Arte de Capa: Diego Riselli.
Fiquei interessado em ler Batman: Ego, de Darwyn Cooke, pela primeira vez ao ver que essa HQ seria uma das inspirações do novo filme do Batman, segundo seu diretor, Matt Reeves. Fiquei curioso, já que não é uma história bastante citada do morcego, como Ano Um, O Longo Dia das Bruxas, Morte em Família, e tantas outras histórias icônicas. Deixei na "sala de espera" por um ano, e eu provavelmente não leria se agora eu não tivesse tanto tempo livre. Erro meu. Essa provavelmente é a melhor história do Batman, sem exagero. Espero que ela seja mais reconhecida por causa do filme e que a Panini relance essa obra-prima, eu compraria sem pensar duas vezes. A trama começa com o Batman perseguindo um capanga do Coringa que ficou com o dinheiro de um saque, e que estava fugindo com medo de seu empregador, o Coringa, que escapou do Asilo Arkham. Tudo isso termina de maneira trágica quando o capanga comete suicídio depois de revelar que assassinou sua mulher e filha com medo de que o Coringa fizesse algo pior. Depois disso, vemos Bruce na batcaverna, questionando se deveria continuar a ser o Batman, quando então o Batman aparece na frente dele, como se ele tivesse saído do consciente do Bruce e tivesse se materializado, com uma aparência mais bestial, fantasmagórica, e toda a HQ foca na discussão entre Bruce e o Batman, e aqui vemos o morcego como uma personalidade violenta, como se Bruce fosse Harvey e Batman o Duas-Caras, que também é citado, e durante essa discussão alguns momentos da vida do Bruce quando criança são mostrados. Aqui temos uma narrativa intimista e introspectiva, e é por isso que acho que essa é a melhor história do Batman. Não me lembro de uma HQ que focou tanto no psicológico do Bruce, e do Batman também, e o fez de forma tão primorosa. A obra tem clara influência de Jung, fundador da psicologia analítica. Segundo Jung, Persona é "uma espécie de máscara projetada, por um lado, para fazer uma impressão definitiva sobre os outros, e por outro, dissimular a verdadeira natureza do indivíduo". Em um dos diálogos entre Bruce e Batman, Batman diz: "Eu não irei ser dispensado! Eu não sou um traje, uma persona que você pode jogar fora". E falar sobre persona, é também sobre a "sombra". Basicamente, a sombra é responsável por aquilo que o Ego não aceita, mantendo assim esses conteúdos em um lugar do inconsciente, mas que há a possibilidade de se tornarem conscientes. Já deu pra perceber a conexão, né? Em DC: A Nova Fronteira, magnum opus de Cooke, vemos que ele ama a DC e sua história. Nessa obra, percemebos que Darwyn Cooke, o escritor e que também é o responsável pela arte, é fã do Batman. Uma história desse calibre só poderia ter sido feita por alguém que ama e entende o personagem. Na HQ, temos memórias do Bruce, como já citei, e todas focam no jovem Bruce e na relação com seus pais, o que eu achei um dos pontos altos da obra. Diferente do Tio Ben, que conhecemos sua personalidade e como seus valores foram passados para Peter, você nunca conheceu a fundo os pais do Bruce, eles nunca foram aprofundados de verdade, e aqui isso muda. Tem um diálogo entre Bruce e Thomas que é simplesmente fenomenal, e me fez sentir pelo Bruce, dá pra perceber o porquê a morte de seus pais o impactou tanto. A arte também é simplesmente fantástica. O traço de Cooke é perfeito pra esse tipo de história. A sua arte lembra muito a do Bruce Timm, e por isso essa HQ lembra um episódio da série animada do Batman, e um episódio memorável, se tivesse sido adaptado na série tenho certeza que estaria no topo entre os melhores episódios. Pra não revelar mais sobre a história, irei parar por aqui, tenho em mente que esse texto é mais para te motivar a ler, já que essa HQ não é tão conhecida, do que para analisar a obra. Batman: Ego tem só 70 páginas, então você pode ler em uma tacada só, gastando menos do que uma hora. Os diálogos, a arte, a narrativa, as cores, são todas dignas de um quadrinho desse nível, talvez a diagramação seja o pior aspecto da HQ, já que ela faz uso de uma fonte que sinceramente é cansativa para os olhos, mas não e uma fonte que está presente nos balões, apenas naqueles quadros de narração. E pra terminar, gostaria de citar o que é umas melhores falas da HQ como também um dos melhores diálogos que expressa o que o Batman representa: "Você deve entender. Tem uma linha que jamais devemos ultrapassar. Sem mortes. É a única diferença entre nós e eles. Batman é tanto um símbolo de temor para o submundo do crime como também é um símbolo das boas pessoas dessa cidade. Um símbolo de esperança. Se você pode viver com isso, então Bruce Wayne pode viver com a responsabilidade [de ser o Batman]."

Nota: 10

Publicado por: Sam.

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