O grande épico de Denis Villeneuve e Frank Herbert é uma das maiores experiências já criadas para o cinema, sendo o novo clássico moderno que vai inspirar gerações.

A sequência de 'Duna' segue Paul Atreides enquanto ele se une a Chani e os Fremen enquanto busca vingança contra os conspiradores que destruíram sua família. Enfrentando uma escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo, ele se esforça para evitar um futuro terrível que só ele pode prever.

Logo de cara vou reafirmar que sou um grande fã do livro original, tendo lido ele mais de uma vez na adolescência, me apaixonando por esse universo extraordinário criado por Frank Herbert, que veio a inspirar (e ser plagiado em alguns momentos) por outras grandes franquias do cinema e da cultura pop.

O primeiro filme (que considero uma obra de arte e você pode ler a crítica aqui) lançado em 2021 terminou com um final em aberto que gerou muitas frustrações com as pessoas, mas por saber que eles só conseguiriam adaptar metade do livro em cada filme, isso nunca chegou a me incomodar.

A história continua então seguindo a jornada de Paul Atreides (Chalamet) buscando vingança se juntando aos Fremens para criar uma força de resistência no planeta Arrakis. Essa jornada clichê de vingança acaba sendo bem pioneira em muitos aspectos por ter sido escrita em 1964 por Herbert, e ele usou ela para desenvolver o primeiro grande protagonista que tem uma transição de herói para vilão.

O filme termina estabelecendo Paul como essa figura instável e perigosa, mas não exatamente mostra ele como um cara mal, afinal ele está fazendo justiça e punindo os vilões opressores que de fato foram construídos para serem os caras maus.

Duna é uma história que apesar do seu universo extremamente complexo e cheio de camadas, é relativamente simples no começo, seguindo uma lógica de maniqueísmo que é rapidamente quebrada da metade para o fim do primeiro livro. A beleza e tristeza de Duna é muito bem refletida no filme, com um deserto lindo, com paisagens, animais e momentos de tirar o fôlego. Mas esta beleza esconde também os perigos do deserto, e segredos que anseiam a humanidade.

O segundo filme tem toda essa escala épica gigante que poucos filmes blockbusters conseguiram transmitir. Aqui parece que estamos vendo realmente um universo sem fim vivo. As batalhas são enormes, as naves e os vermes são imensos e tudo aqui está bem encaixado. É realmente de deixar o queixo no chão, principalmente a sequência final de guerra e a cena em que Paul monta no seu primeiro verme.

Mas é claro que nada disso aconteceria se não fosse pelo trabalho maestral de Denis Villeneuve (Blade Runner 2049, A Chegada). Apesar de ter alguns detratores, Villeneuve é o maior diretor de sua geração e sabe trabalhar com sensibilidade essa história tão única. Todos os aspectos da produção são impecáveis (até mesmo o cgi que normalmente é um ponto fraco em Hollywood aqui está sublime), e até às sequência de ação tiveram uma melhora significativa, sendo todas muito bem filmadas e coreografadas.

Todo esse visual e criatividade por trás de Duna (como os fogos de artifício do planeta preto e branco Harkonnen que são tinhas de polvos, os artefatos fremens do deserto, naves, armas, etc) só agrega para a construção deste universo fantástico. Quero destacar o trabalho do vencedor do Oscar Greig Fraser (Batman, Rogue One: Uma História Star Wars) na fotografia, que continua provando ser um dos melhores cinematógrafos da atualidade, e com toda a certeza vai ganhar o seu segundo Oscar com esse trabalho.

Como tudo no primeiro filme, toda a parte técnica continua impecável em um nível que só agrega para a experiência. Destaque também para a ótima montagem que sempre deixa o filme dinâmico e trilha sonora inacreditável de Hans Zimmer (O Rei Leão, Interestelar).

