Dizem que os melhores vinhos são aqueles envelhecidos por mais tempo. Dito isso, “Top Gun: Maverick” é a prova de ser a melhor sequência depois de quase quatro décadas, se mostrando uma empolgante e emocionante sequência do clássico de 1986 que ultrapassou os limites do tempo ao chegar 36 anos depois do original, mostrando que o fator tempo lhe caiu como uma luva e que valeu muito a pena esperar tanto tempo por esta continuação.
“Top
Gun: Maverick” não poderia ter chegado em melhor tempo. Foi uma espera
absurdamente necessária, vantajosa e compensadora, que engrandeceu o longa de
tal maneira, que talvez não teria conseguido produzir esse impacto todo se
tivesse sido lançado logo após seu antecessor.
Depois de mais de trinta anos de serviço como um dos principais aviadores da Força Aeronaval, Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise, de “No Limite do Amanhã”, 2014), um piloto à moda antiga da Marinha, coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nas últimas três décadas. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar e ele deixar de ser apenas um capitão de mar e guerra para se tornar um instrutor. Mesmo depois de tanto tempo, ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em desafiar a morte ao romper os próprios limites, para não ser promovido a um cargo que o manteria em terra.
No
mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, a tecnologia avançou para um
nível altamente superior e passou a moldar as experiências de modo diferente;
com isso, o governo dos Estados Unidos decide investir em drones não
tripulados. Para evitar a aposentadoria, Maverick precisa provar que o fator
humano ainda é fundamental. Em sua nova tarefa, ele precisa treinar uma equipe
de pilotos graduados para realizarem uma missão especial quase impossível, que
pode exigir o sacrifício dos integrantes que forem escolhidos por ele. Entre os
integrantes, está Bradley “Rooster” Bradshaw (Miles Teller, de “Quarteto Fantástico”,
2015), filho do falecido amigo de Maverick, o oficial Nick “Goose” Bradshaw
(Anthony Edwards). Enfrentando um futuro incerto e enfrentando os fantasmas de
seu passado, Maverick é levado a um confronto com seus próprios medos
mais profundos, culminando em uma missão que exige o sacrifício final daqueles
que serão escolhidos para voá-la. Será que as habilidades humanas ainda estão
acima de qualquer máquina?
“Top Gun: Maverick” se aproveitou da nostalgia do primeiro filme para dar o pontapé inicial, reintroduzindo elementos narrativos que remetem ao clássico de 1986, mas sem ficar preso no passado e, também, não ficou dependente desses elementos nostálgicos para contar a nova história. O filme em tela soube utilizar tais elementos na medida certa, sem medo de serem vistos como uma reciclagem narrativa na atual produção. Muito pelo contrário: essa inserção foi uma jogada excelente, que fixou a marca da franquia (bem como a de seus personagens) e balançou ainda mais com a emoção dos fãs.
Muito
se engana quem pensa que “Top Gun: Maverick” tão somente e unicamente
dependeria da nostalgia do original para produzir uma sequência qualquer,
incapaz de andar sozinha. O filme em tela se provou capaz ao dar um passo além
(ou, seria melhor dizer, voar mais além) ao estruturar e inovar uma narrativa
com elementos altamente tecnológicos e mais avançados. E tudo isso construído
em torno de uma trama que não poderia ser bem mais adequada e condizente com a
apresentada – o que justifica um hiato de 36 anos entre o primeiro e a
sequência. Houve uma evolução estrutural na narrativa de forma a mostrar que a
época de treinamento já foi e, agora, a ação no campo de batalha é para valer.
Seria impossível (e muita burrice) Hollywood sequer cogitar produzir uma sequência de um filme que, inegavelmente, é um estrondoso fenômeno da cultura popular, depois de mais de três décadas se não houvesse certeza (ou, pelo menos, o mínimo de chance possível) de se conseguir entregar uma nova aventura que pudesse ser superior ao original; ou, pelo menos, se igualar – isso em padrões de qualidade. É um enorme desafio que os produtores tiveram que encarar frente um já estabelecido ícone que, mesmo depois de quase 40 anos, é impossível ser chamado de ultrapassado. Tal qual os protagonistas da película, os executivos tiveram que romper limites e melhorar o que já foi feito antes – modernizando alguns elementos narrativos – para conseguirem desenvolver uma aventura que se tornasse um sucesso atualmente.
