Baseado em uma história real, O Último Duelo trata justamente sobre o último duelo oficial ocorrido na idade média.  Em uma época onde prática já não era mais difundida, sendo usada como recurso final, para se decidir um veredito incerto.

O filme se constrói sobre a perspectiva de cada um dos personagens principais: Jean de Carrouges(Matt Damon) o acusador; Jacques Le Gris(Adam Driver) o réu acusado de estupro; Marguerite de Carrouges(Jodie Comer) a vítima. Toda trama gira entorno do estupro de Maguerite, e tem seu ponto crítico no duelo entre os dois cavaleiros, em nome da verdade.

O clima de inimizade e falsidade entre os dois personagens é bem desenvolvido ao longo da história. Sendo montado a partir de pequenas atitudes de Jacques, que vão se agravando, até tornarem-se intoleráveis para Jean, uma vez que, no início ambos eram grandes amigos; o desenrolar da trama torna-se muito mais revoltante, consequentemente, instigante.

O roteiro claramente define seu herói e vilão. Logo, a parcialidade do filme reflete a visão histórica do diretor sobre o caso. Apesar disso, na sutileza de cada visão, o filme lhe cativa e realmente transmite que a verdade tem várias faces, sendo muito atual em demonstrar como a visão da mulher é subvalorizada.

Num filme em que diversos pontos de vista são apresentados, sempre há o risco de a história ficar repetitiva. Mas Ridley Scott conseguiu estruturar muito bem o roteiro, pois a história flui, sempre construindo uma nova perspectiva e dando novas informações, até mesmo, em cenas que são “repetidas”, demonstrando um excelente trabalho de apresentação, das várias perspectivas de uma verdade.

Os atores são os grandes responsáveis pela credibilidade de cada lado da história, sendo um exemplo de desenvolvimento de personagem, já que por essa escolha narrativa, é possível discernir como os personagens se enxergam e como eles enxergam os fatos, assim como os outros os veem.

A ênfase na atuação vai para a Jodie Comer, já que toda história gira entorno de sua personagem, sendo o principal fio que amarra todos os atos e dá coesão a toda obra. Em cada uma das três versões contadas, sua atuação varia, indo de uma moça recatada e sensível; para uma dama atrevida; e por fim, uma mulher traumatizada e injustiçada.

As atuações de Adam Driver, Matt Damon, Ben Affleck também são dignas de menção, já que ambos também apresentam grande versatilidade diante do roteiro desafiador, conseguindo representar com sucesso as personalidades de seus personagens diante de cada ponto de vista. Com destaque Ben Affleck, que interpretando Pierre d'Alençon, realiza um dos melhores papéis de sua carreira, demonstrando uma versatilidade que não se observa recorrentemente nos filmes do ator.

Em quesitos técnicos o filme também é impecável. A montagem é primorosa em criar uma narrativa fluída; a fotografia é engenhosa, pois retrata as mesmas cenas, porém de formas diferentes, conforme a emoção que deseja transmitir; e a direção merece aplausos, por conseguir conciliar esse projeto tão ambicioso com primazia.

Outro destaque vai para as cenas de batalha, que por mais que não sejam excelentes, tem uma construção bem executada, transmitindo a violência e a barbárie do combate medieval.

No geral, tudo é historicamente acurado, exceto pelos polêmicos capacetes de uma face só. Estes nunca existiram em realidade, já que seria um ponto vulnerável em uma armadura. Mas vejo como uma decisão simbólica do diretor, já que cada combatente está lutando por seu lado da verdade.

A trilha sonora é um dos poucos aspectos que o filme peca, pois ela passa completamente despercebida. Ao contrário das outras obras de Ridley Scott como Blade Runner e Gladiador, que possuem temas e músicas marcantes.

O aspecto mais relevante do filme é o tema: o estupro. Tratando esse assunto tão delicado, de forma muito assertiva, conseguindo chocar o espectador, já que no decorrer do longa, você pode fazer vários paralelos com os dias atuais e notar que desde os primórdios, as mulheres passam pelas mesmas coisas que ocorrem nos dias de hoje, por mais que acreditemos que alcançamos um nível elevado de civilidade.

Depois de muitos erros, Ridley Scott conseguiu novamente trazer um trabalho à altura de sua filmografia. Uma narrativa muito bem estruturada e que aborda um tema extremamente atual com maturidade, O Último Duelo pode ser considerado o melhor filme do diretor desde Perdido em Marte. Você pode assisti-lo hoje mesmo através do streaming: Star+

 

Nota: 8,5

 


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