É inegável que Frank Herbert inovou o gênero de ficção científica quando lançou o livro Duna, em 1965. A obra, com quase 700 páginas, é o primeiro volume de uma saga de seis livros, que conquistou milhares de fãs ao redor do mundo e serviu de inspiração para tantas outras obras, tais como “Senhor dos Anéis” e “Star Wars”.

Depois de uma fracassada tentativa de Alejandro Jodorowsky querer adaptar “Duna” na década de 1970, a primeira adaptação cinematográfica veio após 19 anos do lançamento da obra, em 1984, pelo diretor David Lynch. Porém, apesar de a adaptação de Lynch ser bonita em se tratando de fotografia e de figurino, pecou bastante em se tratando dos efeitos visuais e, também, por não ser tão fiel assim em relação ao livro, além de ter muitos cortes e, enfim, ser uma versão extremamente resumida. Por fim, Duna” ganhou outra adaptação cinematográfica, em 2021, dirigida por Denis Villeneuve, abordando, de forma extraordinária, a primeira parte da adaptação da obra literária; com a segunda parte programada para ser lançada em 2023.

Entretanto, “Duna” ganhou outra adaptação, lançada em 3 de dezembro de 2000, em forma de minissérie para a televisão, pelo canal Sci-Fi Channel e, posteriormente, lançada em mídia física, no formato DVD, em outubro de 2001. Dividida em 3 capítulos, de aproximadamente 94 minutos cada – e um total de 282 minutos –, a minissérie consegue, com bastante esforço, fazer uma adaptação mais fiel à obra original de 1965, de forma maravilhosa e fascinante.

A trama gira em torno da “especiaria”, extraída de sua fonte, “Melange”, o mais valioso tesouro do universo, a chave para o despertar dos sentidos e a fonte da sabedoria. Somente no planeta Arrakis, também conhecido como Duna, existe esta substância valiosa, que prolonga a vida humana e fornece níveis acelerados de pensamento, além de ser altamente cobiçada com propriedades complexas. E é lá que a luta por este grande poder está para começar. Em um futuro distante da humanidade, no ano de 10.191 d.C., o Duque Leto Atreides (William Hurt, de “Viúva Negra”, 2021) aceita o cargo da administração do perigoso planeta deserto Arrakis, concedido pelo Imperador Padishah Shaddam IV (Giancarlo Giannini, de Hannibal”, 2001).

Embora o Duque Leto Atreides saiba que a oportunidade é uma armadilha intrincada pelo Barão Vladimir Harkonnen (Ian McNeice, de “Vozes do Além”, 2005), seu inimigo que deseja tomar o controle de Arrakis, o Duque Leto deixa seu planeta natal, Caladan, e leva sua concubina Bene Gesserit, Lady Jessica Atreides (Saskia Reeves, de “Regressão”, 2013), o filho e herdeiro Paul Atreides (Alec Newman, de “O Jogo dos Espíritos”, 2002) e seus conselheiros mais confiáveis para Arrakis. Leto assume o controle da operação de mineração de especiaria, que é perigosa pela presença de vermes gigantes da areia. Mas, uma amarga traição leva Paul e Jessica aos Fremen, nativos de Arrakis, que vivem no deserto profundo. Uma aliança com os Fremen fortalece Paul na luta com os inimigos, concretizando, assim, a profecia Fremen sobre o “Madhi”. Logo, Paul descobrirá que há muito mais em Duna do que aparenta.

Roteirizada e dirigida por John Harrison, e produzida pela New Amsterdam Entertainment, Blixa Film Produktion e pela Hallmark Entertainment (que também distribuiu), “Duna” é uma maravilhosa e fascinante adaptação, em vários sentidos. Primeiro, porque a adaptação em tela é bem fiel à obra original, de 1965. O formato pela qual “Duna” foi produzido – uma minissérie dividida em 3 capítulos de 94 minutos – ajudou bastante a desenvolver melhor a história, os personagens, a ambientação e, também, para explorar com mais profundidade o universo criado por Frank Herbert. O que é bastante impressionante, pois, com apenas US$ 20 milhões de dólares de orçamento, o diretor John Harrison conseguiu realizar uma proeza ao filmar e apresentar tal adaptação com um valor consideravelmente baixo para uma produção dessa magnitude.

Um dos grandes pontos positivos é a Fotografia de “Duna”. O Diretor de Fotografia italiano Vittorio Storaro foi o responsável por capturar e fotografar todos os cenários da minissérie em questão, criando uma combinação incrivelmente vislumbrante de cores, luzes e sombras em todos os ambientes, fechados e abertos. O resultado de seu impecável trabalho ficou visualmente maravilhoso e deslumbrante. A minissérie em si chama, e muito, a atenção pelo excelente trabalho visual que Storaro criou, de forma brilhante e original – com isso, a minissérie é uma das mais bonitas, visualmente falando, com uma das melhores fotografias para a época.

Outro ponto que foi muito bem trabalhado na minissérie “Duna” foi o Figurino, que ficou esteticamente muito bonito e visualmente bem condizente com a proposta e com a temática da história. O design de produção da minissérie em tela conseguiu captar a essência e reproduzir de forma excelente os conceitos de vestimentas usadas, que chegam bem próximas das caracterizadas na obra original.

