Temporada final de “Succession” termina a série da HBO de forma triunfante, colocando ela ao lado de clássicos da televisão como uma das melhores séries de todos os tempos

Atenção: Esse texto contem SPOILERS da série, leia por conta e risco.


A venda do conglomerado de mídia Waystar Royco para o visionário tecnológico Lukas Matsson está cada vez mais próxima. A perspectiva dessa venda sísmica provoca angústia existencial e divisão familiar entre os Roys, pois eles antecipam como serão suas vidas quando o negócio for concluído.

“Succession” é a série mais premiada da atualidade. A série de drama da HBO criada por Jesse Armstrong (Fresh Meat, Conversa Truncada) e produzida por Adam Mckay (A Grande Aposta, Não Olhe Para Cima) e Will Ferrell (Tudo por um Furo, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars) foi comendo pelas beiradas e conquistando os corações das pessoas ao longo dos anos. A cada temporada, a audiência e interesse das pessoas pela família Roy crescia, e por isso o anúncio que ela seria encerrada na 4ª Temporada veio como uma bomba sobre todos.

Depois da traição e reviravolta bombástica da 3ª Temporada, temos um começo bem interessante nesta temporada acompanhando dois times: Os filhos Kendall Roy (Jeremy Strong), Shiv Roy (Sarah Snook) e Roman Roy (Kieran Culkin) ainda desnorteados constroem uma aliança para enfrentar o pai, Logan Roy (Brian Cox) para provar seus “valores” e superá-lo.

A grande base de “Succession” que faz a série ser tão inacreditavelmente estarrecedora é o texto impecável de Jesse Armstrong e a sua equipe de roteiristas afiados que sempre conseguem deixar a gente com o queixo no chão (e isso só prova como todos eles estão certos em fazer a greve e buscar direitos melhores). Em um mundo cada vez mais cínico em que vivemos, é fascinante ver como a série abraça completamente esse cinismo para escancarar aspectos e camadas sociais da nossa sociedade, misturando drama com humor e situações inacreditáveis. Como algumas pessoas disseram e estão completamente certas: Se William Shakespeare estivesse vivo, Succession seria facilmente uma obra escrita por ele.

Já a direção da série como um todo sempre foi algo que nunca captou a minha atenção, sendo competente na maioria do tempo mas sem muitas inspirações, apenas em momentos e episódios pontuais. Mas o grande destaque dentre todos os diretores vai para Mark Mylod (O Menu, Game of Thrones), que comanda muito bem todos os episódios que dirigiu, inclusive os principais da temporada.

Inclusive, um dos elementos mais interessantes da temporada foi de adotar uma narrativa em que todo episódio se passa em um dia, e não temos nenhum salto temporal ou algo do tipo. Isso serviu para deixar toda a experiência da série ainda mais imersiva e nos colocar na pele desses personagens e nas suas rotinas.

O elenco também dispensa comentários, Brian Cox (X-Men 2), Jeremy Strong (Os 7 de Chicago), Sarah Snook (Steve Jobs), Matthew Macfadyen (Orgulho & Preconceito), Nicholas Braun (Como ser Solteira) e Alexander Skarsgard (O Homem do Norte) estão excelentes como sempre, mas a temporada pertenceu á Kieran Culkin (Scott Pilgrim Contra o Mundo). Todo o arco de Roman na temporada de ganhar o poder absoluto e perceber que no fundo ele é apenas uma criança chorona sem a capacidade de agradar o pai é incrível, e a sua interpretação é digna de prêmios. Com toda certeza vão fazer a festa em todas as premiações.

Eu preciso também fazer um parênteses no texto para falar do terceiro episódio da temporada: “O Casamento de Connor”. Nele tivemos a chocante e súbita morte de Logan Roy, o quase protagonista e grande antagonista da trama morreu no terceiro episódio da temporada final, chocando absolutamente todos os personagens e espectadores.

E toda a condução desse episódio, atuações, roteiro e forma com que isso foi lidado foi de uma forma tão brilhante, que gerou um dos melhores episódios já feitos para a televisão. Podemos sentir toda a atmosfera mudando e a última vez em que os irmãos Roy estiveram, realmente unidos e felizes. E tudo isso mostrando que no final, não importa o poder, riqueza e status das pessoas, a morte chega para todos, e de formas inesperadas.

Uma das coisas mais fascinantes da série é como todos (com exceção de um ou outro) personagens são pessoas extremamente horríveis e asquerosas. Sempre pensando em si, conspirando e vivendo uma vida muito diferente da que nós levamos. Esse afastamento de camadas sociais geram esses personagens fascinantes, e o texto da série é tão incrível que cada um acabou escolhendo e torcendo por um desses personagens ao longo da trama. E isso nos leva ao grande final da série que já gerou controversas.

Toda a série foi meticulosamente construída para mostrar que nenhum dos irmãos tinha aptidão para o cargo de CEO da empresa. Logan sabia disso, e sempre manipulou e usou os próprios filhos para seus próprios objetivos. Logo, a vitória de Mattson (Alexander Skarsgard) e ele colocar Tom (Matthew Macfadyen) como um de seus fantoches no cargo de CEO é a conclusão mais lógica para todos esses personagens e história. Um desfecho triste para todos, que provavelmente nunca voltaram a amar uns aos outros, se é que já amaram.

Finais sempre são melancólicos, e o de “Succession” não é diferente. A temporada final mantém todos os ingredientes que fizeram a série ser tão especial, e amplificou tudo entregando o seu melhor ano. Uma conclusão digna para uma das melhores séries já produzidas para a televisão. Se você por algum motivo está lendo esse texto sem ter visto a série (e eu realmente não sei por que alguém faria isso), fica todas as minhas indicações e súplicas possíveis para dar uma chance para “Succession”, que vai arrancar risos, lágrimas e sentimentos que você nem sabia que eram possíveis ter.

Nota: 10

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