Godzilla retorna em sua versão mais assustadora para tirar o Japão pós-guerra do zero para Menos Um.


🚨🚨POSSÍVEIS SPOILERS!🚨🚨

A franquia do icônico kaiju radioativo sempre apresentou entradas artisticamente diferentes em cada era em que se passavam, seja a primeira entrada com o filme de 54 ou em O Retorno de Godzilla (1984) na era Heisei, ou nas entradas mais modernas como Shin Godzilla (2016), cada versão apresentava um conflito e resolução que todo filme de Kaiju tem principalmente quando só tem ele de vilão no filme, mas o maior diferencial que tenho para mim já visto em Shin Godzilla quanto no mais novo Godzilla Minus One, é absolutamente, o núcleo humano e a nova fórmula de se fazer um filme de monstro.

Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki) era um piloto kamikaze da Segundo Guerra Mundial que após sobreviver, passa a ser atormentado pela culpa do sobrevivente, com a chegada de um misterioso monstro causando rastros de destruição e mortes, Koichi junto de outros combatentes veteranos entram na missão de acabar de vez com a criatura chamada Godzilla.

O filme já começa quebrando uma fórmula básica de filmes de monstros que se tem por exemplo em Hollywood, com poucos minutos somos apresentados a um início frenético envolvendo o Godzilla ainda bebê praticamente contra os combatentes da ilha, geralmente se fosse um filme básico, teria o envolvimento de famílias em que uma pessoa envolvida com a situação faria de tudo para gerar algum plano e consequentemente vai conseguir proteger uma nação ou algum local específico. Nessas partes o fã já começa com a dor na espinha por que raramente o núcleo humano é, em termos narrativos, bem feitas, e em Godzilla Menos Um a história é outra, o grande diferencial fica nesse aspecto, o diretor Takashi Yamazaki consegue realizar tópicos traumáticos no japão durante o período pós guerra de uma forma excelente e que faz com que sentimos a perda e o abandono daquela população tanto pelos governos mundiais quanto pelo próprio governo, que aqui nesse filme é totalmente abstrato praticamente, como se fossem apenas uma entidade nas sombras sem realmente fazerem algo pelo país que está em devastação. Se em Shin Godzilla tínhamos o foco no governo japonês tentando matar o monstro a todo custo mesmo com os meios burocráticos atrapalhando as tentativas, aqui temos o foco perfeito na população e militares.


A direção faz o seu brilho, conseguindo fazer um filme de guerra que ficará permanente na carreira cinematográfica do lagartão, temos duas vertentes envolvendo a batalha, pela vida e contra o monstro, e aqui o filme não perde tempo para ficar descansando, tudo que está em tela envolve o espectador ao máximo, nós temos um monstro causando a destruição de tudo e todos e temos os militares planejando o que fazer com o monstro e pondo em prática o seus planos contra a criatura, temos uma ideia do que eles pretendem fazer, não é algo que eles tiram da cartola no meio do filme após algum ataque dar errado, eles sabem o que fazer, é uma sucessão de tentativas e tentativas até que começam a saber o necessário para acabar de vez com o monstro. Não tem um Deus Ex-Machina para auxiliar uma solução fácil de roteiro, temos apenas a sucessão do que estavam já estabeleceram em mente para deterem o monstro, e isso é muito bem trabalhado e que pouco se vê nesse tipo de filme. Yamazaki também sabe trabalhar bem a disposição de destruição colossal e grandiosidade envolvendo Godzilla, com tomadas e ângulos que vemos o monstro ameaçador, mostrando o medo e a onda de destruição pela cidade, o apelo dramático envolvendo a chegada do monstro no distrito de Ginza, é belo e ao mesmo tempo assustador ver a destruição que esse gigantesco ser está causando, não é exagero falar que essa versão do Gojira (Godzilla, no Japão) seja a mais perversa e destrutiva de toda a franquia, esquece aquela versão americana do Godzilla amigo da humanidade que luta contra outros monstros para proteger a terra e blablabla, essa aqui, se pudesse, causaria a extinção de todos no planeta Terra, ele não tem motivações para o que está fazendo, ele quer destruir e matar, ele faz questão. É como se fosse a encarnação do próprio caos materializada ali para punir a humanidade.

A escolha de um ponto de vista civil, o dissecar de um sentimento de derrota e desesperança após uma guerra mundial, o acompanhamento quase acusatório de um progresso nos anos de 1946 e 1947, e o aparecimento de um “deus atômico” que se enraivece quando atacado e que continua em processo de evolução, são alguns dos motes do roteiro fascinantemente explorados, pois para a população, parece impossível derrotar essa criatura, mas logo depois se cria a base de fortalecimento para o enfrentar, não estamos vendo uma metáfora, o filme é literal, principalmente nas críticas que faz e nos questionamentos de humanidade. Os Humanos são o coração do filme, e o coração, no fim, se direciona para Godzilla.


O trabalho de elenco precisa ser exaltado também, apesar de achar que o protagonista principal seja um ator um pouco mais limitado que todos os outros atores no longa, ele consegue fazer seu papel com muita eficiência, em uma cena catalisadora no filme, seu drama e ódio são muito evidentes como se fosse de verdade aquela cena acontecendo para o personagem. Mas o destaque fica para Noriko (Minami Hamabe) personagem que estabelece um drama com Koichi após retornar para sua casa onde ambos personagens, entrelaçados com a pequena Akiko (Sae Nagatani) uma criança orfão achada pela Noriko que se juntam a Koichi e decidem morar juntos, não estamos vendo um núcleo “familiar” comum, os três personagens não tem relação alguma praticamente, Koichi se quer se relaciona com Noriko, mas a união necessária deles após a grande guerra vem de uma tradição japonesa de que, após perder tudo, é melhor se unir do que se fragmentar, e com passar do tempo a união desse núcleo cria laços, onde Koichi agora precisa se preocupar com a proteção daqueles que estão perto dele agora, e Noriko é uma personagem chave que não fica presa em um ponto narrativa da trama, ela tem presença e imponência, facilmente se não tivesse Koichi ela seguraria as pontas sozinha. E a produção surpreendente desse filme merece prêmios, queria lembrar a vocês que esse filme custou 13 milhões para ser feito (declarações do próprio diretor), ao qual tudo é bem feito em questão de figurinos, cenários de destruição, e o próprio Godzilla, trata-se de uma equipe empenhada e comprometida com o longa, é um diretor que sabe o que está fazendo pois também trabalha na área de efeitos visuais, então unidos a inspiração e carinho com o que estão trabalhando, sério, a cena do sopro atômico no meio da cidade é uma das mais apocalípticas e belas que já vi, é a maior surpresa do final de 2023. A trilha sonora é bem épica e dá estilo para a película. Conclusão: Extremamente poderoso e impactante e que faz a ruptura de um filme convencional de monstros e cria emoções, terror e ação sem sair do tom. Fico feliz com a campanha de distribuição e engajamento que esse filme está tendo mundialmente e que com isso mais salas de cinemas abriram as portas, com essa repercussão espero que venha muito mais filmes excelentes dessa maneira criados não só para o Godzilla mas para outros filmes de monstros futuros. Que venha um "Godzilla Minus Two". 

Nota: 10

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