Após assistir aos 3 filmes de “Rua do Medo” e escrever a Crítica de cada Capítulo separadamente, agora resolvi fazer uma análise geral da Trilogia como um todo e, para isso, é necessário que se faça um aprofundamento maior a respeito de determinados aspectos da trilogia. Então, para isso, é preciso alertar que esta Crítica Geral da Trilogia “Rua do Medo” TERÁ SPOILERS.
Se você ainda não assistiu aos três filmes e não queira ler Spoilers, então pare aqui e volte depois que tiver assistido a trilogia. As Críticas de cada um dos 3 filmes estão disponíveis no Fórum Nerd e elas não têm Spoilers.
Caso queira
ler esta Crítica Completa da Trilogia, mesmo sabendo que contém SPOILERS, continue por
sua conta e risco.
Acesse os links abaixo para ler as Críticas de cada Parte, SEM Spoilers:
*SPOILERS A PARTIR DAQUI:
A
Trilogia “Rua do Medo” já está disponível na Netflix desde o dia 16 de julho e é
baseada na premiada obra homômina de R. L. Stine (título original: Fear Street),
grande coleção de clássicos dos anos 90 que já ultrapassou 50 livros e faz
grande sucesso entre o público infanto-juvenil.
Porém,
a história específica que foi adaptada para as telas não existe exatamente nos
livros; ou seja, a história contada nos filmes não é uma história original do
escritor. A diretora e co-roteirista Leigh Janiak (de “Honeymoon”), juntamente
com a equipe de roteiristas da trilogia, Kyle Killen, Phil Graziadei, Zak
Olkewicz e Kate Trefry, se inspiraram na vasta coleção de livros de Stine e nas
histórias sobre a mitologia para servir de base para a criação de uma história
original e escrever o roteiro, dividido em 3 Partes.
“Rua do Medo” conta a história de um grupo de adolescentes em Shadyside, em 1994, que é assombrado por uma maldição que assola a cidade há séculos e eles começam a ser perseguidos por entidades sobrenaturais. Agora, para sobreviver aos assassinatos macabros, os amigos têm que descobrir a origem da maldição, que data desde o ano de 1666, quando Sarah Fier foi enforcada por bruxaria.
A Trilogia é narrada de forma não linear, ou seja, a história não é contada na
sequência correta. De forma que a Parte 1 se passa em 1994, se desenrola com
assassinato de alguns adolescentes por forças sobrenaturais e termina no
momento em que Christine Berman, uma das sobreviventes do massacre de 1978,
entra em contato com Deena Johnson (Kiana Madeira) para explicar como ela
conseguiu sobreviver ao massacre 16 anos antes. Deena, então, pede ajuda para
salvar sua namorada, Sam, que foi possuída pela maldição.
A Parte 2 começa com Christine contanto à Deena sobre a chacina no acampamento em 1978, de modo que o filme faz uma retrospectiva direta do acontecimento (como se Christine estivesse narrando a história diretamente para quem está assistindo), mostrando um pouco mais sobre a maldição, a rivalidade entre os moradores de Shadyside e Sunnyvale e, por fim, os assassinatos dos campistas.
Ao final da “Parte 2: 1978”, quando Deena e seu irmão Josh conseguem juntar os ossos da mão com os restos mortais de Sarah Fier e o sangue de Deena se junta à ossada, Deena consegue ter acesso às memórias de Sarah, remetendo-a ao ano de 1666, o ano do enforcamento de Fier e o começo da maldição. E é a partir deste ponto que se desenrola a história retratada na Parte 3, mostrando os colonos fundando o Condado de Union, que é a área onde, anos depois, seria Shadyside e Sunnyvale.
A primeira metade do filme “Parte 3: 1666” narra Deena, na perspectiva das memórias dos últimos dias de Sarah, descobrindo o real motivo de Sarah Fier ter sido perseguida e enforcada, bem como se originou a maldição. Após Deena (aos olhos de Sarah) descobrir que os antepassados da família Goode já habitavam as terras de Union e que o responsável pelo início da maldição começou com Solomon Goode após ele roubar um livro de bruxaria para ter prosperidade. Para não levantar suspeitas, Solomon Goode aproveita-se do fanatismo religioso do Condado pelo líder religioso local para colocar os colonos contra Sarah Fier por bruxaria, pois espalhou-se no Condado o boato de que Sarah tinha uma relação muito íntima com Hannah, a filha do pastor. O resultado foi que o condado é influenciado a acreditar que Sarah é bruxa e se revoltam contra ela, sendo perseguida e enforcada pelos colonos, que a culparam por tudo de ruim que aconteceu em Union, culminando na lenda da bruxa que assola Shadyside até o ano de 1994.
