Denis Villeneuve faz o que muitos julgavam impossível e entrega uma adaptação quase perfeita da primeira parte de “Duna”, com uma produção e elenco de primeiro nível.

Em um futuro distante, planetas são comandados por casas nobres que fazem parte de um império feudal intergalático. Paul Atreides (Timothée Chalamet) é um jovem homem cuja família toma controle do planeta deserto Arrakis, também conhecido como Duna. Sendo a única fonte da especiaria melange, a substância mais importante do cosmos, Arrakis se prova ser um planeta nem um pouco fácil de governar.

Sempre fui um grande fã de Duna e li o livro pela primeira vez na minha adolescência e explodiu a minha cabeça com tantos conceitos de ficção científica únicos e que foram reaproveitados por outras obras como “Star Wars”. Frank Herbert criou em 1965 uma das histórias de ficção científica mais inspiradoras de todos os tempos envolvendo mundos, criaturas e personagens fantásticos, com um mundo repleto de intrigas políticas e religiosas que te prendem o tempo todo.

Duna já foi adaptado pelo diretor David Lynch (O Homem Elefante, Eraserhead) em um filme completamente conturbado que sofreu de intervenções dos produtores e do estúdio, sendo renegado pelos fãs e o próprio diretor. Nos anos 2000 o canal de TV SyFy fez uma minissérie de Duna que embora não tenha sido completamente rejeitada pelo público e os fãs, não foi considerada uma boa adaptação. Foi então que o aclamado diretor Denis Villeneuve (A Chegada, Blade Runner 2049) assinou com a Warner Bros. e a Legendary para dirigir o reboot de Duna para os cinemas. Um grande fã da história e dos livros, Villeneuve se cercou de grandes nomes da indústria para realizar o sonho de adaptar Duna, dividindo a história em duas partes.

Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome, Adoráveis Mulheres) como Paul Atreides é uma escolha mais do que perfeita. O ator não só casa com as descrições feitas por Herbert, como sua atuação vende completamente o personagem. Chalamet faz um excelente trabalho em mostrar o amadurecimento, incertezas, medos e poderes de Paul, provando sim que tem cacife para ser um grande astro de Hollywood e estrelar grandes produções.

Já o elenco no geral é formado por grandes nomes de Hollywood, e foram todas escolhas mais do que acertadas. Os grandes destaques são Oscar Isaac (Star Wars: Os Últimos Jedi) como Duke Leto Atreides, Jason Momoa (Aquaman) como Duncan Idaho, Josh Brolin (Vingadores: Ultimato) como Gurney Halleck, Charlotte Rampling (Melancolia) como Reverenda Mãe Gaius Helen e Stellan Skarsgard (Gênio Indomável) como o Barão Vladimir Harkonnen, que está com uma maquiagem impressionante.

Zendaya (Euphoria), Javier Bardem (Onde Os Fracos Não Têm Vez) e Dave Bautista (Guardiões da Galáxia) tem pouco tempo de tela mas fazem trabalhos bem competentes. Mas os personagens que mais sofrem nessa adaptação são Piter De Vries (David Dastmalchian), Lady Jessica (Rebecca Ferguson) e o Dr. Yueh (Chang Chen). Enquanto Piter não possui a sua personalidade de psicopata sangue frio descontrolado, Lady Jessica é a personagem que tem seus diálogos e momentos mais importantes cortados, e sua personalidade é bem suavizada. Já o Dr Yueh não tem um desenvolvimento que explique sua motivação de trair os Atreides e muito menos o arrependimento que carrega enquanto faz isso, basicamente matando o personagem e fazendo seu arco perder o sentido.

A direção de Villeneuve é esplêndida, e as cenas de ação são muito bem filmadas, dando para entender o que está acontecendo sem muitos cortes. Mas um dos maiores brilhos dessa nova adaptação de Duna é a fotografia de Greig Fraser (The Batman, Rogue One: Uma História Star Wars), que faz um trabalho soberbo, cada frame do filme é lindo e parece ser uma pintura.

Os figurinos, visuais e cenários e ambientações são impecáveis, os designs das naves, planetas e criaturas são ricos, diferentes e lindos. Os efeitos especiais também são de primeiro nível, mostrando o grande cuidado e investimento em criar esse mundo tão imersivo. Os únicos momentos em que o gci fica aparente são os planos em que ele foca no deserto e viaja por ele, mas é apenas um mínimo detalhe.

Durante toda a promoção do filme, o diretor e a equipe suplicaram para as pessoas assistirem o filme nos cinemas e não na HBO Max (visto que o longa estreia no mesmo dia tanto no streaming quanto nos cinemas). Eu normalmente sou contra esse tipo de imposição, mas tanto o trabalho visual quanto o trabalho sonoro de Duna é de primeira qualidade. Tanto o design e a mixagem do som são excelentes e fazem todo  seu corpo tremer, um bom exemplo são os momentos em que Paul e Jessica utilizam suas habilidades envolvendo as vozes.

O renomado compositor Hans Zimmer (A Origem, Batman: O Cavaleiro das Trevas) volta a trabalhar com Villeneuve após “Blade Runner 2049” e entrega um de seus melhores trabalhos (e com certeza um dos mais diferentes). Zimmer faz composições lindas e que trazem o tom épico que o filme pede, mas ainda assim cria temas ameaçadores e estranhos para momentos necessários, como a introdução dos Harkonnens e dos Sardaukars. Ele disse em uma entrevista recente enquanto promovia o filme que chegou a criar instrumentos para criar algumas faixas da trilha sonora.

Em alguns momentos o ritmo e a narrativa do filme ficam acelerados e apelam para alguns diálogos expositivos para explicar alguns plots da história e detalhes do mundo muito rapidamente. Já na metade do filme o diretor estende algumas sequências que deixam o longa um pouco arrastado. Contudo, a edição e montagem do filme fazem um trabalho competente em nunca deixar o filme chato ou desinteressante, sendo outro ponto muito positivo.

Um dos “problemas” do filme é a sua necessidade de uma segunda parte que traga a conclusão dessa história. O diretor adapta exatamente metade do livro de Duna, e encerra em um ótimo momento deixando diversas pontas soltas. Embora a sequência não esteja 100% anunciada, Villeneuve revelou que os roteiros da sequência já estão nos estágios finais de escrita e caso o primeiro filme faça sucesso, espera poder começar a filmar ainda no fim de 2022.

“Duna” de Denis Villeneuve não é uma adaptação perfeita e comete alguns pequenos erros ao adaptar alguns personagens, arcos e se apoia muito na possível 2ª parte para dizer ao que realmente veio. No entanto, entrega uma excelente adaptação de um livro que moldou muitos “nerds” e a cultura pop como conhecemos hoje, com uma produção irretocável que com toda certeza levará diversos prêmios nas premiações, fazendo justiça à magnífica obra de Frank Herbert e entregando um épico. Que venha a 2ª parte!

Nota: 9.5 

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem