Crítica | Até O Limite (On The Line, 2022)

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O conceito de uma ligação misteriosa envolvendo ameaças e reféns em meio a um programa de rádio ao vivo é uma ideia que até pode funcionar – mas depende de uma série de fatores, tais como uma trama carregada de suspense, a abordagem narrativa, o desfecho e o plot twist. Um thriller tenso e divertido não precisa ir muito além disso. Embora já não seja uma fórmula inovadora em filmes e séries, funciona muito bem se inserir os elementos narrativos certos e se for adequadamente bem realizado.

“Até O Limite” é um thriller tenso e desafiador que se desenvolve relativamente muito bem, com um ritmo acelerado, mantendo seu suspense padronizado e um final surpreendentemente inacreditável. Porém, ao tentar manter uma abordagem constantemente frenética demais, acaba saindo dos trilhos em seu desfecho totalmente exagerado – o que pode fazer o público não apenas se sentir desapontado, mas, também, ficar com um alto nível de raiva pela falta de plausibilidade.

Na trama, Elvis Cooney (Mel Gibson, de “Coração Valente”, 1995) é um famoso radialista com 40 anos de experiência, que tem aconselhado seus ouvintes ao vivo em seu icônico talk show noturno, “On The Line”, em uma estação de rádio de Los Angeles. Cooney é um dos últimos apresentadores de rádio remanescentes de sua geração e sua vasta experiência o faz ignorar os avisos de seu chefe sobre seu estranho e inadequado comportamento no programa. Todas as noites, ele alcança seus ouvintes com sua voz inconfundível e suas réplicas afiadas dando opinião sobre quase tudo; com isso, se envolve em todo tipo de polêmica.

Porém, o problema é que, em uma determinada noite, Cooney recebe a ligação de um homem desconhecido, que começa a ameaçar matar a família do radialista enquanto o programa está no ar. Para salvar a família, Cooney terá que jogar um jogo de sobrevivência e a única maneira de vencer é descobrir a identidade do criminoso enquanto o programa de rádio está ao vivo.

“Até O Limite” é um intrigante e misterioso thriller que pode ser um divisor de águas para muitas pessoas, dependendo das expectativas. A história se passa durante uma única noite, o que cria um tom ligeiramente enervante para tudo, e atinge o alvo ao se centralizar no protagonista, um narcisista que insultou, assediou e negligenciou vários colegas de trabalho, apenas para se lembrar do porquê tem que passar por esse pesadelo apresentado na trama.

Também há uma grande intensidade cheia de manipulação emocional na forma como o roteiro se desenrola entre Elvis e seu ameaçador interlocutor. Além disso, a superexploração dos recursos narrativos e a falta de um senso realista de orientação completam o filme como um thriller exagerado e ácido. Com isso “Até O Limite” fornece um nível adequado de suspense e de mistério agradavelmente intrigante – tornando-se, assim, um filme que consegue prender a atenção do público sem ter que obrigá-lo a pensar muito.

“Até O Limite” começa moderadamente cheio de suspense, mas cerca de 40 minutos depois, a trama começa a se estender muito além do escopo de sua história imediata e de seu quadro geral. Por outro lado, seu desfecho leva a um clímax altamente decisivo – quase beirando o absurdo. A progressão da trama oferece algumas surpresas e pontos de desorientação, mas o final vira tudo de cabeça para baixo. Essa reviravolta final é extremamente complicada de digerir, embora seja capaz de explicar algumas pontas soltas da história no início da trama. Essa abordagem certamente oferece uma surpresa – mas, será mesmo que vale a pena essa mudança brusca de narrativa?

Não há muita ação em “Até O Limite”, que aposta mais no suspense e sua jornada narrativa do início até o desfecho leva seu próprio tempo para criar uma atmosfera adequadamente tensa. Porém, o longa passa de uma cena de suspense para outra com uma facilidade medíocre – embora consiga se desenvolver bem até o final. Entretanto, essa facilidade se faz necessária, pois é uma boa maneira de aumentar a tensão ao longo da trama e prender a atenção do público.

Escrito e dirigido por Romuald Boulanger, “Até O Limite” é um filme mais desafiador no nível da direção do que no nível do roteiro; e Boulanger consegue conduzir uma produção divertida, misteriosa e intrigante. Existem conveniências perceptíveis na trama, mas nada que realmente desmereça. No geral, o desenvolvimento desse mistério central oferece mais pontos positivos do que negativos – e essa narrativa se mantém em curso constante durante toda a duração do longa.

Mel Gibson entrega um desempenho forte e carrega o personagem com bastante carisma; embora seja extremamente difícil pensar em thrillers realmente inteligentes e carregados de suspense com Gibson, tal como “O Preço de Um Resgate” (1996). O ator injeta em seu personagem uma personalidade ambígua, que pode ter atitudes egocêntricas de personalidade estrelinha do rádio, com um alto desprezo pelos funcionários da estação de rádio; mas, ao mesmo tempo, ele também é carismático e um pai amoroso e protetor. Além disso, o personagem é retratado como um radialista antipático, apenas para provar seu próprio remédio enquanto a história se desenrola – só não é da maneira que o público prevê.

“Até O Limite” é o tipo de thriller capaz de fazer o público amar a reviravolta final ou, simplesmente, odiá-la. É impressionante que o filme em tela tenha terminado de maneira tão estranha e provocativa. Embora a produção provavelmente estivesse procurando entregar um desfecho semelhante a “Vidas Em Jogo” (1997), o resultado final é um filme que tem muito menos profundidade temática em sua narrativa. Com isso, fica perceptível que a produção em questão só consegue chamar a atenção simplesmente por ter Mel Gibson no elenco – caso contrário, passaria completamente despercebida.

Porém, “Até O Limite” consegue manter o suspense e a tensão por toda a sua narrativa, sendo rápida, misteriosa e interessante o suficiente para manter o público intrigado até o final, mesmo com uma reviravolta absurdamente inesperada e com um desfecho extremamente difícil de acreditar – além de ter Mel Gibson no elenco também, que entrega uma atuação decente e satisfatória. Esse somatório de fatores entrega valores de entretenimento que o filme em tela transmite com energia suficiente para se justificar até o momento inesperado em que revela o propósito genuíno de todo o seu tempo de tela.

“Até O Limite” está disponível, para alugar, na Amazon Prime Video.

Nota: 7.5