A segunda metade do filme “Parte 3: 1666” volta ao ano de 1994 para mostrar o desfecho de toda a trama, com Deena descobrindo que são os descendentes de Solomon Goode que continuaram a amaldiçoar Shadyside (dando os nomes dos Shadysiders para serem possuídos) em troca de sucesso pessoal e de prosperidade para Sunnyvale. Com isso, fica fácil saber que foi o delegado Nick Goode, o outro “sobrevivente” do massacre no acampamento em 1978 (e atual portador do livro macabro), o responsável pelo massacre no acampamento, amaldiçoando Tommy Slater.
ENTENDA
A HISTÓRIA: Se resumirmos tudo em narrativa linear, fica mais fácil de entender
a cronologia correta: em 1666, Sarah Fier e Solomon Goode moram no Condado de
Union (local onde, mais tarde, seria fundado Shadyside e Sunnyvale) e iam se
casar, mas Sarah tinha uma relação muito íntima com Hannah, a filha do pastor
local, mas proibiu as duas de se encontrarem. Solomon rouba um livro de
ocultismo/bruxaria de uma mulher na floresta que contém um feitiço que dá ao
portador o que desejar em troca de almas e ele o usa para ganhar prosperidade
em suas terras. O primeiro nome que Solomon dá é o do líder religioso local,
que acaba possuído e mata algumas crianças dentro da igreja. Ao se espalhar no
Condado o rumor sobre Sarah e Hannah, Solomon se aproveita da situação para
culpar Sarah Fier de bruxaria pelo que aconteceu ao pastor às crianças. Com
isso, o Condado se volta contra Sarah, que acaba perseguida e enforcada.
Solomon Goode transmite o livro de bruxaria e o legado macabro de geração em
geração até chegar em Nick Goode, o delegado de Shadyside, filho original de Sunnyvale
(e último descendente de Solomon, juntamente com o irmão, que é prefeito de Sunnyvale).
Nick Goode usa o feitiço do livro para amaldiçoar Tommy Slater no Acampamento
Nightwing no verão de 1978 e, em 1994, amaldiçoando Ryan Torres e Samantha
Fraser, além de também usar para ganhar o cargo de delegado e para que o irmão
ganhe a eleição de prefeito. O desfecho geral se dá quando Deena junta todas as
peças do quebra cabeça e descobre toda a verdade, fazendo com que o delegado
Goode coloque todos os assassinos sobrenaturais para caçar ela e seu irmão,
Josh.
Dessa forma, a narrativa da trilogia conseguiu fechar um ciclo sem deixar pontas soltas e nem furos na história, encerrando perfeitamente o arco principal no final da “Parte 3: 1666” (e abrindo margem para outras histórias, o que falaremos mais ao final desta Crítica). Mas só é possível chegar à essa conclusão analisando os três filmes juntos como um todo, e não separadamente, tal como ocorreu quando cada um da trilogia foi lançado semanalmente.
Por este ângulo, a trilogia “Rua do Medo” só funciona como uma trilogia, pois é uma única história que foi dividida em 3 filmes, narrada de forma não linear. Com isso, não é possível assistir somente a um deles sem precisar assistir ao outro. Tentar assistir apenas uma das Partes ou dizer que “Rua do Medo” é tipo uma minissérie de 3 capítulos é a mesma coisa que dizer que outras Trilogias se utilizam da mesma narrativa, tais como a trilogia “O Senhor dos Anéis”, “De Volta Para O Futuro” e “O Poderoso Chefão”. Nenhuma dessas trilogias podem ter seus capítulos assistidos separadamente sem as outras partes, sendo unicamente consideradas trilogias que só funcionam quando assistidas por completo.
Apesar de escorregar em alguns erros, a trilogia “Rua do Medo” faz uma vasta homenagem aos filmes de terror slasher dos anos 80 e 90 (principalmente com as belíssimas referências aos principais longas – “Sexta-Feira 13”, “Halloween” e “Pânico”) e inovou o gênero ao trazê-lo para a atualidade (mantendo os elementos básicos estruturais dos clássicos filmes). Outras referências que não podem deixar de serem citadas são cenas que prestam homenagens a outras obras clássicas, tais como a cena de abertura da Parte 1 (referência à “Pânico”), o balde de sangue no acampamento (referência à “Carrie, a Estranha”) e Tommy Slater quebrando a porta com um machado (referência à “O Iluminado”).
