torna o final tão real e triste.
O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 23 de Janeiro.
5. Look Back (Rukku Bakku, Dir: Kiyotaka Oshiyama)
A excessivamente confiante Fujino e a reclusa Kyomoto não poderiam ser mais diferentes, mas o amor por desenhar mangás une as duas garotas de uma cidade pequena.
"Fujino, por quê você desenha?"
Já era familiarizado com a obra original de Tatsuki Fujimoto (Chainsaw Man, Adeus, Eri), um dos mangakas mais proeminentes do Japão e queridinhos do público otaku. E quando vi que "Look Back", um de seus one-shots mais celebrados ia ganha uma adaptação no formato de um filme animado de 50/60 minutos, sabia que teríamos algo especial.
A parte visual é perfeita. Ela capta o estilo artístico de Fujimoto e adiciona uma personalidade própria que faz ser um dos filmes animados mais belos do ano. Tem uma cena em particular, de Fujino correndo na chuva, que é tão simbólica e visualmente impactante que te inspira a querer criar arte.
Em 50 minutos o filme é capaz de nos mostrar o início e fim de uma amizade de duas garotas conectadas pelo seu amor pela arte de forma linda e emocionante, sendo impossível você não se emocionar em algum momento.
Entre a perda, a culpa e o que nos motiva a seguir em frente, o questionamento do que poderíamos ter feito para mudar o passado e o por quê um artista desenha e cria algo, "Look Back" é um frescor para quem procura originalidade e grandes histórias contadas em um curto espaço de tempo. Olhar para atrás e observar o passado pode ressignificar o motivo para seguir em frente.
O filme está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
4. A Substância (The Substance, Dir: Coralie Fargeat)
Elizabeth Sparkle é uma grande atriz cuja idade a relegou a um programa fitness na TV. Ao ser demitida, ela recebe a oferta de um teste do tratamento médico que promete uma versão melhor e mais jovem de si mesma através de um processo de replicação celular.
Um dos fenômenos culturais do cinema em 2024. Já falei muito deste filme aqui no ano, então não queria me alongar muito.
A diretora Coralie Fargeat (Vingança, The Sandman) entrega um dos horrores mais surreais dos últimos tempos, que é um comentário pertinente sobre o "prazo de validade" das mulheres na indústria, a busca pela perfeição e glória, e o descarte iminente que todas elas sofrerão com o tempo.
O aspecto body horror é elevado a décima potência, com uma mistura de maquiagem, efeitos práticos e cgi que criam algumas das imagens mais insanas do cinema, a cada minuto apresentando coisas mais malucas, diferentes e grotescas.
Com um conceito completamente surreal, designe de produção impecável, direção criativa e roteiro afiado, Demi Moore (Ghost - Do Outro Lado da Vida, Até o Limite da Honra), Margaret Qualley (Era Uma Vez em... Hollywood, Criada) e Dennis Quaid (Longe do Paraíso, O Dia Depois de Amanhã) entregam as melhores interpretações de suas carreiras em um dos filmes mais malucos e surpreendentes que eu já vi.
Disponível no catálogo da Mubi, leia a nossa crítica do filme clicando aqui.
3. Furiosa: Uma Saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga, Dir: George Miller)
A jovem Furiosa, sequestrada de seu lar, o Lugar Verde de Muitas Mães, por uma grande horda de motoqueiros liderada pelo senhor da guerra Dementus. Cruzando Wasteland, eles alcançam a Cidadela, dominada pelo Immortan Joe. Enquanto os dois tiranos disputam o domínio, Furiosa se vê envolvida em uma batalha incessante para retornar ao seu lar.
"Está é a odisséia dela. Lembre-se dela".
"Mad Max: Estrada da Fúria" obliterou a todos entregando um dos melhores blockbusters de todos os tempos. O que o diretor George Miller (Mad Max, Happy Feet), o grande pai desta franquia, fez em 2014 é sem precedente, onde ele basicamente revolucionou o cinema e nos deu uma obra-prima que só melhora a cada reassistida.
Estramos de volta ao universo de Mad Max, mas pela primeira vez sem acompanhar uma aventura de Max. A jovem Furiosa busca vingança e um caminho para casa, entrando na odisséia que iria arrastar a sua vida até os eventos de Estrada da Fúria.
Anya Taylor-Joy (O Gambito da Rainha, A Bruxa) encarna a versão jovem de Furiosa, e com poucas palavras e um olhar matador, traz toda a bagagem, tristeza, fúria e poder que esta personagem explendida tem. Mas quem rouba o show é o vilão Dementus, que tem não só a melhor interpretação da carreira de Chris Hemsworth (Thor: Ragnarok, Resgate), mas como é um dos vilões do ano. Dementus é patético, covarde, manipulador e representa o completo desespero que este mundo de Mad Max traz, já que ele foi quebrado por ele.
Miller pode não ter superado a magnitude do que é Estrada da Fúria, mas isto era uma tarefa tão ingrata quanto escalar uma montanha sem os braços e pernas. Ainda assim, é uma aventura como a gente vê pouco, cheia de momentos eletrizantes, um visual arrebatador, e um prequel que consegue ressignificar várias coisas do filme original. Uma obra de arte injustiçada que será lembrada e revista com bons olhos.
