Certos filmes são tão emblemáticos que, além de terem se tornado clássicos eternos, ainda conseguem carregar a responsabilidade de deixar um legado gigantesco como um marco na história cinematográfica. E o legado que um filme carrega tem um peso tão grande, que acaba tornando-o ainda mais valioso – haja vista que tal filme sobreviveu a tanto tempo a ponto de legar.

O Predador” (1987), “Indiana Jones” (1981), “Brinquedo Assassino” (1988), “Matrix” (1999), “Star Wars” (1977), entre outros, são exemplos de clássicos que deixaram um legado importante para a indústria cinematográfica, sobreviveram ao tempo e seu material ainda é explorado até hoje. É claro que o filme “Os Caça-Fantasmas” (1984) não poderia ficar de fora.

Para fazer um revival, seja de um filme ou de uma série, é necessário entender o valor, a preciosidade e o peso histórico do clássico original, tal como se estivesse segurando um grande vaso da Dinastia Ming enquanto se anda em ovos. Em outras palavras, precisa-se respeitar a franquia, objeto pelo qual está sendo reciclado e voltando às telonas (principalmente depois de vários anos do lançamento do original), com o perigo, caso contrário, de acender a fúria de milhares de fãs das obras originais caso não se faça uma produção bem feita.

Dito e feito isso, a aposta de um ressurgimento irá despertar uma enorme nostalgia dos fãs, bem como conseguir abrir portas para conquistar novas gerações; além de mais sequências também. Porém, fazer um revival de “Ghostbusters: Mais Além” tem suas responsabilidades a cumprir, pois essa sequência também exige fatores que devem ser levados em consideração e, (talvez) acima de tudo, há riscos a serem tomados. Riscos estes que a produção assume para que determinado filme em questão obtenha mais acertos do que erros.

É com muita exigência que os fãs mais fervorosos aceitem e gostem de uma obra reinventada e atualizada (e acrescento, também, uma roupagem nova em relação a determinados elementos contidos na trama, dependendo do filme), seja ela qual for. No caso em tela, “Ghostbusters: Mais Além” anda com muita dificuldade em uma corda bamba, segurando o tal vaso da Dinastia Ming e tentando impedir que vários ovos se quebrem; e o filme em questão o faz para tentar entregar aos fãs um material digno de respeito, que, quando saiam das salas de cinemas, estejam satisfeitos com o produto final.

Na trama de “Ghostbusters: Mais Além”, após ser despejada do apartamento, Callie, uma mãe solteira à beira da falência, resolve se mudar para Summerville, uma pequena cidade do interior, com seus dois filhos, Trevor (Finn Wolfhard, de “Stranger Things” e “It – A Coisa”) e Phoebe (Mckenna Grace, de “Young Sheldon” e “A Maldição da Residência Hill”), para morar na antiga fazenda herdada do pai. Ao chegar na nova casa, Callie e os filhos acabam descobrindo uma conexão do falecido pai com os Caça-Fantasmas originais e que ele deixou para trás como legado para sua família. Quando a cidade começa a experimentar uma série de terremotos inexplicáveis, acontecimentos paranormais começam a acontecer e só tem um jeito de Trevor e Phoebe acabar com essas entidades estranhas antes que a cidade seja destruída: continuar com o legado do avô e reviver os Caça-Fantasmas.

Com um orçamento de US$ 120 milhões de dólares e distribuído pela Sony Pictures Entertainment, “Ghostbusters: Mais Além” é dirigido por ninguém menos do que Jason Reitman, filho do diretor do filme original, Ivan Reitman. Jason Reitman assina a produção juntamente com Gil Kenan, além de também participar da produção. A produção ainda conta com Ivan Reitman e com Dan Aykroyd (responsável por criar os personagens originais com Harold Ramis, além de interpretar Ray Stantz nos filmes). O filme em tela já ganha um ponto positivo por estar nas mãos dos responsáveis pelo material original, que souberam como produzir uma sequência de respeito, e a conduziram com enorme responsabilidade após 37 anos. Ninguém menos digno do que os próprios responsáveis pelo original para continuar a trabalhar no material que eles mesmo criaram.

Ghostbusters: Mais Além” trouxe de volta o que há de melhor na obra original, em termos de história, referências, homenagens e, sobretudo, em relação aos efeitos especiais. Uma sequência desse porte, depois de 37 anos de inércia, é mais do óbvio que os efeitos visuais e sonoros são excelentes, fazendo jus à tecnologia que temos hoje e, também, dado o valor investido na produção. Não é de se esperar que o investimento em efeitos especiais no longa falhasse, levando em consideração que os responsáveis pela produção sabem a importância de inovar, modernizar e utilizar os recursos tecnológicos disponíveis em suas mãos.

