Adaptação da HQ homônima de Greg Rucka traz Charlize Theron como uma guerreira imortal numa aventura divertida.


Sinopse: Quatro guerreiros com o dom da imortalidade protegem a humanidade há séculos. Mas seus misteriosos poderes viram alvo de ataque quando uma nova imortal entra em cena.

The Old Guard é a aposta mais recente da Netflix para o seu catálogo de projetos originais e prova que a qualidade dos filmes da mesma estão melhorando. Dirigido por Gina Prince-Bythewood, a obra conta com ótimas cenas de ação e tem uma trama interessante, porém o roteiro é apressado e previsível , o que prejudica alguns blocos do longa.

A trama tem início com um monólogo de Andy (Charlize Theron) a respeito da expectativa acerca da morte sempre que ela e seu grupo aceitam um trabalho perigoso. A partir daí vemos os eventos que antecedem essa cena inicial nos apresentando os personagens principais e dilemas do grupo. Há toda uma sagacidade por parte do roteiro de Greg Rucka em colocar cenas que a primeira vista parecem triviais, mas que quando descobrimos o segredo do grupo, ganham toda uma nova significância.

Passada essa primeira parte, já sabemos que os personagens são guerreiros imortais estilo “Highlander" e o roteiro estabelece um senso de urgência, pois quando a missão prova ser falsa, o grupo percebe que são alvos de um magnata da indústria farmacêutica que deseja usá-los para descobrir o segredo de sua imortalidade. Nessa parte, inicia-se uma jornada frenética por respostas ao mesmo tempo em que uma nova imortal aparece para complicar mais a situação.

O que faz esse roteiro funcionar é o trabalho no desenvolvimento dos personagens com cada um tendo sua motivação bem estabelecida e quase todos tendo seu espaço para brilhar durante a narrativa. O destaque fica por conta de Andy e pela excelente performance de Theron que devo acrescentar fica tão linda morena quanta loira. A personagem tem uma dor profunda por não sentir que fez muito para mudar o mundo ao longo de seus séculos de vida e sente-se culpada pelas perdas que sofreu. Quando a vimos pela primeira vez , nota-se que ela é o tipo de pessoa confiante que está sempre pronta para ação e sempre quer fazer o certo, mesmo com suas próprias dúvidas. Theron dá um ar sério para Andy ao mesmo tempo em que é eficiente em demostrar com olhares bem sucintos a dor da personagem.


A co-protagonista da obra é Nyle Freeman (Kiki Layne), uma jovem fuzileira que está de serviço no Afeganistão quando é surpreendida por seus novos dons. A interação de Nyle com Andy rende boas cenas que em suma maioria questionam os porquês da imortalidade e suas consequências para os indivíduos portadores dela. Há toda uma inocência na personagem, pois ela não entende o que se passa e deseja que tudo volte a ser como antes. Todavia, conforme a narrativa avança ela ganha mais confiança e acaba sendo fonte de inspiração para os outros membros do grupo por sempre ter fé no bem que eles podem realizar para os outros.

O terceiro destaque do elenco é Matthias Schoenaert como Booker. Ele é o personagem mais dúbio da narrativa, pois a dor dele é muito perceptível e a performance do ator ajuda a transmitir toda essa dimensão dele. Por último, vale mencionar que o vilão da obra, Merrick, é apenas mais um antagonista genérico que só busca lucro, porém a performance do ator Harry Melling é deveras afetada e não passa o tom sádico que o personagem deve ter.

Se por um lado o desenvolvimento de personagem funciona, por outro é nítido que Rucka não soube dar um bom direcionamento para as reviravoltas da trama. Tudo é muito previsível e isso tira um pouco o impacto da história. Por exemplo, é muito óbvio que eles mencionam certos personagens apenas para deixar espaço para uma participação surpresa no final e o plot envolvendo uma traição é previsível desde o primeiro instante. Não obstante, há algumas facilitações que irritam como o fato de Andy entrar num acampamento militar sem dar na vista e ainda sair de lá com Nyle e dirigindo um carro.

A sorte é que a direção de Gina Prince-Bythewood sabe desviar dos problemas do roteiro investindo em cenas com impacto visual forte e com uma ótima coreografia na ação. Pelo fato dos personagens terem muitos anos de experiência em combate, isso permite que haja uma suspensão de descrença maior quando um deles sozinho derruba vários soldados armados. Isso cria uma ação mais fantasiosa, mas com consequências, pois mesmo os personagens podendo se curar, eles ainda sofrem com dores e fraturas.

O maior destaque na parte técnica é o fato da muita das cenas usarem pouca computação gráfica dando um ar mais realístico a obra. Nas poucas cenas em que ela é usada funciona muito bem e devo elogiar o bom trabalho que fizeram na cena do prédio. O design de produção é bem comum, o destaque seria para as cenas que se passam no passado, porém elas são tão curtas que não dá tempo de ter uma boa apreciação do cenário. Quanto a fotografia, ela é correta e usa o tom adequada para cada cena.

The Old Guard é um dos filmes mais divertidos do ano e prova que a Netflix só precisa achar a história certa para seus filmes originais.

Nota: 7,0

Publicado por: Matheus Eira

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