Disponível no catálogo da Max, leia a nossa crítica do filme clicando aqui.
2. Haikyuu!! A Batalha do Lixão (Gekijôban Haikyuu!! Gomi Suteba no Kessen, Dir: Susumu Mitsunaka)
Kenma Kozume nunca considerou o vôlei divertido ou emocionante: é apenas algo em que ele é bom. Mas agora o time de vôlei da Nekoma High School se classificou para o Spring Nationals e se prepara para lutar contra seus rivais de longa data — Karasuno. Agora, Kenma tem que analisar o time mais confuso e resiliente e levar Nekoma à vitória contra eles. Além disso, ele jogará contra seu amigo Shouyou Hinata, o baixo, mas incrivelmente proficiente bloqueador central de Karasuno. Karasuno nunca foi capaz de vencer Nekoma em partidas de treino. Mesmo assim, apesar de sua indiferença habitual, Kenma sente um toque de excitação com a perspectiva de enfrentar Karasuno em um jogo oficial de alto risco sem reprises. Para avançar para as semifinais e, finalmente, restaurar a antiga glória de seu time, Karasuno deve encontrar uma maneira de superar a estratégia brilhante de Kenma e derrotar Nekoma em seu próprio território.
Surpreendente, não é mesmo?? Bem, pra quem me conhece talvez não.
Apesar de ser um aficionado por "Haikyuu!", um mangá de esportes de vôlei bem popular no Japão, nunca li o mangá completo e restrinjo a minha experiência ao anime. E como o mangá já foi encerrado, o estúdio e produtores decidiram adaptar os últimos jogos no formato de múltiplos filmes.
Sendo o primeiro filme, ele aborda o jogo da Karasuno contra a Nekoma, um time que está presente desde o começo da história e antigamente eram os grandes rivais deles. Sendo capaz de finalmente recriar a famosa "batalha do lixão", um jogo emocionante imprevisível e que representa mais do que tudo a camaradagem, afeição e admiração que os dois times tem um pelo outro, tornando esta partida única.
O jogo é bem centrado em Kenma, que sempre foi um personagem mais focado na parte estratégica e nunca mostrou tanto amor pelo esporte. Apesar de se cansar, ele finalmente consegue encontrar a felicidade com o esporte e se mostra agradecido por poder ter jogado com todos, desejando que esses momentos nunca acabassem.
Haikyuu é uma história genuína que sabe trabalhar como poucos seus personagens. Aqui os pequenos momentos de personagens e arcos fechados trazem alegria e emoção para o coração dos fãs. O momento em que Tsukishima dá um sorriso e diz que acha vôlei um esporte divertido, Hinata se supera e consegue quebrar o bloqueio ao "voar" e os treinadores com sorriso nos rostos finalmente vivenciando um novo jogo entre os dois times é de fazer derrubar lágrimas.
A animação continua inacreditável embora o ritmo do filme seja acelerado para conseguir adaptar todo o jogo em apenas um filme. E o plano sequência em primeira pessoa do Kenma é uma das coisas mais impressionantes que eu já vi em uma animação.
Com os olhos marejados no final, todos (incluindo eu) se emocionaram de poder ter um jogo tão incrível . Não sei como vão adaptar os próximos jogos, que são tão emocionantes quanto este. Mas sei que estarei na primeira fila do cinema quando eles forem lançados.
O filme está disponível no catálogo da Crunchyroll.
1. Duna: Parte 2 (Dune: Part 2, Dir: Denis Villeneuve)
Paul Atreides se une a Chani e aos Fremen enquanto busca vingança contra os conspiradores que destruíram sua família. Enfrentando uma escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo, ele deve evitar um futuro terrível que só ele pode prever.
Quem me conhece sabe que dificilmente seria outra coisa. Eu sou um grande fã do universo de Duna e da obra de Frank Herbert, sendo um dos únicos livros que eu li por pura e espontânea vontade na adolescência. A primeira parte desta nova adaptação comandada por Denis Villeneuve (Blade Runner 2049, A Chegada) foi magnifica, e demonstrou que ele realmente conseguiu o impossível e transpôs para as telas esse épico sem escalas da melhor forma.
Já este segundo filme, que adapta o resto do primeiro livro, não só entende esses personagens por completo, mas o que Herbert queria alcançar realmente com Duna. A jornada linda de Paul e Chani que se transforma em uma tragédia sem fim, com Paul optando em se tornar uma figura sombria, um messias e um genocida, só para alcançar a sua tão sonhada vingança. Tudo isto regado a uma cinematografia linda, uma trilha sonora, efeitos especiais, escala épica, mixagem de som, atuações e construção de universo que estava realmente faltando no cinema blockbuster americano recente.
É realmente inacreditável dizer que vivemos para ver uma adaptação tão perfeita de um livro como "Duna", e que seja uma adaptação que mesmo fazendo algumas pequenas alterações e cortes, capte tão bem as mensagens importantes e relevantes desta obra.
Disponível no catálogo da Max, leia a nossa crítica do filme clicando aqui.
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E que 2025 tenha tantos filmes bons e memoráveis quanto 2024!
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