O filme em tela consegue, e muito, satisfazer a nostalgia dos amantes do primeiro longa ao trazer todos os elementos presentes no original que, lógico, não poderiam deixar de estar presentes. Para começar, o carro oficial dos Caça-Fantasmas, Ecto-1, com sua inconfundível sirene. Mas, desta vez, o icônico veículo inova ao trazer novos dispositivos para caçar fantasmas e outras entidades nas aventuras supernaturais. A clássica propaganda em que os três integrantes originais dos Caça-Fantasmas anunciam na televisão, com um número de telefone para ligar, também está presente.

As mochilas de prótons e a caixa de armadilha para fantasmas, criadas por Egon Spengler (Harold Ramis), também estão presentes, é claro. Não se poderia caçar e capturar as criaturas sem tais equipamentos. Detalhe que “Ghostbusters: Mais Além” inova ao trazer equipamentos modernizados, além dos já vistos no original.

Monstros, fantasmas e entidades sobrenaturais: apesar de poucos fantasmas terem, de fato, aparecido em tela, “Ghostbusters: Mais Além” agracia o público com criaturas e vilões já conhecidos no original. Zuul, o cão demoníaco, e a entidade Gozer, voltam mais uma vez como vilões principais do filme. Os efeitos visuais e sonoros destes vilões estão mais do que perfeitos, dando uma realidade muito maior às criaturas, em comparação ao longa de 1984. Depois de 37 anos, já era mais do que se esperar a melhoria destes recursos, claro.

Várias miniaturas do Stay Puft também aparecem no longa, servindo mais como alívio cômico do que como uma ameaça propriamente dita, tal como foi apresentado ao público anteriormente; contudo, esta entidade em específica cumpre uma análise, que será explicada mais tarde nesta Crítica. E, para finalizar este tópico, não poderia faltar, também, a entidade Geléia: porém, o que vemos neste novo filme é uma versão um tanto diferente do que estamos acostumados a ver nos filmes anteriores. Particularmente, não gostei muito desta versão apresentada, pois não há necessidade de ter trocado o visual deste personagem em específico.

Em relação ao elenco, “Ghostbusters: Mais Além” juntou duas gerações ao colocar novos atores como protagonistas principais e trazer o elenco original do primeiro filme. A produção acertou em cheio ao escalar excelentes atores novos, que são nomes de peso para darem sequência à franquia. Além dos já citados Finn Wolfhard e Mckenna Grace, Paul Rudd (de “Homem-Formiga”, 2015) e Carrie Coon (de “Garota Exemplar”, 2014) se juntam ao elenco dos novos protagonistas.

Bill Murray, Dan Aykroyd e Ernie Hudson voltam a reprisar seus respectivos personagens, Peter Venkman, Ray Stantz e Winston Zeddemore; mas, apenas para uma participação não tão grande quanto os fãs mais antigos gostariam. Lembrando que o personagem de Harold Ramis, Egon Spengler, foi criado digitalmente para fazer uma pequena “participação” (dado o contexto do enredo), haja vista que o ator faleceu em 2014. Para completar o elenco nostálgico, Annie Potts volta a interpretar Janine Melnitz e Sigourney Weaver volta como Dana Barrett. Infelizmente, Rick Moranis é o único do elenco original que não participa da sequência, com seu engraçado personagem Louis Tully.

Uma curiosidade muito interessante presente em “Ghostbusters: Mais Além” pode ser percebida em dois momentos em que o professor Gary Grooberson (Paul Rudd) coloca dois filmes antigos em VHS na sala de aula para que seus alunos assistam. O primeiro filme é “Cujo” (1983), que é sobre um cão raivoso que ataca pessoas. O segundo filme é “Brinquedo Assassino” (1988) – dispensa apresentações –, na cena em que a mulher confronta Chucky e este morde o braço dela.

Estes dois filmes em questão (em especial a cena específica do segundo filme vista no momento exato em tela), apresentam um aspecto interessante e, se prestarmos a atenção no desenrolar da trama de “Ghostbusters: Mais Além”, se relacionam; ao passo em que há um cão raivoso no filme “Cujo” e, também, mais tarde, um cão demoníaco aparece em cena correndo atrás de dois personagens (que não irei identificar aqui). A cena específica de “Brinquedo Assassino” apresentada em “Ghostbusters: Mais Além” também é entendida como um ícone, pois, mais tarde, praticamente o mesmo ocorre entre o professor Gary e uma miniatura do Stay Puft. Foram duas sacadas muito bacanas e bem conectadas.

