A jornada de vingança mais épica, profunda, insana e maravilhosa que só George Miller e Mad Max poderiam entregar.
À medida que o mundo cai, a jovem Furiosa é arrebatada do Vale Verde das Muitas Mães e cai nas mãos de uma grande Horda de Motoqueiros liderada pelo Senhor da Guerra Dementus. Varrendo a Terra Desolada, eles se separaram com a Cidadela presidida por Immortan Joe. Enquanto os dois tiram o domínio, Furiosa deve prosseguir para muitas disputas enquanto encontram os meios a caminho de casa.
Mad Max é uma franquia bem… específica. Tendo filmes sendo feitos desde os anos 70, ninguém dava nada para a reformulação dessa franquia criada e capitaneada por George Miller (Happy Feet: O Pingüim, Era Uma Vez um Gênio) que aconteceu em 2015, que acabou chocando todos e entregando um dos melhores filmes de ação de todos os tempos: “Mad Max: Estrada da Fúria”.
Miller e a sua equipe sabiam que não só tinham ouro em suas mãos, mas a personagem Furiosa, vivida naquele filme magistralmente pela atriz Charlize Theron (Velozes e Furiosos 10, The Old Guard), tinha muito estofo para render um derivado próprio. E assim o cineasta desenvolveu os dois projetos juntos, mas só conseguiu fazer o prequel focado na personagem sair do papel anos depois por conta de problemas envolvendo sua relação com a Warner Bros.
O que eu mais estava curioso com este filme era como Miller ia expandir mais esse universo rico de Mad Max depois dessa reformulação. Um dos meus maiores medos era ser um pastiche de tudo que vimos em Estrada da Fúria, mas ele sabe mesclar coisas antigas com novos conceitos e bizarrices que só poderiam sair da cabeça de um gênio perturbado. A caverna da velha que cultiva larvas é um bom exemplo do que estou dizendo, quem viu sabe muito bem.
O filme adota uma estrutura interessante de fragmentação em seis capítulos. Isso acaba dando uma esfriada no ritmo do filme, que embora traga um respiro pra história, serve como uma faca de dois gumes e dá uma enfraquecida leve na narrativa em alguns momentos que deixa o filme maçante. Mas nada que chegue a estragar a experiência ou grandiosidade do que está sendo apresentado.
A abertura (excelente e forte por sinal) mostra a jovem Furiosa, interpretada pela atriz mirim Alyla Browne (Nove Desconhecidos, Sting: Aranha Assassina), que dá um show, sendo raptada por uma gangue assustadora que parece ser composta por assassinos de terror de filmes slashers. Sua mãe (Charlee Fraser) falha ao salvá-la, ela se torna uma escrava e filha postiça de Dementus (Chris Hemsworth) e passa o resto da vida tentando escapar, voltar para casa e se vingar de seu captor.
Anya Taylor-Joy (O Gambito da Rainha, A Bruxa) dá vida aqui a personagem Furiosa por boa parte do filme. Ela obviamente não consegue entregar a mesma performance forte de Theron e até acho que está longe de ser o seu melhor papel, mas ela aproveita muito bem a sua falta de diálogos para trazer sua expressividade e fúria para a tela. Inclusive, a falta de diálogos da personagem é mais uma sacada de gênio de Miller, já que até isso tem uma função narrativa para a história.
Mas diria que um dos grandes destaques do filme é o vilão Dementus, interpretado pelo ator Chris Hemsworth (Thor: Ragnarok, Resgate) que entrega a melhor performance de sua carreira. Ele tem esse visual estranho (muito por conta do nariz falso) e surge como uma figura messiânica séria, mas logo vai sendo desconstruído como um cara patético e bonachão, mas sem perder a pompa ou deixar de cometer atrocidades. Não tem como não odiar esse vilão, ao mesmo tempo que simpatizamos com ele e até sentimos dó quando revela detalhes de seu passado. Um dos personagens que mais retrata bem o universo de Mad Max, roubando todas as cenas em que está.
O resto dos personagens tem um bom tempo de tela e complementam bem a trama do filme. É legal ver o retorno de Immortan Joe, um vilão tão icônico desta vez, mais jovem e tão ameaçador quanto, assim como a sua gangue sanguinária bizarra de fanáticos. A mãe de Furiosa, vivida pela atriz Charlee Fraser (Todos Menos Você) também dá um show quando aparece, sendo tão feroz e destemida quanto a filha. Mas o personagem que mais causou impacto é Praetorian Jack, um capanga de Immortan Joe interpretado por Tom Burke (Só Deus Perdoa, Mank), que serve como um mentor e interesse amoroso de Furiosa, com uma presença sinistra e um destino trágico sem igual.
George Miller continua afiado na direção e não decepciona em nenhum aspecto. Por ser o pai dessa franquia ele domina esse mundo como ninguém, sabe a hora de pisar fundo no acelerador, filmar perseguições e cenas de carro como ninguém, e transformar aquele deserto em um personagem vivo. Mais do que ninguém, ele sabe o momento de parar e deixar o filme e o espectador respirar, cortando a música e qualquer som ambiente. Um mestre da direção que aos oitenta anos tem energia pra dar e vender.
Muito se reclamou durante os trailers dos “efeitos especiais inacabados”, mas tirando uma ou outra ceninha a tela verde é pouco perceptível (pelo menos pra mim), e o uso de efeitos práticos e acrobacias insanas continuam bem presentes na produção. Se tem um aspecto do filme que eu não gosto na parte técnica é a trilha sonora de Tom Holkenborg (Mad Max: Estrada da Fúria, Batman vs Superman: A Origem da Justiça), que tem seus momentos mas não agrega muito ao grande esquema do filme ou a epicidade que ele pede.
As cenas de ação não são impactantes ou de cair o queixo como em Estrada da Fúria (acho que já ficou claro que esse filme não é um Estrada da Fúria, né?), mas é claro que o velho George não ia deixar de fazer cenas de ação que ainda te deixa eufórico e simplesmente não param de te surpreender, sendo melhores que quase tudo que estamos acostumados a ver em blockbusters desse tipo.
“Você tem a habilidade para fazer com que isso seja épico?”. Essa é uma frase dita durante um dos trailers que mais ficou presa na minha cabeça, pois além de ser inegavelmente legal e trazer aquele arrepio na espinha, qual seria o contexto dela no filme?? Quando ela é jogada nos últimos minutos do filme, serviu pra fechar com chave de ouro os arcos de Dementus e Furiosa.
Graças a Deus (também conhecido como George Miller), “Furiosa: Uma Saga Mad Max” não se prende a ser um pastiche do que deu certo em Estrada da Fúria, contando um épico diferente e com identidade própria que engrandece não só o filme anterior, mas é capaz de se sustentar sozinho e entregar não só que é um dos melhores filmes do ano, como um dos melhores prequels já feitos. Testemunhem e lembrem-se dela.
Nota: 9
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