O asterisco é comumente utilizado em textos para sinalizar a existência de notas de rodapé explicando termos, nomes ou passagens. Sua existência tão dissonante no título de “Thunderbolts*” trouxe uma dúvida “excruciante” (Se você quiser ser tão dramático quanto um fã da Marvel): ‘Por quê?’

    Não é como se a Marvel vivesse um momento turbulento de verdade. A “Casa das Ideias” vem mantendo a mesma qualidade de produções desde 2008 (O que não é exatamente um elogio), mesmo que alguns tentem negar. O dinheiro entra e sempre vai entrar, PRINCIPALMENTE quando você pode contar que todos os filmes vão ter um cameo,  que será engolido com uma salva de palmas. Mas dessa vez tem o crescimento de uma sensação vinda desde WandaVision, que se espalha  por toda essa confusa saga multiversal, a de que o “MCU” está meio perdido. Então para tentar entender um pouco disso e também responder a pergunta inicial, vamos entrar fundo em THUNDERBOTLS*.



Após anos desde os eventos de Viúva Negra (Filme que admito não ter visto), revemos Yelena Belova (Florence Pugh), agora trabalhando como mercenária particular, tentando lidar com a morte de sua irmã Natasha Romanoff, a Viúva Negra (Scarlett Johansson). Mergulhada desde sempre numa vida que nunca teve escolha, estes últimos eventos traumáticos fizeram a personagem encontra-se em uma sensação ainda maior e constante de  VAZIO. Em sua primeira parte, o filme faz um trabalho de re-(introduzir) Yelena, deixando de cara seu papel como a figura central. Desde o monólogo inicial até o reencontro com Alexei, vamos sendo introduzidos a essa ressaca emocional, criando uma relação mais íntima do espectador com a ex-Viúva, que aparenta encontrar as respostas nos delírios de heroísmo do antigo Guardião Vermelho, e tenta resolver essas questões com sua atual chefe: Valentina Allegra de Fontaine.

A “Condessa” retorna tendo seu envolvimento em diversos projetos secretos investigados pelo governo, e entre um dos seus principais “oponentes” políticos temos o mais novo senador Bucky Barnes. Para se safar, ela manda Belova realizar diversas queimas de arquivo. Apresentada em O Falcão e o Soldado Invernal, quase 4 anos atrás, a personagem finalmente tem uma chance maior de brilhar, mostrando muito mais da personalidade manipuladora, propulsionada pela atuação suave de Julia Louis-Dreyfus, que traz um humor sutil no jeito de agir, como na cena em que ela tenta escolher o seu melhor visual de mãe acolhedora, ou na cena final.

Ao ser levada para sua última missão, Yelena então percebe que não é a única que esteve “lavando a roupa” suja de Valentina. Num dos poucos momentos de ação mais duradouros, vamos sendo de pouco em pouco re-introduzidos às habilidades e personalidades do Agente Americano (Wyatt Russel), da Fantasma (Hannah John-Kamen) e da Treinadora (Olga Kurylenka).

Antes de comentarmos sobre o resto, acho melhor então começar tirando o elefante da sala… A maioria das pessoas já vinham apontando isso no material promocional, mas havia uma grande escassez da presença da Treinadora e do rosto da atriz. Isso no filme é obviamente justificado com a morte estupidamente precoce da personagem. Não é como se eu realmente gostasse dela, adaptação ou qualquer coisa assim (Como eu disse acima, nem Viúva Negra eu assisti), mas o tratamento dado para este “problema”, é o mais covarde, especialmente levando em conta que a personagem poderia só não estar presente.


O tratamento de seus "protagonistas" na verdade é um ponto muito importante que me fez ver Thunderbolts* como uma simples colcha de retalho de pontas soltas, o que faz ele ser bem medíocre como um filme de equipe. Walker é bem representativo disso. No começo, vemos um pouco da dinâmica conturbada entre ele e Yelena (e Bob), e até uma tentativa de explorar um pouco da vida do personagem desde a sua última aparição. Já a presença de Ava é quase nula, pois sua importância tange apenas os momentos em que suas habilidades são necessárias. Servindo como o alívio cômico bem escrachado, eu gosto do David Harbour como Guardião Vermelho, mas é difícil ver sua presença como algo diferente de uma simples extensão do arco de Belova. E o Bucky é mais uma credencial para o time, com o bônus de um ator sempre disposto à voltar. Num filme que tem como clímax os personagens num momento de união emocional não conseguiu convencer que esses personagens realmente estariam conectados.


A verdade é que o filme fica agudamente focado na relação de Yelena com Bob, entretanto nisso ele trabalha muito bem. Vivido por Lewis Pullman, o personagem é introduzido logo após a morte de Treinadora, "caindo de paraquedas", na dinâmica daqueles "super-agentes", mas Pullman faz um ótimo trabalho na persona vulnerável de Bob, também possuindo ótimo timing cômico, conseguindo contrastar com a arrogância posterior do Sentinela, e finalmente na apatia e presunção do Vácuo, presente como o real antagonista, sendo uma a personificação perfeita dos temas do filme sobre solidão e trauma, especialmente quando levamos em conta o visual simples mais eficaz.


Tecnicamente, a direção de Jason Scheier segue naquele padrão do MCU, não muito animadora. Parece que o filme compromete-se demais em seguir uma linha regulamentar em seu estilo, e perde um pouco a chance de ter uma personalidade, especialmente quando você tem ideias visuais que poderiam ser mais exploradas, como as Sombras do Vácuo. . Esse combo direção com a fotografia pálida, bem notável durante as cenas em Nova York, acaba por tirar um pouco do peso das cenas presentes nos momentos de maior clímax devido a esterilidade visual.


Mesmo que eu ache, Thunderbolts* substancialmente melhor que certas das últimas produções da Marvel e conseguia construir uma história emocional minimamente envolvente (entre Yelena e Bob), ele peca em ser um filme de time, e escanteia um pouco seus outros personagens dentro de uma narrativa que tinha todo um direcionamento para explorar mais afundo traumas e inseguranças, além de esteticamente limitar-se muito, mantendo uma palidez comum dos filmes feitos para o MCU.



NOTA: 6.5


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