Com
isso, a sequência cumpre todas as expectativas, com excelentes cenas de ação,
um elenco impecável, a Edição de Som e a Trilha Sonora igualmente maravilhosas. E, de forma bem
mais grandiosa, a produção elevou o padrão e consegue impressionar pelo alto
grau de realismo nas cenas aéreas – principalmente as cenas acrobáticas de voo
–, com novos modelos de aviões, uma tecnologia moderna altamente avançada, além
de apresentar um grandioso espetáculo visual aéreo cheio de adrenalina e emoção.
“Top Gun: Maverick” é o rejuvenescimento de uma obra clássica oitentista atemporal que foi o maior sucesso de sua época, eternizado pelas excelentes atuações, com as maravilhosas músicas e com as incríveis cenas de acrobacia aéreas, que são um verdadeiro espetáculo visual. O filme em tela não ficou atrás e conseguiu superar seu antecessor, ultrapassando os limites do tempo ao moldar uma sequência de forma inovadora, trazendo elementos altamente tecnológicos e modernos, condizentes com nossa época atual.
O
diretor Joseph Kosinski (de “Oblivion”, 2013) soube aproveitar alguns dos elementos
narrativos do original para criar algo novo, criativo e inovador; mas sem que
ficasse parecendo uma cópia ou releitura. Com isso, o máximo que se pode dizer
é que houve uma certa reciclagem desses poucos elementos para serem
aproveitados da melhor maneira que a nova trama se propõe a contar, de forma
autêntica e atiçando a nostalgia do público. E isso não desmerece em nada o
longa; muito pelo contrário: “Top Gun: Maverick” é o resultado perfeito e
respeitável de um legado que marcou época e conquistou uma legião de fãs com um
roteiro que chega a ser até simples, porém incrível, emocionante e carregado de
ação. E, agora, depois de 36 anos, a sequência chega com a chance de conquistar
uma nova geração de fãs, da mesma forma que o primeiro.
Em um período moderno que estamos vivendo, a tecnologia avançou tão vertiginosamente que, atualmente, o uso de drones e aviões não tripulados adquiriu um alto status e tomaram conta das operações militares. Hoje em dia, os modelos F/A-18 Super Hornet, um caça bimotor, que aparecem no longa são muito melhores, mais avançados tecnologicamente e bem mais equipados do que os modelos F-14 Tomcat usados na produção de 1986. Outro grande modelo que aparece no longa é o Su-57, o caça russo mais moderno atualmente. Para que as cenas aéreas de voo pudessem ser realizadas de forma real, a produção teve a ajuda e apoio da Marinha dos Estados Unidos, que forneceu aeronaves reais para as filmagens; além de construir uma especialmente para o filme: o Darkstar; um modelo idêntico ao avião hipersônico SR-72, que foi desenhado e desenvolvido pela empresa Lockheed Martin especificamente para o longa em questão.
Por
sua vez, para gravar as cenas diretas dos voos em pleno ar, Kosinski se
aproveitou do mesmo artifício que o longa anterior, instalando seis câmeras de
qualidade IMAX dentro das cabines dos caças. Com isso, o filme conseguiu
produzir cenas aéreas de ação mais intensas e emocionantes, além de transmitir
mais realidade. As manobras e os combates aéreos estão incrivelmente impecáveis e visualmente surreais, entregando ao público uma experiência única.
Para dar mais realismo às cenas de voo e acrobacias, Tom Cruise aprendeu a pilotar caças de verdade; inclusive, ele mesmo realizou muitas de suas cenas aéreas de acrobacia. Além disso, Cruise desenvolveu um programa de voo que fosse essencial para o treinamento do elenco. Assim, todos os atores que são da equipe de pilotos precisaram passar por um intenso treinamento para aprenderem a pilotar os caças. Já era de se esperar que, para uma produção dessa magnitude, houvesse tal desafio a ser realizado. E todos da equipe cumprem tal desafio de forma perfeita e satisfatória.
