Primeira adaptação feita de “Duna” tem um ótimo elenco e visual, mas fracassa em trazer o rico universo de Frank Herbert à vida.

Em 10.191 d.C., a substância mais cobiçada do universo é a Especiaria, encontrada somente no planeta desértico Arrakis, conhecido como Duna. Depois que seu pai é assassinado pelo cruel Barão Harkonnen, o jovem Paul Atreides descobre que seu destino está ligado à Duna, onde terá início uma batalha monumental que irá redefinir o cosmos.

Duna foi uma obra lançada em 1965 que conquistou milhares de fãs ao redor do mundo e criou diversos conceitos que foram aproveitados por obras e franquias mais conhecidas pelo público geral, como “Star Wars” e até mesmo “Game of Thrones”. Logo surgiu um interesse de adaptar a obra para os cinemas (incluindo uma tentativa falha pelo diretor Alejandro Jodorowsky), e foi então que o diretor e roteirista em ascensão, David Lynch (O Homem Elefante, Eraserhead), foi contratado para comandar o projeto.

Lynch hoje em dia renega o filme e afirma que a produção foi um pesadelo completo. Reza a lenda que a sua versão de “Duna” teria mais de três horas de duração, mas o cineasta teve sua visão criativa barrada pela universal Pictures e os produtores Dino e Raffaella Lauretiis (Conan: O Bárbaro, Halloween 2), que forçaram ele a fazer um corte de 2 horas e 17 minutos.

A história de Duna é mais simples do que muitos imaginam, e o diretor mantém essa base no filme de 84, onde acompanhamos uma guerra galáctica de duas famílias nobres em um planeta deserto onde uma especiaria que serve como uma das coisas mais importantes de todo o universo é produzida.

O elenco é talvez uma das poucos coisas boas desse filme, com destaques para Kyle MacLachlan (Veludo Azul, Twin Peaks) como Paul Atreides, Patrick Stewart (Logan, As Panteras) como Gurney Halleck, Sting (Bee Movie, Zoolander 2) como Feyd Rautha, Paul L. Smith (Pieces) como Rabban e Brad Dourif (Brinquedo Assassino, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei) como Piter De Vries.

Outro pontos a serem destacáveis de maneira positiva são a fotografia feita por Freddie Francis (Cabo do Medo Os Inocentes), os figurinos e cenários práticos. O filme possui cenas muito bonitas, todo o design de produção, figurinos e cenários são belos, dando uma boa identidade visual para o filme e de certa forma fazendo boas adaptações do livro.

Já os efeitos visuais não receberam o mesmo tratamento da fotografia, figurinos e efeitos práticos. Mesmo sendo um filme relativamente antigo, ele tem efeitos especiais que na época já são datados e vergonhosos, sendo o mais famoso os escudos corporais usados pelos personagens que viraram polígonos bizarros de cgi que te fazem dar boas gargalhadas.

Sou um grande fã de Duna e da obra de Frank Herbert, então um tópico que não posso deixar de abordar são as descaracterizações dos personagens. Embora os visuais e alguns atores tenham de fato ficado bons, alguns personagens incríveis como a Lady Jessica (Francesca Annis), Duke Leto Atreides (Jurgen Prochrow), Stilgar (Everest McGill), Chani (Sean Young) e Duncan Idaho (Richard Jordan) mal tem tempo de tela e quando aparecem, são para dar diálogos expositivos desinteressantes e não possuem um pingo de personalidade.

O barão Harkonnen (vivido por Kenneth McMillan) é de longe uma das piores coisas do filme. Seu visual grotesco e cheio de feridas é uma mudança interessante feita pelo diretor, mas sua personalidade sofre de uma canastrice sem tamanho que acaba deixando o personagem muito caricato e bobo. No livro o barão é sim um personagem meio estereotipado, sendo um vilão até mesmo meio genérico, mas possui uma presença imponente e é um grande estrategista.

O maior problema do filme no entanto é a sua história completamente apressada que quer apresentar esse mundo rico, complexo, cheio de tramas, personagens e mensagens tudo de uma maneira compactada que faz absolutamente tudo ficar desinteressante e monótono. A primeira metade do filme é até interessante com uma tentativa de apresentar o universo de Duna, mas se perde completamente após o “ato de traição” e o twist da trama.

Sou um grande fã da filmografia de David Lynch e "Twin Peaks" é uma das minhas séries favoritas da vida, mas um dos grandes problemas dessa adaptação estão nos famosos “Lynchianismos” presentes nela. A história do livro começa com o sonho de Paul Atreides em Arrakis conhecendo a personagem Chani, e esses sonhos voltam a ter uma importância geral na trama mais a frente no livro. O diretor tem uma visão muito particular dos sonhos e explora isso em todas as suas obras, e ele aproveita que Duna tem esses elementos e expande de uma maneira nada orgânica que arrasta a história (principalmente o seu terceiro ato interminável), deixando tudo bem mais confuso. Um caso a ser estudado onde algo característico de um diretor que casa com a história base não funciona de maneira nenhuma.

“Duna” de David Lynch é a primeira adaptação “bem sucedida” da obra de Frank Herbert, no entanto se perde ao tentar contar essa história tão complexa em um filme de 2 horas e meia. Não é um desastre completo como muitos pintam, mas está muito abaixo do que se espera de uma adaptação de uma obra tão complexa por um diretor de tão alto nível. 

Nota: 5

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