Glen Powell estrela uma grande comédia de Richard Linklater sobre até onde estamos dispostos a ir para fingirmos ser o que não somos.
Gostaria de agradecer a Diamond Films por convidar a gente para assistir o filme na cabine de imprensa. O filme estará em cartaz nos cinemas brasileiros a partir do dia 12 de Junho.
Gary Johnson é um professor que trabalha para a polícia e finge ser um assassino de aluguel para prender aqueles que o contratam. Um dia ele quebra o protocolo para salvar uma mulher desesperada que tenta fugir de um namorado abusivo.
Um dos diretores ainda em atuação que eu mais respeito e adoro é Richard Linklater (Boyhood: Da Infância à Juventude, Acordar Para a Vida). Não só ele entregou a “Trilogia Before”, uma das melhores trilogias de todos os tempos, mas todo filme seu é no mínimo interessante de se ver, já que ele tem um estilo único e algo a dizer. Então quando eu vi que ele ia dirigir e escrever esse filme, junto do ator Glen Powell (Top Gun: Maverick, Todos Menos Você) inclusive, baseado nessa história real bizarra, não tinha como não me empolgar.
A história é bem simples e bizarra: acompanhamos a narração deste professor desajustado e pouco respeitado (Glen Powell) que também trabalha nas horas vagas em uma divisão bem específica da polícia onde ajuda a capturar pessoas que contratam assassinos profissionais para planejar um assassinato. Após um problema, ele se vê no posto do assassino falso, e se mostra muito bom nessa posição de enganador.
É sempre complicado pensar sobre quem somos e comparar com o que queriamos ser. As vidas monótonas que levamos podem trazer o sentimento de insatisfação e frustração, fingimos ser aqueles que queremos ser em vários momentos, seja na internet criando essa falsos personagens ou em uma mesa de bar inventando todo tipo de história e traço de personalidade completamente oposta a nossa. Porém o que acontece quando essas coisas escalam além do esperado? É exatamente isso que o filme aborda e de uma maneira simples e eficiente.
Humor é algo bem subjetivo então não é garantido que o tipo de abordagem adotada aqui vai funcionar com todo mundo. Dito isto, estaria mentindo se dissesse que não esbocei um sorriso ou até dei risada com algumas cenas e piadas contadas. O timing cômico de todo mundo aqui está mais afiado que uma espada, e as atuações carismáticas do elenco fazem cada momento valer. Fazia tempo em que uma comédia não me pegava tanto.
Um dos melhores elementos (e que eu mais aprecio hoje em dia em um filme) é a capacidade maestral com que Linklater comanda o filme e o ritmo que ele impõe. Ele tem total controle da narrativa ao ponto que sabe o momento exato de transitar da comédia para o drama, e sempre consegue encaixar algo interessante que não deixa o espectador se perder ou gerar um cansaço. Mais um grande trabalho deste que é um dos cineastas mais autênticos de todos os tempos, que nunca se vendeu ou deixou de fazer o tipo de filme que reside em seu espírito.
Tem ocorrido muitos debates recentemente se Glen Powell realmente ascendeu ao status de “Movie Star”, já que no último ano ele vêm conquistando grandes papéis em produções esperadas e até mesmo escolhendo o que quer fazer. Nunca tive apreço a ele como um ator em si, mas em “Assassino ao Acaso” ele me convenceu de que não só é um ator mais do que competente, mas multifacetado.
Gary em si é um personagem instigante que é aquele cara comum que não se destaca ou sabe cativar as pessoas em conversas e está sempre sendo alvo de piadas por isso. Powell convence muito como esse cara, o que é impressionante visto a sua personalidade alegre na vida real e cara “socável” de malandro. E ver ele mudando completamente a chavinha para se tornar esses assassinos falsos com personalidades diferentes (mas sempre mantendo o nível de humor do filme) é o grande ponto alto de toda a produção.
Já a atriz Adria Arjona (Andor, Morbius) é um caso interessante, pois ela serve não só como um interesse amoroso do personagem, mas o grande motivo da sua evolução e vontade de se tornar aquilo que ele finge ser. Além é claro de ser o que faz todos os dramas e desdobramentos acontecerem. Arjona não é uma atriz que morro de amores também, ams tem conquistado Hollywood com papéis bem interessantes (Andor, Irma Veep, True Detective) e outros nem tanto (Morbius, Esquadrão 6), mas a sensualidade natural que ela emana é impressionante e crucial para a sua personagem.
Essa sensualidade que o filme traz é inclusive algo interessante não só pelas pesquisas onde apontam que parte da geração z tem aversão de cenas de sexo em filmes e séries, mas pelas declarações recentes do diretor repudiando esse comportamento. É claro que ele não colocou várias cenas de sexo entre os protagonistas para irritar as pessoas ou contrariar as pesquisas (já que o filme foi gravado a muito tempo), mas não deixa de ser uma resposta para isso tudo provando que esse tipo de cena sim tem algo a agregar para a trama e construção de personagens.
O resto do elenco de suporte tem personagens bons bem caricatos, mas que cumprem bem os seus propósitos e sempre agregam com cenas divertidas e performances cativantes. Os destaques ficam para Austin Amelio (The Walking Dead, Jovens, Loucos e Mais Rebeldes), Retta (Parks and Recreation, Good Girls) e Sanjay Rao (A Comissária de Bordo).
E se a direção de Linklater é boa, sinto que falta uma espécie de ambição técnica no resto do filme em contrapartida. A maquiagem e trabalho de figurino é essencial e muito competente para a construção não só dos disfarces do protagonista, mas as roupas que os personagens usam diz muito sobre eles. E tirando isso, acho que o resto da parte técnica deixa muito a desejar, principalmente a fotografia e trilha sonora (e uma produção como essa e com essa trama grita por uma trilha minimamente inspirada).
Existe só uma mudança repentina na personalidade do protagonista que o transforma em uma pessoa completamente diferente só para se encaixar no rumo que a história estava tomando. Linklater constrói bem Gary durante o filme todo e vemos sim ele mudando como pessoa, mas é dado um salto pouco natural tão grande nos últimos minutos que chega a causar um estranhamento.
Como um grande fã da filmografia de Linklater, não tinha como não ficar empolgado assistindo “Assassino por Acaso”. Está longe de ser o seu melhor filme, mas todas as características de suas obras estão presentes aqui, e somada ao ritmo, premissa e carisma sem fim do elenco, temos uma das grandes comédias dos últimos anos, sendo diversão garantida para (quase) todos os públicos.
Nota: 8
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