Terror da A24 explora de forma interessante um mistério no melhor estilo “Whodunnit”, mas falha em trazer algo com mais substância ou esmero.
Durante um fim de semana de férias, um grupo de amigos decidem jogar um jogo de assassinato chamado "bodies bodies bodies", onde dois participantes são encarregados de ser os assassinos sem a ciência dos outros. Mas quando as luzes se apagam e o jogo começa, eles descobrem da pior maneira que há de fato um assassino entre eles.
A produtora e distribuidora A24 de fato se tornou na última década uma marca muito aclamada e consolidada na cultura pop por produzir conteúdos de qualidade e diferenciados, sempre fazendo filmes com “orçamentos baixos” e dando mais liberdade criativa para os seus realizadores.
Algo bem forte na produtora é o seu histórico com filmes de terror, que variam desde “A Bruxa”, “Hereditário”, “Lamb” dentre outros. Sendo assim, a atriz e diretora Halina Reijn (Instinto) conseguiu o espaço para lançar o seu segundo longa-metragem: “Morte Morte Morte”, que é uma dramédia de terror com jovens presos em uma casa onde um deles é um assassino.
Logo de cara a melhor coisa a se destacar do filme são as atuações. O elenco composto por Amandla Stenberg (O Ódio que Você Semeia), Maria Bakalova (Borat 2), Rachel Sennott (Shiva Baby), Myha'la Herrold (Industry), Pete Davidson (O Esquadrão Suicida) e Lee Pace (Guardiões da Galáxia) fazem um ótimo trabalho em construir as personalidades completamente diferentes de cada personagem, sempre tendo um clima de desconfiança e falsidade.
O filme pode ser dividido em 2 partes: a primeira que é uma apresentação dos personagens e da trama básica, e a segunda onde todo o drama, a tensão e o horror se desenvolvem. Todo o filme começa a ficar mais emocionante e instigante conforme as mortes vão acontecendo e todo o mistério, tensão e dúvidas começam a ficar no ar enquanto os personagens começam a ter embates psicológicos e físicos uns com os outros.
A direção de Reijn é bem sólida, e o aspecto mais visualmente interessante do filme é como ela e Jasper Wolf (Monos, Code Blue), o diretor de fotografia, trabalham com esse ambiente totalmente escuro e o contraste das luzes dos celulares e colares das personagens. O roteiro escrito pela dupla Kristen Roupenian e Sarah DeLappe no entanto é o elo mais fraco do filme, não conseguindo fugir de tropes idiotas de filmes e terror que ninguém aguenta mais (como os personagens constantemente se separando em uma mansão escura com um assassino a solta).
Existe uma tentativa de criar alguns temas e abordar os personagens de um ângulo diferente, falando sobre relacionamentos e a forma com que pré-julgamos os outros e estamos sempre tentando construir aparências e personalidades falsas. No entanto isso é mais uma coisa do filme que não engrena de forma natural, e quando finalmente parece que um desenvolvimento e aprofundamento desses temas está acontecendo, ele termina.
O grande twist final do filme é algo que não chega a ser 100% imprevisível, mas não posso negar que é algo que cogitei na metade. Sem entregar nada, pode-se dizer que não só é o que vai definir quem vai gostar ou não do filme, traz um sentimento estranho e que funcionou comigo, sendo um “humor ácido” que pode tirar algumas risadas.
“Morte Morte Morte” não é nada mais do que um passa tempo, e isso pode ser algo positivo dependendo do que cada um busca no filme. Consegue criar tensão ao mesmo tempo que tem boas atuações e um final extremamente polêmico e que será bem divisivo (que vai cravar se você vai gostar ou não). No fim, a coisa mais surreal e impressionante do filme é a bateria do celular que consegue durar horas com a lanterna ligada.
Nota: 6