A Netflix apostou alto e acertou em cheio ao anunciar em seu catálogo a trilogia “Rua do Medo”. Os longas serão ambientados em diferentes épocas e cada capítulo será lançado um por semana, pelo período de 3 semanas consecutivas. O primeiro capítulo, intitulado “Rua do Medo: 1994”, foi lançado no último dia 2 de julho e é do gênero terror slasher, com várias referências aos filmes antigos do mesmo gênero.

Rua do Medo: 1994 – Parte 1”, produzido pela 20th Century Studios juntamente com a produtora Chernin Entertainment, estava em desenvolvimento desde 2015 e estava programado para ser lançado nos cinemas em junho de 2020, mas teve que ser cancelado devido à pandemia e, também, por causa da aquisição da, até então, 20th Century Fox pela Disney. Em agosto de 2020, a Chernin Entertainment encerrou o acordo de distribuição com a 20th Century Studios e fez um acordo com a Netflix. Com isso, o canal de streaming adquiriu os direitos de distribuição da trilogia e, agora, está disponibilizando-a no catálogo.

Ambientado nos anos 90, a história sobre um assassino em série mascarado parece simples e bem batida, mas não se engane: a trama é mais surpreendente do que se pensa. “Rua do Medo: 1994 – Parte 1” é um terror slasher contemporâneo misturado com bruxaria e sobrenatural (combinação bem rara neste gênero), mostrando que não tem medo de brincar com elementos clichês presentes em filmes de terror. O enredo se passa em 1994, quando uma série de assassinatos brutais começa acontecer na sombria cidade de Shadyside e um grupo de adolescentes é perseguido por alguns assassinos bem sinistros. Os amigos começam a investigar as mortes e descobrem que a cidade já tem uma longa história envolvendo assassinatos trágicos há mais de 300 anos e que esses massacres podem estar conectados a uma maldição macabra de uma bruxa. Agora, eles precisam lutar para sobreviver, desvendar o mistério sobrenatural e tentar quebrar a maldição da bruxa, pois eles são os próximos alvos.

Os filmes de terror slasher tiveram sua ascensão nos anos 1970, tendo como precursores os filmes “O Massacre da Serra Elétrica” (1974) e “Halloween” (1978). Depois, foram progredindo nos anos 80 e 90 com a franquia Sexta Feira 13” (1980), a franquia A Hora do Pesadelo” (1984), a franquia Pânico” (1996), dentre outros. O modelo padrão deste gênero de filme baseia-se em assassinos em série psicopatas que usam máscaras (ou fantasia no geral) e matam suas vítimas aleatoriamente. Ao longo dos anos, os filmes slasher seguiram basicamente essa fórmula. O que não pode faltar nesse gênero são os elementos que tornam os filmes clichês e, pode apostar, são vários: celular sem sinal ou sem bateria, carro quebrado (principalmente no meio do nada, à noite), o momento “jump scare” e o grupo de adolescentes são alguns dos exemplos mais presentes.

Com “Rua do Medo: 1994 – Parte 1”, não foi tão diferente; a fórmula básica está presente. Porém, o filme em tela inovou em alguns aspectos, soube lidar com os elementos clichês despreocupadamente e não mediu esforço para ser mais do que um simples filme slasher de susto, sangue e morte sem sentido. O longa conta com uma boa história de fundo e se aprofunda nela, interage com os protagonistas, cria um mistério em volta da trama e mostra que consegue agradar até quem não gosta muito de filmes de terror. Com isso, torna-se um filme assustador, moderado e divertido para o público.

O longa conta com a direção de Leigh Janiak, de “Honeymoon” (2014), que também dirige os outros 2 capítulos da trilogia. O roteiro da trilogia foi escrito pela própria Janiak e pelos roteiristas Phil Graziadei, também de “Honeymoon”, e Kyle Killen, de “Um Novo Despertar” (2011). Com esta mesma equipe na direção e roteiro em todos os 3 filmes, acredita-se que os próximos 2 capítulos mantenham o mesmo padrão. Espero!

O elenco, com um tremendo carisma, consegue convencer sem esforço algum e demonstra que sabe trabalhar em equipe. Importante ressaltar a ótima abordagem sobre o preconceito que sofre um casal LGBTQIA+ e as dificuldades para se relacionar, bem como a de auto aceitação perante a sociedade. Nesse sentido, certos paradigmas foram quebrados com uma leve sutileza que Leigh Janiak conseguiu revolucionar a um novo patamar com enorme maestria. Nessa esteira, o casal principal Deena (Kiana Madeira) e Sam (Olivia Welch) faz o público torcer por elas o filme inteiro em meio ao preconceito, enquanto elas precisam encontrar um meio de quebrar a maldição da bruxa e sobreviver. Destaque para Maya Hawke (a Robin, de “Stranger Things”), filha dos atores Uma Thurmam e Ethan Hawke: a atriz faz uma participação no início do filme, mostra que tem talento e está seguindo os passos dos pais.

A trilogia “Rua do Medo” é baseada (bem livremente) na aclamada série de livros homônima (Fear Street, no original) do escritor R. L. Stine (autor da série Goosebumps). A franquia de livros de Stine conta com 51 livros publicados (16 dos quais foram traduzidos e estão à venda no Brasil) e faz um sucesso enorme entre o público adolescente com histórias de terror e horror sobrenatural. A depender do sucesso que a trilogia em questão tomar e com a quantidade de histórias que a série literária tem, nada impede que haja novas adaptações, pois tem muito material que pode ser usado em futuros projetos.

Os outros 2 filmes da trilogia também estreiam na Netflix em 2 sextas-feiras consecutivas, sendo que “Rua do Medo: 1978 – Parte 2” já foi disponibilizado no último dia 9 de julho e “Rua do Medo: 1666 – Parte 3” estará no catálogo a partir do dia 16 de julho.

Nota: 9,0

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