Com
isso, a trilogia conseguiu conquistar fãs tanto das gerações X e Millennials
quanto a geração de adolescentes de hoje. E é justamente neste ponto que Janiak
e os roteiristas cometeram um erro: eles quiseram realizar um filme de terror
contemporâneo para adolescentes recheado de referências e elementos do gênero
slasher dos anos 70, 80 e 90 (com uma grande pegada de “Stranger Things”, que
também segue a mesma linha), mas, devido às altas cenas explícitas de violência
(com um pouco de sexo), a trilogia acabou ganhando classificação indicativa de
18 anos. Com isso, houve um certo conflito para atingir o público alvo final ao
certo. Mas, em geral, esse fator não é demérito, pois conseguiu agradar ambos
os públicos.
A linguagem visual e artística da trilogia tem um amplo impacto cultural tradicional, se inspirando nos clássicos antigos (incluindo os benditos clichês, que talvez tenham seja um erro incluí-los na trilogia, mas não podiam faltar pois fazem parte dos clássicos do gênero). Entretanto, a diretora e co-roteirista Leigh Janiak – juntamente com a equipe de roteiristas – conseguiu quebrar paradigmas e preconceitos estereotipados em praticamente todos os filmes de terror slasher, explorando temas pouco (ou nunca) explorados em filmes do gênero e o elevou a um novo patamar digno de um filme de horror/terror contemporâneo.
“Rua
do Medo” dá um passo além e atualiza sua narrativa, conversando com o público
através de uma mensagem que está ganhando cada vez mais espaço hoje. O público LGBTQIA+
está recebendo mais destaque e representatividade no cinema, o que é uma grande
conquista para este grupo nos dias de hoje, haja vista que até alguns anos
atrás praticamente quase não se falava em personagens deste grupo nos filmes. Grupo este que está cada vez mais conquistando espaço e
visibilidade nos filmes; o que é excelente, pois o tema foi perfeitamente desenvolvido
na trilogia. No caso em tela, foi muito bem representada pelo casal Deena
(Kiana Madeira) e Sam (Olivia Welch), e as duas tiveram uma química excelente
juntas em suas atuações.
Outra novidade que a Trilogia trouxe foi a combinação 2 de gêneros diferentes: misturar filmes de terror slasher de serial killers com bruxaria/misticismo é raro de se ver. Os exemplos de filmes que chegam mais perto de “Rua do Medo” e que unem os 2 elementos centrais supracitados, dos quais eu consigo me lembrar agora, são “The Evil Dead: Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio” (1981) e “Brinquedo Assassino” (1988). Se houver mais algum filme nesse mesmo sentido, que misture esses mesmos 2 elementos e que tenha escapado da minha memória, por favor cite nos comentários.
A
Netflix acertou em cheio ao apostar nesta produção, que quase não conseguiu ser
lançada. “Rua do Medo”, que estava em desenvolvimento desde 2015, foi produzido
pela produtora Chernin Entertainment, na época junto com a 20th Century Studios,
e estava programado para ser lançado nos cinemas em junho de 2020, mas teve que
ser cancelado devido à pandemia e, também, por causa da aquisição da, até
então, 20th Century Fox pela Disney. De acordo com a Variety, após encerrar o
acordo de distribuição com a 20th Century Studios, a Chernin Entertainment (que
produziu a trilogia em questão) assinou contrato com a Netflix em abril de 2020
para produzir em parceria o primeiro de vários filmes. Com isso, o canal de
streaming adquiriu os direitos de distribuição da trilogia “Rua do Medo” e disponibilizou-a
no catálogo.
A Netflix e a produtora Chernin Entertainment ainda não fizeram nenhum anúncio oficial sobre o futuro da franquia “Rua do Medo”. Ainda não sabemos se haverá ou não sequências, mas os fãs da trilogia podem cruzar os dedos e torcer para mais continuações, pois há 3 fatores que contribuem para que isso seja possível:
A)
LIVROS: A trilogia é baseada em uma vasta série de livros homônimos (Fear
Street, no original) do escritor R. L. Stine, mesmo autor de Goosebumps. A
franquia de livros de Stine já ultrapassa a marca de 50 livros publicados,
então tem uma grande quantidade de material que a produção pode usar como base
para os próximos roteiros.