Timothée Chalamet (Wonka, Me Chame Pelo Seu Nome) já tinha entregado um excelente Paul Atreides no primeiro filme, e aqui retorna com o que considero a melhor interpretação de sua (jovem) carreira. Paul começa aqui o seu caminho de vingança e para se tornar o grande messias dos Fremens, desafiando o império e cometendo crimes inimagináveis. O seu discurso final quando ele abraça este destino é arrepiante, e Chalamet consegue realmente convencer todos do quje está dizendo.

Adoro a personagem Chani nos livros, e após a sua rápida aparição no primeiro filme, Zendaya (Euphoria, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa) finalmente tem chance de brilhar como esta personagem. Sua Chani é mais agressiva e forte do que a versão do livro, mas ela é a alma de Duna ao meu ver, pois representa aquela que consegue enxergar o mundo como ele realmente é, com suas nuances, beleza e tristeza. A atriz já se provou uma das melhores de sua geração, e continua tendo toda essa presença na tela sempre que aparece. O “desfecho” trágico de sua personagem e o relacionamento com Paul é de longe uma das coisas mais fascinantes da saga.

E o que todos têm comentado, o implacável vilão Feyd-Rautha Harkonnen vivido por Austin Butler (Elvis, Era Uma Vez em... Hollywood) é também outro destaque da produção. Embora sua participação seja limitada, acho que Villeneuve conseguiu transmitir bem a psicopatia de Feyd, que está sempre almejando o topo sem se preocupar com aquele que ele deve massacrar. Butler rouba todas as cenas em que aparece, sempre com  um sorriso no rosto e estando no controle da situação. A sua introdução no planeta preto e branco dos Harkonnens é digna de aplausos, e uma das melhores introduções de vilões no cinema.

Já o resto do elenco está muito bem, com destaques para Javier Bardem (Onde os Fracos Não Têm Vez), Josh Brolin (Vingadores: Ultimato), Rebecca Ferguson (Doutor Sono), Florence Pugh (Viúva Negra, Adoráveis Mulheres) e Stellan Skarsgard (Gênio Indomável). O único ator realmente deslocado foi Christopher Walken (Pulp Fiction: Tempo de Violência, Ruptura) como o Imperador, que no final parece ter desistido de atuar e interpretou ele mesmo.

O uso da fé como uma arma é mostrado aqui de forma mais do que clara. Todo o arco de Paul aceitar o manto do profeta (mesmo ele tendo receio de que de fato é esse messias) é muito bem construído, junto do trabalho base de Jessica feito para convencer cada vez mais os fremens do seu papel.

Existem diferenças do livro (o que é bem óbvio já que isso se trata de uma adaptação para outra mídia, sendo justo e necessário mudanças), mas tem algumas coisas realmente incompreensíveis que eu gostaria muito de saber o motivo do diretor fazer elas. Só pra exemplificar, existe um confronto de dois personagens muito aguardado no livro que nunca aconteceu, mas Villeneuve escolhe mostrar ele da forma mais cafona e “fanfiqueira” possível, causando só vergonha alheia.

O final apesar de algumas leves mudanças é bem fiel ao livro, e seta completamente a terceira parte que irá adaptar “O Messias de Duna”, o segundo livro da saga. Por conta do sucesso, é quase certeiro que veremos esse filme que deve continuar a polêmica e incrível saga de Paul Atreides, um dos personagens mais fascinantes da ficção.

A questão é que muitos estão comparando (de forma correta) “Duna Parte 2” com outros grandes filmes como “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, “Cavaleiro das Trevas”, “Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca”, mas o que temos aqui é um novo épico que tem a sua própria identidade e será base para comparações futuras. Depois de refletir muito e aceitar certos aspectos que me incomodaram como fã, consegui abstrair eles e aproveitar esse grande épico que é um dos grandes filmes deste século, se mostrando relevante com sua mensagem e apresentando uma das maiores experiências que o cinema pode proporcionar.

Nota: 10

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