Maestro apresenta uma linda história real contada por Bradley Cooper enterrada em um filme mais preocupado em ganhar prêmios do que com sua qualidade.

Gostaria de agradecer a O2 Play por convidar a gente para assistir o filme na cabine de imprensa, que entra em cartaz a partir do dia 7 de Dezembro em alguns cinemas, e chegará na Netflix apenas no dia 20 de Dezembro.

"Maestro" é uma história de amor grandiosa que narra o relacionamento de Leonard Bernstein e Felicia Montealegre Cohn Bernstein. O filme é um tributo à vida e à arte, um retrato emocionante da família e do amor.

Bradley Cooper Guardiões da Galáxia, Sniper Americano) é um ator que sempre gostei, e tem realmente se provado estar em um patamar acima do comum com seus últimos projetos. Cooper fez a transição para diretor em 2018 com o ótimo remake de “Nasce uma Estrela”, que lhe rendeu muito prestígio. Seu próximo projeto então como diretor veio a ser “Maestro”, uma cinebiografia do lendário compositor americano Leonard Bernstein (Amor, Sublime Amor, Sindicatos de Ladrões) produzido pela Netflix, onde Cooper não só dirige, mas também produz, estrela e assina os roteiros junto de Josh Singer (O Primeiro Homem, The Post: A Guerra Secreta).

Então… Já cheguei a falar em críticas antigas (principalmente a do ótimo “Nosso Sonho”, que você pode ler aqui) que cinebiografias tem se tornado cada vez mais pedantes, chatas e formulaicas ao longo dos anos, com tantas sendo feitas a cada ano que se tornaram filmes iguais, não sendo nada diferentes das tão criticadas (e com razão) produções de super-heróis. Dito isto, é mais do que possível produzir ótimas cinebiografias, com incontáveis exemplos de filmes que ousam e contam essas histórias de maneiras criativas.

Então chegamos ao nome da vez: Leonard Bernstein. Um dos grandes compositores de todos os tempos que nasceu em 1918 e veio a falecer em 1990. Não sou muito familiarizado com a sua carreira toda, mas obviamente sabia da sua importância por conta de seus trabalhos para o cinema como o clássico “Amor, Sublime Amor” de 1961.

Sua vida era bem fascinante e seus problemas pessoais com sua esposa, Felicia Montealegre foram expostos no futuro. Curiosamente, a maior polêmica gerada pelo filme foi a maquiagem e nariz prostético usado por Cooper para fazer ele ficar mais parecido com Leonard. Eu fui um dos muitos que detestaram o uso desse nariz e achou extremamente ridículo. E no começo do filme isso realmente fica evidente e distrai o espectador, mas ao longo do filme essa estranheza vai passando e se torna algo comum dentro do filme.

O que mais me deixa triste é como fica nítido durante o filme todo que “Maestro” é o mais puro suco do Oscar bait. A cada cena fica evidente que eles só estão fazendo esse filme para ganhar um Oscar, em um grau de desespero tão grande que te tira do filme. A direção de Cooper tem seus momentos e sabe criar algumas sequências bem bonitas, mas no geral é mais padrão do que eu gostaria. O roteiro é bem mais complexo” do que “Nasce uma Estrela” e exige muito mais dele como diretor, que se mostra incapaz de entregar algo acima da média.

Apesar dos pesares, ainda continuo achando Cooper um grande ator e diretor. Inclusive esse filme mostra o potencial enorme que ele tem na cadeira de direção, com algumas sequências muito lindas (a cena onde ele recebe o seu primeiro trabalho, e sai andando dos corredores é a prova viva disso) e um comando bem sóbrio da história.

O uso de preto e branco é bem simples sendo usado em cenas do passado. E enquanto isso traz todo um clima pro filme e ajuda a construir toda a melancolia (que é um dos pontos altos) e retratar esse período que não volta mais, é outra coisa que poderia ter sido mais bem utilizada pelo diretor que usa apenas para ressaltar esses elementos.

Passando para o lado de Cooper como um ator, ele anda pela fina linha entre uma interpretação fantástica e uma interpretação caricata também desesperada por um Oscar. Ele vende bem as cenas dramáticas do personagem e os momentos onde expressa o seu amor pela arte (inclusive a melhor cena do filme onde conduz uma orquestra muito importante em sua vida). Não sei se ele merece exatamente ser indicado às premiações, mas está longe de ser a melhor interpretação do ano ou até mesmo de sua carreira.

Carey Mulligan (Drive, Bela Vingança) como Felicia Montealegre é outro ponto do filme que me deixou bem dividido. Adoro Mulligan e a considero uma atriz de alto nível que já participou de diversos projetos incríveis sempre agregando muito a eles. Aqui sua personagem demorou pra me conquistar, já que a sua faceta principal é a esposa distante do marido que o ama mas tem que esconder a dor de ter que dividir ele com outros homens. Ao longo do filme ela foi evoluindo conforme o seu arco foi crescendo e deixando o seu lado apaixonado de lado. Suas cenas finais são arrebatadoras e me destruíram completamente, então acho justo dizer que ela é a melhor coisa do filme disparado. 

Já o resto do elenco não tem muito o que fazer aqui. Os destaques ficam para Maya Hawke (Stranger Things, Rua do Medo: 1994 - Parte 1), que interpreta a filha do casal e tem algumas cenas bem lindinhas envolvendo conversas com Leonard, e Matt Bomer (Patrulha do Destino, O Preço do Amanhã) que dá vida a um dos interesses românticos do protagonista. O personagem de Bomer ainda tem um destaque maior na primeira metade do filme e mostra gerar conflitos bem interessantes, mas é bizarramente abandonado na metade final.

Como eu disse, o visual do filme é bem bonito, embora falte um esmero na hora de criar algumas sequências mais interessantes. O diretor de fotografia Matthew Libatique (Réquiem para um Sonho, Homem de Ferro) é um dos melhores do mercado atual, mas sinto que teve pouco espaço para criar grandes momentos visuais no filme, embora um ou outro shot sejam bem bacanas. De destaques na parte técnica ficam mesmo a trilha sonora de Bernstein e a montagem da editora Michelle Tesoro (O Gambito da Rainha, Olhos que Condenam) que faz algumas transições interessantes.

Por fim, o que mais me instigou foi o tom melancólico que tem no filme do início ao fim. É uma grande tragédia que visa te deixar destruído e emocionado por conta da história dessas duas pessoas. Não posso negar que esse objetivo foi cumprido em alguns trechos do final.

“Maestro” infelizmente é uma das grandes decepções do ano. Apesar de um potencial enorme e uma história trágica realmente interessante, algumas escolhas criativas e a falta de ambição em realmente entregar algo único enterradas sobre a tentativa desesperada de ganhar uma estátua dourada de um homem nú acabaram nos privando de algo único. Cooper se mantém como um bom diretor e com um futuro promissor, mas essa onda de criar cinebiografias formulaicas e sem qualquer intenção diferente precisa acabar o mais rápido possível.

Nota: 5

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