Em um ano dominado por filmes de terror, “Juntos” acaba sendo derivativo, mesmo provando que o horror corporal se tornou pop.

Gostaríamos de agradecer a Diamond Films por convidarem a gente para assistir o filme na cabine de imprensa. O filme chega aos cinemas brasileiros amanhã (14/08).

A mudança de um casal para o campo desencadeia um incidente sobrenatural que altera drasticamente seu relacionamento, existência e forma física.

Relacionamentos são sempre complexos. Seja na família, amigos, ou amorosos. E quando duas pessoas estão juntas a tanto tempo, mas o amor meio que desapareceu, e mesmo assim elas continuam juntas sem nem mesmo se lembrar o porquê? Esses questionamentos são feitos pelo diretor, que mistura isso com um terror corporal (o famoso body horror) para criar essa história.

Terror Corporal é algo que voltou a ser moda no cinema nos últimos anos, com “A Substância”, o premiado terror de 2024 que chegou a ter indicações ao Oscar, catapultando mais ainda esse tipo de abordagem dentro do terror. Com A Substância e agora “Juntos”, fica bem evidente que o subgênero se tornou pop, e muitos que tinham desdém dele começaram a abraçá-lo. 

Em um ano onde os melhores filmes até agora são do gênero de terror (“Pecadores”, “Extermínio: A Evolução”, “Faça Ela Voltar” e “A Hora do Mal”), “Juntos” parece um pouco derivativo e com uma sensação de “mais do mesmo”. Ele consegue atingir uma personalidade própria pra se distinguir de terrores baratos ou fajutos que temos todos os anos, mas não o suficiente para concorrer com os “grandes cachorros” citados acima.

O que faz ele ter uma identidade é de fato a sua temática, que ele estabelece e não tem medo de se aprofundar para discutir as coisas até o fim. Enquanto Millie (Alison Brie) tem um emprego estável, sabe dirigir e tem uma responsabilidade maior, Tim (Dave Franco), é um homem de 35 anos que ainda sonha em ser um rockstar, com uma banda amadora que leva como “trabalho”. Os dois acabam se complementando e discutindo o relacionamento de uma forma real e bem sensível, e até quando o amor é tomado por uma obrigação civil imposta pela sociedade.

O terror corporal do filme em si é extremamente bem feito, focando mais em cenas onde os corpos do cal começam a grudar um no outro, como se tivessem usado uma cola. Em cenas onde eles se atraem, tem momentos em que seus corpos se contorcem e parecem que estão possuídos, com cenas dignas de algo da franquia “O Exorcista”.

Uma surpresa pra mim foi o filme abraçar tantos elementos e momentos de comédia, que em algumas horas são tão deslocadas e surpreendentes que acabou sendo um detalhe excelente, dando mais personalidade ainda pra essa história. Apesar da surpresa, isso não é algo incomum, já que vários filmes do gênero utilizam comédia, até nos mais sérios. Isso é um recurso que poucos cineastas sabem adicionar ao terror, mas que traz muito mais humanidade e normalidade para as histórias, e aqui todas as piadas funcionam.

A dupla principal (que é praticamente todo o destaque do filme) se beneficia muito de ter um casal da vida real vivendo esses dois personagens em específico. Alison Brie (Community, Bela Vingança) e Dave Franco (Anjos da Lei, Truque de Mestre) já se solidificaram na área da comédia, e vendem bem todas as cenas engraçadas do filme, assim como os dramas e principalmente química que os personagens precisam ter. A cena final, envolvendo a dança, é surpreendentemente linda e emocional, e dá pra ver que muito dessa dinâmica deles é assertiva por estarem em um relacionamento na vida real.

A direção é do estreante Michael Shanks, que assina os roteiros e curiosamente tinha uma carreira como youtuber antes de se tornar diretor. Shanks utiliza poucos cenários para contar sua história, e para um trabalho de um “estreante”, sabe conduzir muito bem o filme e o seu elenco. Embora não no mesmo nível, me lembrou os trabalhos iniciais do cineasta Ari Aster, principalmente em “Hereditário”, que constrói um horror desconfortante e utilizando muito bem o ambiente calmo e vazio.

Falando no terror, o filme utiliza alguns jumpscares para dar o famoso susto no espectador, e apesar de serem eficientes, não agregam lá muito para a produção. As criaturas que aparecem brevemente e maquiagem no entanto são bem efetivos e te convence de que de fato aquilo é real.

O ritmo do filme é de longe uma das coisas mais “gostosas” do longa, com o clima de tensão constante, ângulos provocadores e o mistério (que mesmo se tornando um pouco previsível no fim) se desenrola de uma maneira que te gruda (ha!) na cadeira. É uma experiência divertidíssima assistir no cinema com uma plateia (ou em casa com os amigos).

O final é algo que provavelmente vai dividir as pessoas e fazer muita gente desgostar do filme como um todo, principalmente o último frame. Mas a conclusão apesar de divisiva é extremamente satisfatória, consagrando o filme quase como uma fábula macabra sobre amor e relacionamentos.

Apesar de não revolucionar ou trazer algo realmente único, “Juntos” já pode ser considerado um clássico terror corporal. Com uma atmosfera sinistra que te deixa sempre curioso com o que vai acontecer, personagens e atuações cativantes, é mais um terror de 2025 que merece ser visto, de preferência junto de uma pessoa querida.

Nota: 7

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