Porém, nem tudo é um mar de rosas. “Ghostbusters: Mais Além” também apresenta alguns erros. A primeira dela tenta vender a extrema inteligência e capacidade técnica dos personagens mirins para resolverem seus respectivos problemas em tela. Trevor, o irmão mais velho, então com 16 anos, tem excelente conhecimento em consertar carros (principalmente um que não funciona há 37 anos; além de o filme não mostrar resolução alguma acerca do combustível para o carro andar), apesar de ter repetido na prova de direção três vezes. Enquanto isso, a irmã mais nova, Phoebe, tem um alto conhecimento em física, conseguindo consertar as mochilas de prótons.

É lógico que o filme em tela oferece um suporte bem conveniente para ajudá-los a resolverem suas dificuldades – o qual especificamente não será explicado aqui –; ajuda sem o qual, as crianças não conseguiriam resolver. Porém, é uma ajuda um tanto conveniente demais, excessivamente falando, que precisa estar presente para o seguimento da trama. Levando em conta que “Ghostbusters: Mais Além” saiu da loucura da cidade grande e apresentou um ambiente bem mais familiar para a história, seria lógico apresentar este elemento em específico, mas não justifica forçar a trama dessa maneira para suprir obstáculos dos personagens mirins.

A questão geral dos problemas acima citado é que o filme tentou vender a ideia de apresentar personagens mirins como os novos Caça-Fantasmas. Precisa-se analisar até onde essa ideia é plausível e como explorá-la, haja vista que o filme em tela deixar a entender que pretende expandir esse universo e dar mais sequências para novas gerações. Mas ainda é cedo para saber se tal ideia dará certo. Mas, a meu entender, é um tanto forçado demais colocar crianças conseguindo resolver os problemas de forma bem prática e conseguindo caçar os fantasmas e entidades sobrenaturais com equipamentos pesados e super perigosos.

Outro erro foi perceber, pelo quadro geral, que a história principal que serve como pano de fundo para o filme em tela é basicamente a mesma que o filme original. Gozer, o mesmo vilão do primeiro longa, quer voltar para este universo, utilizando os cães demoníacos, que perseguem dois personagens adultos, para transformá-los no Porteiro e no Guardião. Em outras palavras, “Ghostbusters: Mais Além” é uma releitura do primeiro filme, de 1984, de uma forma modernizada, com uma nova roupagem e novos atores. A única diferença é que, no filme em questão, é claro que as crianças não conseguem dar conta de resolver o problema sozinhas, conseguindo receber ajuda dos integrantes principais, que fazem uma pequena participação ao final do longa – o que encheu o coração dos fãs com mais nostalgia ainda.

Por fim, uma outra coisa que senti extremamente falta em “Ghostbusters: Mais Além” foi tocar a música tema clássica dos Ghostbusters, interpretada por Ray Parker Jr., durante o longa. Diga-se, de passagem, que a música toca somente depois que o filme termina, durante os créditos finais, mas aí, é logico, que não conta. Para o deleite dos fãs do clássico original, seria mais lógico que a música fosse tocada durante o filme.

Ghostbusters: Mais Além” é um revival que resgata o que há de melhor na franquia original, trazendo de volta tudo de mais nostálgico que os fãs gostariam de reviver nas telonas. Para isso, a nova sequência inovou ao dar uma modernizada e uma nova roupagem para o novo longa, adaptando-a aos dias de hoje com novos elementos e integrando uma nova geração; o que, talvez, tenha desagradado os antigos fãs em alguns pontos, haja vista que, para os fãs das antigas, fica mais difícil engolir uma nova equipe de Caça-Fantasmas formada por crianças e adolescentes, principalmente as quais são, convenientemente, absurdamente geniais em saber manusear equipamentos atômicos e mecânicos.

Enquanto o original de 1984 é, essencialmente, uma comédia de ação, “Ghostbusters: Mais Além” dá uma guinada e traz ao público um filme mais familiar; mas, ainda assim, tem os elementos clássicos nostálgicos do primeiro longa para satisfazer o saudosismo dos fãs mais antigos. “Ghostbusters: Mais Além” conseguiu reviver um clássico atemporal de forma atualizada, principalmente com seus efeitos especiais – bem melhorados –, carregado de excelentes homenagens e referências ao clássico de 1984, para o deleite de muitos fãs saudosistas.

E, para finalizar, “Ghostbusters: Mais Além” conta com duas cenas pós créditos, sendo que a segunda cena é bem mais importante e significativa, haja vista que abre portas para novas sequências, mostrando um vislumbre do que podemos esperar sobre o futuro da franquia.

Ghostbusters: Mais Além” está disponível na HBO Max.

Nota: 7.0

 

Entre aqui para ler a Crítica do filme “Os Caça-Fantasmas” (1984).

Entre aqui para ler a Crítica do filme “Os Caça-Fantasmas 2” (1989).

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