Com excelentes ideias e um bom desenvolvimento de personagem, a série não sai da zona de conforto e desperdiça o potencial de entregar algo único.


AVISO: Essa crítica contem Spoilers de WandaVision!

Três semanas depois dos eventos de "Vingadores: Ultimato", Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) estão vivendo uma vida suburbana perfeita na cidade de Westview, New Jersey, e tentando esconder suas verdadeiras naturezas. Mas conforme as décadas se passam e eles encontram clichês de televisão, o casal começa a suspeitar que nem tudo é o que parece.

A série marca o retorno ao Universo Cinematográfico Marvel (MCU) após mais de 1 ano sem um conteúdo live-action novo envolvendo os personagens da editora O projeto foi anunciado em 2018 junto com “Loki”, se tornando a primeira produção da Marvel Studios para a televisão (mais precisamente para o serviço de streaming Disney+), com grandes promessas de se conectar ao universo Marvel, utilizar personagens que foram apresentados em outros filmes e introduzir novos, além é claro de desenvolver tramas que irão se conectar a futuros filmes/séries.

“WandaVision” teve a ingrata tarefa de desenvolver Wanda e Visão, personagens de apoio dos filmes dos Vingadores que tiveram jornadas turbulentas no MCU. Ambos os personagens foram apresentados no filme “Vingadores: Era de Ultron” e tiveram um desenvolvimento questionável através dos filmes, além de adaptarem de maneira pobre suas origens dos quadrinhos que são pra lá de complexas. E talvez esse seja um dos maiores acertos da série, que consegue desenvolver a personagem principal, mostrando seus tramas e desafios para superar o luto e diversas perdas que teve durante sua vida.

Os roteiros de Jac Schaeffer (Viúva Negra) são bem sagazes em alguns momentos e sabem muito bem desenvolver os protagonistas da série. A química entre Olsen e Bettany funciona muito bem, fazendo o telespectador acreditar que eles são um casal disfuncional mas muito apaixonado. Embora Paul Bettany entregue uma de suas melhores atuações da vida, a atuação de Elizabeth Olsen oscila em momentos chaves em que necessita entregar um momento emocional que o roteiro pede. A atriz Kathryn Hahn (Capitão Fantástico) no entanto rouba a atenção de todos quando está em cena, interpretando Agnes/Agatha Harkness, a vizinha enxerida de Wanda que sempre aparece em momentos chaves e parece saber muito sobre Wanda e seus segredos.

Embora o elenco de apoio seja bem sólido, muitos acabaram sub aproveitados e utilizados de maneira pobre para avançar a trama ou explicar os mistérios e soluções para os espectadores. Teyonah Parris (Se a Rua Beale Falasse) entrega uma ótima interpretação de Mônica Rambeau, a personagem acaba sendo desperdiçada na série, onde apenas serve para mostrar a origem de seus poderes e preparar terreno para a personagem no filme “Capitã Marvel 2”. O núcleo da E.S.P.A.D.A e dos personagens Jimmy Woo (Randal Park) e Darcy Lewis (Kat Dennings) também sofre com diálogos expositivos, e muitas vezes as cenas se tornam maçantes e sem muito propósito para a trama da série.

Mas o que rouba a série é definitivamente a direção de Matt Shakman (Game of Thrones) junto com a estética e o conceito principal da série. Todo o conceito de cada episódio emular uma série famosa dos Estados Unidos de uma década, passando de séries clássicas como “I Love Lucy” até séries recentes como “The Office” é uma excelente ideia que funciona (quase) muito bem. A cinematografia de Jess Hall (Chumbo Grosso) ajuda a emular muito bem o clima de cada época e integrar bem ao contexto geral da série, com um sentimento dúbio de que algo está errado. A produção de alto nível também conta com efeitos (na maioria de suas vezes) bem feitos e com sequências de ação interessantes, principalmente o embate entre os Visões no episódio final da temporada.

“WandaVision” mergulha de cabeça na mitologia dos quadrinhos do casal, pegando elemento de fases clássicas dos Vingadores e até mesmo de “Visão”, premiado quadrinho de Tom King (comentamos mais sobre esses quadrinhos e inspirações da série no podcast especial sobre expectativas para a série). A série possui diversas referências para os fãs tanto do MCU quanto aos fanáticos por quadrinhos, chegando a reproduzir visuais clássicos e quadros marcantes. A série no entanto não fica presa ao MCU, se tornando uma boa opção até mesmo para aqueles que não acompanham tanto o universo de heróis da Marvel nos cinemas.

A conclusão da série no entanto acabou sendo apressada e decepcionou diversos fãs. O formato de sitcoms acabou se tornando maçante e fazendo com que diversas coisas como as propagandas se tornassem algo completamente sem sentido, se tornando apenas referências vazias que não agregam nada à história. Os vilões caricatos também atrapalham o desenvolvimento final da história, com Agatha tendo um background e motivações bem fracas e em desenvolvimento, junto com o diretor Tyler Hayward (Josh Stamberg), que serve apenas como um vilão genérico malvadão que se recusa a ouvir os outros e parte para as soluções mais maquiavélicas e previsíveis.

Outro grande fator que diminui a qualidade da série é o grande balde de água fria que é a participação do ator Evan Peters (X-Men - Dias de um Futuro Esquecido) na série, onde o ator poderia facilmente ter sido removido da série, assim dando mais tempo para desenvolver a Wanda ou até mesmo alguns personagens secundários .A trama construiu bem o arco da Wanda “sequestrando” os civis e os escravizando dentro da cidade, percebendo o erro que cometeu e aceitando o luto, para no fim sair impune e até mesmo continuar buscando uma maneira de trazer o Visão e seus filhos (Tommy e Billy) de volta, mostrando que não aprendeu nada.

“WandaVision” pode ser uma série com muitos problemas e uma certa “covardia” de fugir da fórmula Marvel e apresentar elementos importantes para o futuro do Universo Marvel, mas possui uma ótima direção que casa muito bem com conceitos bem interessantes de mesclar sitcoms que a personagem admirava quando criança com a realidade criada pela própria, além de entrega uma ótima “origem” para a Feiticeira Escarlate e justifica muito bem as mudanças e retcons feitos em relação a origem da personagem nos quadrinhos, que inicia uma nova jornada para a personagem que deve retornar em “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”.


Nota: 6,5.


Para quem estiver interessado em outras opiniões da série, fizemos análise de episódio por episódio de WandaVision: Episódios 1 e 2, Episódios 3 e 4, Episódio 5, Episódio 6, Episódio 7, Episódio 8 e Episódio 9.

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