David Lowery entrega um filme corajoso, lúdico, ambíguo e visualmente incrível que reconta uma das lendas arturianas.

Uma aventura épica de fantasia baseada na lenda atemporal de Arthur, A Lenda do Cavaleiro Verde conta a história de Sir Gawain (Dev Patel), o sobrinho imprudente e obstinado do Rei Arthur, que embarca em uma ousada jornada para enfrentar o Cavaleiro Verde de mesmo nome, um gigante de pele esmeralda estranho e testador de homens.

O novo aguardado filme do diretor David Lowery (Sombras da Vida, Meu Amigo, o Dragão) é uma adaptação de um poema/conto das famosas lendas arturianas focando no sobrinho do Rei Arthur (Sean Harris). Lowery, que assina o roteiro também, se juntou à produtora A24 para produzir o filme e trazer uma visão bem particular do conto.

Logo de cara uma coisa precisa ser dita, esse filme não é para todos. Pode soar um comentário um tanto prepotente e elitista, mas o filme tem uma narrativa arrastada e simbolismos que não são do agrado de todos. As mensagens do filme e o seu final são completamente ambíguos e gerarão diferentes interpretações de cada telespectador. Muito disso se dá pelo tom lúdico da história, que faz o protagonista ser um narrador não confiável.

Considero o diretor David Lowery um dos melhores e mais interessantes de sua geração. “Sombras da Vida” é um dos meus filmes favoritos da vida, e considero admirável como o diretor consegue transitar entre gêneros completamente diferentes, visto que seu próximo filme depois de “A Lenda do Cavaleiro Verde” é o live-action infantil de “Peter Pan e Wendy” produzido para o serviço de streaming Disney+.

Mas sem dúvidas o grande ponto alto do filme é a cinematografia de Andrew Droz Palermo (Sombras da Vida, Você é o Próximo), que é simplesmente perfeita e capaz de criar composições visuais lindas. Já os efeitos práticos e especiais estão perfeitos, e junto com o trabalho do compositor Daniel Hart (Sombras da Vida, Pioneer), constroem a escala épica e em alguns momentos assustadora do filme.

Um aspecto bem interessante do filme é a montagem e o formato adotado pelo diretor para contar a história, dividindo o longa em capítulos com títulos diferentes. Essa escolha do diretor remete ao formato de livros e contos, com um título utilizando uma fonte que remete a histórias antigas para iniciar novas passagens da aventura de Gawain.

Já o ator principal do filme, Dev Patel (Quem Quer Ser um Milionário, Lion: Uma Jornada Para Casa) está ótimo. Ele consegue mostrar o medo, a covardia, a pretensão e ânsia por reconhecimento que seu personagem necessita, sendo uma das melhores interpretações da carreira do ator. 

O resto do elenco principal composto por Sean Harris (Missão Impossível: Efeito Fallout, Prometheus), Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa, Ex Machina), Kate Dickie (A Bruxa, Star Wars: Os Últimos Jedi), Barry Keoghan (Dunkirk, O Sacrifício do Servo Sagrado), Joel Edgerton (Guerreiro, O Grande Gatsby) e Erin Kellyman (Solo: Uma História Star Wars, Falcão e o Soldado Invernal) entregam ótimas interpretações que trazem nuances á seus personagens e a jornada de Gawain. Mas quem rouba realmente a cena é o ator Ralph Ineson (Chernobyl, A Bruxa) como o Cavaleiro Verde. Seu incrível visual somado a voz grossa do ator fazem ele ser imponente e assustador.

O final do filme é muito dúbio e deixa diversas interpretações sobre qual seria o tema principal da história. O filme tem um possível simbolismo e crítica a relação abusiva que o ser humano tem com a natureza, com toques de realismo e existencialismo. Mas sobretudo, a principal temática do filme é a honra de um cavaleiro.

Ao longo da jornada de Sir Gawain, vemos ele ser testado por diversos personagens, o filme abre com sua mãe pedindo que ele tenha mais responsabilidade, ele se aproximando do rei e aceitando duelar com o Cavaleiro Verde e tendo que arcar com as suas consequências, se negando a ajudar aqueles que encontra e sofrendo as consequências. 

Todas as ações de Gawain mostram que ele não possui a honra de um cavaleiro, que culmina na sequência final entre o protagonista e o Cavaleiro Verde, onde ele finalmente mostra ter conquistado a tal honra e coragem.

“A Lenda do Cavaleiro Verde” não é um filme para todos, mas é um filme que todos deveriam dar uma chance. Ele sofre de um ritmo lento e final ambíguo, mas que traz um visual espetacular e apresenta um conto clássico de uma maneira épica.

Nota: 9

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