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Se
existe alguém que consegue pegar um livro e transformá-lo em uma produção
(filme ou série) completamente aterrorizante e carregado de elementos
sobrenaturais assustadoramente intrigantes, esse é Mike Flanagan. O diretor e
roteirista têm se destacado nos últimos anos como um dos melhores cineastas de
suspense, horror e terror ao criar e comandar, a partir de adaptações literárias, histórias incrivelmente
assustadoras e atraentes, mas sem depender, estritamente, de terror puro e de
constantes sustos para manter o público instigado à narrativa.
Com
“O Clube da Meia-Noite”, não poderia ser diferente. Mike Flanagan se supera
novamente ao adaptar um livro, originalmente escrito para jovens, sobre um
grupo de adolescentes, nos anos 90, à beira da morte. Ao mesmo tempo que a
morte ronda a vida dessas pessoas, também há um mistério intrigante que circula
os corredores do estranho hospício em que esses jovens estão. Enquanto esperam
a morte chegar, uma questão surge: e se esses adolescentes, que não tem mais
nada a perder a não ser o pouco tempo que lhes restam, fizerem um pacto
sinistro ao abraçar o desconhecido e se aventurarem nos misteriosos corredores
do hospício com suas histórias aterrorizantes?
Na trama, oito jovens com doenças terminais passam os seus últimos dias de vida no Brightcliffe Hospice, administrado por uma enigmática médica, Dra. Georgina Stanton (Heather Langenkamp, de “A Hora do Pesadelo”, 1984). Todas as noites, à meia-noite, o grupo de adolescentes se reúne secretamente para trocar histórias assustadoras entre eles. Em meio a uma dessas reuniões, eles decidem fazer um pacto sinistro: o primeiro a morrer terá que tentar mandar um sinal do além, para que os demais recebam o contato.
Depois que um deles morre, coisas bizarras começam a acontecer e o grupo passa a testemunhar situações assustadoras dentro dos corredores de Brightcliffe. A princípio, sem acreditar que os eventos são realmente sobrenaturais, os jovens tentam encontrar uma explicação para tais situações. Mas, quando as coisas passam a ficar cada vez mais macabras, eles tentam entrar em contato com o já falecido amigo e desvendar o mistério.
Criada por Mike Flanagan, mesmo criador das excelentes antologias “A Maldição da Residência Hill” (2018), “A Maldição da Mansão Bly” (2020) e “Missa da Meia–Noite” (2021), “O Clube da Meia-Noite” é baseada no livro homônimo de Christopher Pike, autor de sucesso de livros de terror infanto-juvenil. Além de desenvolver a nova série original da Netflix, Flanagan também dirige dois episódios, de um total de 10 episódios.
Cada
uma dessas antologias supracitadas explorou, de forma diferente, o horror
sobrenatural à sua própria forma. De forma igualmente assustadora, “O Clube da
Meia-Noite” também se vale do elemento sobrenatural do horror para apresentar
sua própria temática: uma história sobre como algumas pessoas reunidas lidam,
de formas diferentes, a respeito de vida e morte, memórias, identidade e o tempo.
“O Clube da Meia-Noite” não é exatamente sobre morte, propriamente dita, mas sobre a forma como ela é abordada; ou seja, a forma como os pacientes de Brightcliffe lidam com a morte iminente e suas lutas diárias para ganhar mais tempo em um lugar que os isolou para tal finalidade. Em meio a tudo isso, o grupo compartilha entre si histórias sobrenaturais que reflexem seus desejos, fantasias, sonhos não concretizados e como eles gostariam de modificar suas vidas. E é em volta destes personagens e de suas histórias sinistras que Flanagan abre o grande leque do suspense e terror para narrar uma trama igualmente sobrenatural e assustadora.
Vale
destacar que a obra original de Christopher Pike aborda, tão somente, sobre os
elementos dramáticos envolvendo vida e morte, de forma mais emocionante e menos
pesada – claro, se levando em consideração que o público alvo é o
infanto-juvenil, não poderia ser algo muito assustador. Com enorme potencial,
Flanagan tem o dom de saber aproveitar o livro de Pike como premissa básica,
mantendo a história central, os personagens e, praticamente, quase todos os
fatos nele decorridos, para criar uma aterrorizante adaptação de terror e
inserir vários elementos sobrenaturais, de forma assustadora. Com isso, “O
Clube da Meia-Noite” se apresenta como uma adaptação que segue (e respeita) os
moldes básicos da obra original para contar uma incrível história de fantasmas,
com novos elementos de terror que enriqueceram a narrativa.
Por outro lado, a produção falha ao não abordar todos os personagens centrais com a mesma proporção. Com oito membros no clube secreto, que dá o título à série, a estrutura narrativa permite conhecer todos eles, porém em graus diferentes de atenção. A produção foca, principalmente, em três dos jovens: Ilonka, Anya e Kevin. Porém, apesar de haver uma certa desproporcionalidade focada nos diferentes personagens da trama, cada um é explorado, narrativamente, à sua própria maneira e nenhum é excluído.
A
forma como todos, de certa forma, participam igualmente das histórias, mesmo
com um pouco menos destaque, reforça o quanto o enredo pode ser envolvente e
cativante, instigando cada vez mais sobre cada um dos membros lá presentes –
principalmente quando eles interagem todos juntos. E Flanagan soube explorar,
de forma respeitosa e emocionante, cada um desses personagens tendo que lidar
com suas próprias dores e batalhas.
Flanagan é extremamente cuidadoso e habilidoso ao saber explorar os temas de doença terminal, morte e luto com a delicadeza e a destreza que o roteiro exige, somando-os com o terror sobrenatural. Flanagan sabe utilizar o tempo certo da narrativa para comandar o suspense e inserir os sustos nos melhores momentos, acentuando ainda mais o horror e todos os elementos que o seguem. E, somado a tudo isso, o romance inserido no enredo também é um elemento que ajuda bastante a engrenar a narrativa.
Todo
o elenco de “O Clube da Meia-Noite” está impressionante e com atuações incríveis.
Grande destaque para Heather Langenkamp, que entrega um trabalho excepcional, atuando
como uma personagem que sabe mais do que aparenta e que toma extremo cuidado
para não transparecer isso. Sem dúvida, sua personagem é a maior surpresa da
série, no quesito mistério.
“O Clube da Meia-Noite” é uma excelente e impressionante produção da Netflix. Mike Flanagan prova, mais uma vez, que tem a incrível capacidade de produzir um material assustadoramente intrigante a partir de um simples livro infanto-juvenil. Com seu próprio estilo sombrio e tenso – muito bem construído –, Flanagan é eficaz ao inserir os elementos do suspense e terror necessários para criar uma série criativa e aterrorizante capaz de assustar e, ao mesmo tempo, prender a atenção até o final – além de várias reviravoltas surpreendentes.
Com isso, Flanagan entrega uma excelente série de terror sobrenatural que mistura, de forma sinistra e emocionante, diferentes elementos narrativos de terror, horror e drama com histórias de fantasmas e luto, e que funcionam muito bem juntos. “O Clube da Meia-Noite”, certamente, é o resultado muito bem elaborado sobre jovens com diagnósticos terminais reunidos no mesmo local tendo que aceitar a morte precoce e a forma como eles lidam com isso através de suas histórias de fantasmas. As boas doses de sustos e terror sobrenatural enriquecem bastante a narrativa, de forma extremamente envolvente e aterrorizante.
“O Clube da Meia-Noite” está disponível na Netflix.
Nota: 9.0Leia
abaixo as Críticas das demais Antologias de Mike Flanagan:
A Maldição da Mansão Bly (Netflix, 2020)
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