Kristen Stewart e Katy O'Brian são um casal em thriller de romance que esbanja estilo e é um dos melhores filmes de gênero dos últimos anos
O amor é brutal e impiedoso em Love Lies Bleeding; temos aí um thriller de romance que não reinventa a roda, mas que entrega mais do que promete. É interesse notar em como a percepção de um filme é criada antes mesmo de assisti-lo, a preconcepção sendo construída através dos trailers, sinopses e dos gêneros do filme. Ao ver o pôster principal do longa — aquele com a Katy O'Brian de biquíni, demonstrando seu físico impressivo e segurando uma pistola — que possui uma energia massaveio, mas que não deixa de ser visualmente chamativo, me passou a ideia de uma saga de crime slowburn, bem na veia dos filmes de autor do Nicolas Winding Refn com sua ultraviolência e glamour e expressionismo, e no final o que vejo é um filme de gênero (e que não tem vergonha de ser um filme de gênero) deliberadamente camp, esteticamente similar aos romances pulp vendidos em aeroportos, só que com twists e mais twists e camadas e mais camadas, surreal em momentos e na medida certa, protagonizado por um casal sáfico, tipo Ligadas pelo Desejo (1996) das Irmãs Wachowski.
Kristen Stewart e Katy O'Brian inclusive possuem tanta química que o romance não apenas parece completamente natural mas também me deixou perguntando se as duas não tiveram realmente um caso fora das câmeras; muito é dito nos olhares da Stewart, não só desejo como também o amor, esses olhares tornando inútil falas da personagem como "eu te amo", o que não precisaria ser verbalizado se não fosse o contexto das cenas cuja falas assim aparecem porquê isso já fica bastante óbvio através da ótima atuação da Stewart. O'Brian não fica muito atrás da sua co-protagonista e entrega uma performance convincente, principalmente nas cenas em que sua personagem fica paranoica; a paranoia sendo o efeito colateral dos esteroides anabolizantes que ela constantemente aplica em si mesma.
Rose Glass, diretora e co-roteirista, consegue se manter um passo a frente do espectador e toma decisões criativas corajosas, com a metade final do filme ficando gradualmente mais bizarro, tornando a narrativa imprevisível (não que isso seja intrinsicamente uma qualidade ou um defeito); às vezes isso nem sempre dá certo, há momentos que destoam e muito do tom previamente estabelecido, havendo uma quebra na verossimilitude, no entanto o roteiro consegue adaptar-se bem e as mudanças ficam mais naturais, mas sem perder o impacto das reviravoltas. Também é preciso elogiar o rigor temático, há alguns deslizes nas caracterizações (o personagem do Dave Franco por exemplo, acaba se tornando nada mais do que uma caricatura), mas Glass consegue balancear bem os personagens e dar tons de cinza quando se é necessário; temos aqui um retrato bem cínico do amor e de dinâmicas de poder. "Nunca se apaixone, ok? Isso machuca." Uma personagem tenta salvar sua irmã de um relacionamento abusivo relacionamento esse que a irmão não enxerga como abusivo só para no final acabar continuando o ciclo de violência com a coitada, seguido de um "te amo, irmã." Os sacrifícios são muitos e no final você muda, nem sempre para melhor.
Love Lies Bleeding é uma montanha-russa de emoções, um filme que sabe subverter expectativas sem trair a si mesmo, provando que um projeto não precisa da proposta mais original e sim da execução mais criativa.
Nota: 9
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