Os cenários de “Duna” também são lindos e muito bem elaborados, inspirados na arquitetura barroca e tiveram todo um cuidado para construir designs gráficos que estivessem de acordo com a proposta. Mesmo que a história seja inteiramente contada em um planeta completamente desértico, o cenário e ambientação das cidades e do deserto consegue encantar com sua cenografia, que lhe concede uma identidade visual interessante, mesmo que tenha sido inteiramente filmado dentro de estúdios na República Checa, inclusive as cenas no deserto. Uma curiosidade: a estátua de Mahdi, no Sietch Tabr, foi inspirada nos Budas de Bamiã, no Afeganistão, destruídos pelo Talibã em março de 2001.

Os Efeitos Especiais também ficaram impecáveis, para a época. A produção soube aproveitar, e bastante, a computação gráfica para construir os efeitos CGI, além de toda a ambientação e cenas digitais que requereram o uso dessa tecnologia para criar os efeitos especiais necessários para o melhor desenvolvimento da história. Os recursos práticos utilizados também não ficaram atrás, conseguindo satisfazer a proposta apresentada e proporcionando um resultado satisfatório. Para se ter uma ideia, o brilho azul dos olhos dos Fremen é uma combinação de lentes de contato especiais para luz ultravioleta e filtros ultravioleta nas câmeras.

O Elenco de “Duna” está excelentemente impecável, extremamente convincente e também, foi perfeitamente escolhido para seus personagens. Não há muitos atores conhecidos – sendo William Hurt e Ian McNeice os dois mais famosos – e isso se explica pelo fato de o personagem Paul Artreides poder ganhar mais destaque na trama, sendo ele, obviamente, o personagem central. Mas isso não tira o holofote e a magnitude de cada um dos outros personagens, que atuaram com perfeição. William Hurt foi o primeiro ator a ser escalado na minissérie, tendo declarado que é muito fã da obra literária e que gostaria de ter participado da adaptação cinematográfica de 1984, mas, depois, declarou que ficou feliz em não ter conseguido, pois ele não gostou do filme. A atriz Saskia Reeves também fez uma atuação maravilhosa como Jessica Artreides; ela conseguiu captar e transmitir toda a essência que a personagem original do livro descreve, sendo uma mulher forte e determinada que, embora não fosse esposa oficial do Duque, conseguiu assumir a liderança em todos os aspectos, sendo admirada pelos demais personagens. Não menos importante, Alec Newman também está perfeito como Paul Arteides, conseguindo transmitir de forma positiva toda a evolução que o personagem precisou passar durante a narrativa. Vale destacar que vários personagens Fremen foram interpretados por atores checos.

Por fim, vale destacar que “Duna” ganhou dois prêmios Emmy em 2001, de Melhor Efeitos Especiais em uma minissérie e de Melhor Diretor de Fotografia para Vittorio Storaro. Também foi indicado a uma terceira categoria, de Melhor Edição de Som.

A minissérie “Duna” conseguiu se destacar no ano 2000 por ser uma ótima produção de ficção científica e fantasia, que engloba vários temas, tais como política, geopolítica, filosofia, religião, tecnologia, ecologia e biologia, além de conter vários elementos sociais. Sem contar, também, que toda a estrutura narrativa da trama se baseia em conflitos políticos e empresariais entre casas/famílias nobres, regidas pelo sistema feudal, onde se aborda a ganância pelo poder de controlar o planeta Arrakis, que é muito disputado pelas suas riquezas.

As quase 5 horas de duração desta minissérie se faz necessária para melhor desenvolver, em todos os aspectos, toda a narrativa traçada pelo roteiro, que objetivou, da melhor forma possível, extrair fielmente a obra original, de 1965. Todos os personagens, a ambientação, ecologia do planeta, diálogos e eventos nele ocorridos foram desenvolvidos e explorados de forma maravilhosa e espetacular.

Romance e ação também são elementos que não faltam nesta grandiosa adaptação, que, obviamente, não poderiam ficar de fora de uma narrativa como esta. Todos esses elementos foram explorados na mesma medida, conforme a proposta exigia. Com isso, a minissérie em questão conseguiu combinar todos os aspectos da produção, desde a escolha do elenco, passando pela excelente Fotografia, Efeitos Especiais, Cenário e Figurino, até, finalmente, realizar um trabalho impecável na pós-produção, incluindo os efeitos visuais necessários para o melhor resultado possível.

Duna” é uma excelente adaptação, que, de forma fascinante, conseguiu transpor em praticamente quase toda sua essência original para as telas. É um prato cheio para todos os amantes da ficção científica, baseado em uma obra homônima que é considerada uma das maiores referências literárias do gênero de ficção científica moderna e que serviu de inspiração para outras obras subsequentes. Ganhou uma sequência, “Filhos de Duna”, em 2003, com James McAvoy.

A minissérie “Duna”, de 2000, está disponível para assistir no YouTube.

Nota: 9.5


Entre aqui para ler a crítica do filme Duna (1984).

Entre aqui para ler a crítica do filme Duna (2021).

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