B) GANCHO NO DESFECHO: “Rua do Medo: 1666 – Parte 3” encerra a história principal da trilogia, mas nos entrega um excelente gancho na cena pós crédito do filme para possíveis continuações. A cena pós crédito em questão mostra a caverna onde Solomon Goode fez o pacto com o diabo usando o livro de bruxaria/ocultismo e, posteriormente, foi o local passado de geração em geração pela família Goode usar como legado para amaldiçoarem as pessoas em troca de favores, tornando essas pessoas amaldiçoadas em assassinas. Logo em seguida, podemos ver que o livro de bruxaria ficou no chão da caverna, mas um par de mãos pegou o livro e levou embora. Assim se encerra a trilogia e ninguém sabe quem pegou o livro. Esse desfecho dá um excelente gancho para possíveis continuações.
C)
INTERESSE DA DIRETORA: Em entrevista ao Indiewire, a diretora e co-roteirista Leigh
Janiak declarou que tem interesse continuar com a franquia e realizar novos
filmes, afirmando que há material de sobra para servir como base para os
roteiros e novos projetos, interligando os filmes uns com os outros.
O jeito, agora, é esperar para ver como será a recepção da trilogia e aguardar uma declaração oficial da Netflix e da produtora Chernin Entertainment após tomarem uma decisão sobre o futuro de “Rua do Medo”.
Por
fim, enquanto a gente espera uma decisão, não custa nada especular sobre quem foi a pessoa
que pegou o livro na cena pós crédito de “Rua do Medo: 1666 – Parte 3”. Minhas apostas são:
A)
A própria Deena. Não vejo motivação em Deena querer usar o livro (por enquanto);
mas eu especulo que talvez ela tenha pego o livro apenas para guardar e não deixar que a
história em Shadyside se repita outra vez, principalmente depois de Deena ver
que a história dela com Sam é parecida com a história de Sarah e Hannah.
B) Mary Lane, a enfermeira do acampamento Nightwing de 1978, cuja filha, Ruby Lane, foi possuída em 1965, aos 16 anos, assassinando o namorado e outras 6 pessoas com a navalha. Mary Lane pode ser uma possível opção por causa dos traumas que viveu depois de perder a filha para a maldição em 1965 e, para piorar, com os acontecimentos de 1978 e 1994. A motivação de Mary para pegar o livro pode ser vingança pela filha que ela perdeu e por tudo que ela passou e sofreu.
C)
Catherine (Ziggy) Berman, a sobrevivente do acampamento de Nightwing, cuja irmã
(Cindy Berman) foi brutalmente morta no massacre de 1978. Ela ajuda Deena e seu irmão
Josh a sobreviverem e a salvar Sam da maldição em 1994. Ziggy pode ser uma
possível opção por ter pego o livro para se vingar da morte da irmã no massacre
em 1978.
D) Algum descendente Goode. No final da “Parte 3: 1666”, Nick é morto e, posteriormente, vemos que o irmão dele (que é o prefeito de Sunnyvale) sofre um acidente de carro e possivelmente morre. Mas isso não quer dizer que a linhagem Goode acabou com os dois irmãos. Nenhum dos 3 filmes menciona que eles tiveram filhos, mas essa possibilidade pode existir, haja vista que o noticiário que dá as notícias sobre o delegado ser o assassino em série afirma que o delegado tinha família e que desconhecia sobre o segredo dele ser o assassino. É uma boa opção algum outro descendente Goode continuar o legado de seus antepassados, principalmente por causa do quadro pendurado na parede contendo a árvore genealógica da família Goode. Mas considero pouco provável, considerando que a trilogia já encerrou esse arco e possíveis sequências podem seguir em frente com outras possibilidades e motivações.
E)
Algum possível descendente de Sarah Fier. Na adaptação cinematográfica, Sarah e
o irmão Henry morreram no último capítulo da trilogia mas, nos livros de Stine,
a história da família Fier é um pouco diferente, embora realmente esteja ligada
à família Goode; tanto é que, nos livros, a família de Sarah mudou o sobrenome
de Fier para Fear para tentar escapar da maldição. Com isso, se originou o nome
da rua que dá origem à franquia: Fear Street – Rua Fear, que recebeu esse nome
por causa da família. Ainda não se sabe se algum descendente Fier realmente
sobreviveu, mas seria uma boa especulação imaginar que algum descendente de
Sarah Fier tenha sobrevivido e roubado o livro para se vingar do mal que
fizeram com a família dela e sujado o nome de Sarah durante os mais de 300 anos
no Condado Union.
Lembrando que minhas apostas acima são só especulações com base em minha análise geral da trilogia e não há nada confirmado ainda sobre o futuro da franquia. Temos que esperar algum comunicado oficial. E espero que seja em breve.
Nota: 8,5
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