O segundo capítulo da trilogia, “Rua do Medo: 1978” foi disponibilizado na Netflix no último dia 9 de julho e começa exatamente de onde “Rua do Medo: 1994” parou. Porém, a sequência volta ao ano de 1978 para explicar sobre a carnificina que aterrorizou Shadyside e para revelar um pouco mais sobre a maldição que a bruxa Sarah Fier jogou sobre a cidade.

Não se engane pensando que este é um daqueles filmes que se passam de trás para frente, tal como ocorre em Amnésia” (2000). O filme em tela dá continuidade direta aos eventos de seu antecessor, mas é retratado sob a narração de C. Berman (Gillian Jacobs, de “Magic Camp”),  que sobreviveu ao massacre sobrenatural envolvendo Sarah Fier, ocorrido em 1978. Procurada por Deena (Kiana Madeira) e seu irmão Josh (Benjamim Flores, Jr.) para ajudá-los a sobreviver à maldição da bruxa, C. Bernam narra para os irmãos o trágico e sangrento passado que quase lhe custou a vida.

Em 1978, a escola de Shadyside entra em férias de verão e as atividades no acampamento Camp Nightwing começam. Porém, o acampamento é dividido em dois grupos rivais: de um lado, estão os campistas e monitores da cidade de Sunnyvale e, do outro lado, estão os campistas e a equipe da manutenção da amaldiçoada cidade de Shadyside. A diversão logo se transforma em pesadelo quando a bruxa Sarah Fier amaldiçoa um dos monitores, dando início à carnificina. Cindy Berman (Emily Rudd), uma das monitoras, e sua irmã mais nova, Ziggy Berman (Sadie Sink, a Max de “Stranger Things”), uma das campistas, se unem com outros jovens de Shadyside e Sunnyvale para descobrirem como parar a maldição e sobreviver.

Com um ótimo roteiro e direção, “Rua do Medo: 1978” explora um pouco mais sobre a rivalidade entre as cidades de Shadyside e Sunnyvale, bem como cava mais sobre a história sobrenatural e macabra da bruxa Sarah Fier. A trama é centralizada em Cindy e Ziggy Berman, focando no relacionamento que as irmãs têm, tanto entre as duas, bem como com as outras pessoas do acampamento. Também vemos que as brigas entre os “Shadysiders” e “Sunnyvales” já ocorriam naquela época e como isso afeta os personagens centrais. Destaque importante para um outro personagem que já apareceu na Parte 1: 1994 e volta para a sequência. Como eu não sou adepto à Spoilers, assista ao filme.


Mantendo o mesmo estilo de terror slasher que seu antecessor, “Rua do Medo: 1978” muda o ambiente e traz uma pegada bem ao estilo de “Sexta-Feira 13” (1980). Toda a narrativa se passa em um acampamento, com um assassino sobrenatural e adolescentes. O novo longa é, sim, uma homenagem explícita ao clássico supracitado; mas, não, o filme em questão não é uma cópia barata da franquia de Jason Voorhees. Como já foi dito na Crítica da Parte 1 (disponível no site – “Rua do Medo: 1994”, leia aqui), e eu repito aqui, “Rua do Medo” faz claras referências a vários filmes slashers dos anos 70, 80, 90 e 2000. A Parte 2: 1978 não foi diferente e apenas ampliou a homenagem em todo seu cenário (um acampamento) para adequar uma história plausível com a proposta que o roteiro quis oferecer. E funcionou!

Óbvio que o enredo também está repleto de clichês típicos dos filmes de terror slasher, principalmente envolvendo adolescentes em um acampamento. Não seria uma homenagem clássica à “Sexta-Feira 13” se faltasse os respectivos clichês da franquia em “Parte 2: 1978” envolvendo adolescentes usando drogas, sexo, assassinatos violentos, a ambientação e a atmosfera sinistra de Crystal Lake.

Porém, “Rua do Medo: 1978” perde bastante o ritmo de ação e não consegue manter o mesmo padrão que o primeiro capítulo. Embora a diretora Leigh Janiak e o roteirista Zak Olkewicz tenham se aprofundado um pouco mais no drama (e subtramas) entre os personagens, explicando um pouco mais sobre a origem da bruxa Sarah Fier e mostrando como surgiu a rivalidade entre as cidades Shadyside e Sunnyvale, essas narrativas se arrastam demais e se prolongam até a metade do filme, deixando toda a “ação” (leia-se terror) só do meio para o fim.

Enquanto que “Rua do Medo: 1994” soube equilibrar terror com explicação histórica, a Parte 2: 1978” desacelera e se mantém desproporcional: ou seja, tem explicação demais e terror de menos. A história chega a ficar um pouco cansativa até a matança e a luta pela sobrevivência começarem, e, quando começam, levam o espectador a despertar e pensar: “até que enfim”.

Outro ponto que diferencia as 2 primeiras partes é que, neste capítulo em questão, Janiak toma bastante liberdade e muita cautela para explorar um pouco mais a violência, embora tenha bem menos momentos jump scare. Longe de ser violência gratuita, Janiak apresenta uma narrativa mais violenta (embora por menos tempo em tela) em “Parte 2: 1978” do que em “Parte 1: 1994”, pois, diferentemente de Jason Voorhees, o assassino da vez aqui não perdoa as crianças do acampamento. Com extremo cuidado, Janiak se certificou de poupar o público de cenas chocantes e desnecessárias, sabendo passar a mensagem que precisava de forma cautelosa e genérica, sem precisar mostrar, explicitamente, o horror visual das mortes de alguns campistas. Apesar de ser uma adaptação da série de livros para jovens e adolescentes (de R. L. Stine), a trilogia “Rua do Medo” recebeu uma classificação indicativa de 18 anos – principalmente porque este segundo capítulo tem um alto índice de sangue e violência.

Claramente, a diretora Leigh Janiak está fazendo um excelente trabalho com o gênero em questão, mostrando que tem aptidão para apresentar narrativas bem desenvolvidas, bem equilibradas (no que tange às doses de suspense, horror e terror), sabendo construir e apresentar um ambiente adequado para o tipo de proposta que o roteiro se propõe a mostrar; mesmo tendo vários elementos clichês. Janiak e o roteirista Zak Olkewicz, ao montarem o roteiro, combinaram fórmulas usadas em outros filmes típicos do gênero, reformulando-as, atualizando-as, fazendo referências e homenagens aos clássicos, além, é claro, de manter os clichês. Entretanto, o filme em tela não conseguiu manter o mesmo ritmo frenético que seu antecessor e pisou no freio, mas é igualmente divertido.

Por fim, não se pode deixar de falar sobre a trilha sonora. A música “Carry On Wayward Son” (1976), da banda Kansas, tocada duas vezes no filme, é um clássico eternizado pela série Supernatural (2005 a 2020). Como fã de carteirinha de Supernatural, eu não deixei de vibrar nas duas cenas em questão e penso que esta música em específica não foi inserida no filme por acaso, mas sim de forma proposital. Pois, em vários episódios de Supernatural, os irmãos Winchester lidam com questões sobrenaturais e precisam quebrar algumas maldições para sobreviver; e é justamente este o objetivo central da trama da trilogia “Rua do Medo”. Com isso, a referência combinou perfeitamente com o enredo.

As Partes 1 e 2 de “Rua do Medo” (1994 e 1978, respectivamente) já estão disponíveis na Netflix. A terceira e última Parte: 1666 entrou no catálogo dia 16 de julho.

Nota: 7,5

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