O
elenco de “Top Gun: Maverick” conta com uma impecável equipe de excelentes
atores. A começar por Tom Cruise, que é o próprio Maverick da vida real, no
sentido de que está sempre pronto para ultrapassar seus próprios limites e
aceitando desafios cada vez mais difíceis de serem superados. Essa característica,
tal como seu personagem, pode ser percebida pelo fato de o próprio ator
realizar grande parte de suas cenas de ação nos filmes – vide a franquia “Missão
Impossível”. A produção ainda conta com nomes de peso, tais como Jennifer
Connelly, Ed Harris e Val Kilmer; além de contar também com Jon Hamm, Miles
Teller, Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman, Jay Ellis e Greg
Tarzan Davis.
Destaque (emocionante) para a grandiosa e especial, porém pequena, participação de Val Kilmer (de “A Sombra e a Escuridão”, 1996), que retorna como o Comandante Tom “Iceman” Kazansky – rival de Maverick no primeiro longa. Infelizmente, a participação de Kilmer foi pequena devido a um câncer na garganta; levando o ator a perder a voz devido aos tratamentos de quimioterapia, radioterapia e traqueostomia. Por isso, Kilmer precisou da ajuda de uma tecnologia inovadora para recriar sua voz artificialmente, usando arquivos de áudio do próprio ator. Foi uma participação breve, mas, com certeza, foi marcante, emocionante e inesquecível.
Por
último, mas não menos importante, é imprescindível falar sobre a Trilha Sonora.
Além da icônica canção “Danger Zone”, de Kenny Loggins, “Top Gun: Maverick” ganha
destaque ao apresentar a nova canção “Hold My Hand”, de Lady Gaga. A excelente
cantora entrega um trabalho primoroso, fabuloso e incrível ao apresentar uma
música maravilhosa e digna de Oscar. Se a música “Take My Breath Away”, da banda
Berlin, foi a escolha perfeita para o primeiro filme, a canção “Hold My Hand”,
de Lady Gaga, é justamente o triunfo musical que a sequência precisava. É surpreendente
perceber o quanto “Hold My Hand” combinou com o longa em questão, tanto quanto “Take
My Breath Away” combinou com o antecessor. Sem dúvida, “Hold My Hand” é uma
música que vai ser lembrada de forma marcante e intensa tanto quanto “Take My
Breath Away”. “Hold My Hand” foi produzida por Lady Gaga e Bloodpop, e a versão
da música que está no filme também tem a participação do compositor Hans Zimmer
(“Duna”, 2021, “Rei Leão”, 1994, a franquia “Piratas do Caribe”, 2007; dentre
outras).
“Top Gun: Maverick” foi aplaudido de pé por cerca de cinco minutos no Festival de Cannes 2022. A produção já pode ser considerada o melhor filme de ação de 2022, pois é incrivelmente emocionante, empolgante e completamente realista. A emoção de se assistir “Top Gun: Maverick” em uma sala de cinema é uma experiência absurdamente fantástica. A Fotografia está simplesmente maravilhosa. A Equipe de Som realizou um trabalho extraordinário, que merece ser indicado ao Oscar; assim como a canção “Hold My Hand”, de Lady Gaga. Destaque para a homenagem, mais do que merecida, feita ao final do filme, para Tony Scott (diretor do primeiro longa), falecido em 2012.
A
produção acertou em cheio ao apresentar, de forma intensa, uma história recheada
de adrenalina, emoção e cenas aéreas que são um verdadeiro espetáculo visual e
sonoro. “Top Gun: Maverick” cumpriu todas as expectativas, de forma altamente tecnológica,
moderna e inovadora. A sequência impressionantemente conseguiu superar o
clássico de 1986; e não podia ter chegado em melhor tempo – 36 anos de espera
valeram a pena, enaltecendo ainda mais a grandiosidade da obra. O filme em tela
se aproveitou da nostalgia da obra anterior (mas sem exageros) para construir
uma nova aventura (e que consegue andar sozinha), com elementos atuais e tecnologicamente
superiores, para, enfim, entregar ao público uma experiência emocionalmente empolgante, grandiosa, divertida e que vai agradar quem já é fã do primeiro
filme. Sem dúvida, é um filme que merece muito ser assistido no cinema.
“Top Gun: Maverick” está disponível na Amazon Prime Video e Paramount+.
Nota:
10
Entre aqui para ler a Crítica do Filme “Top Gun: Ases Indomáveis” (1986).
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