Apresentando um filme de ação impecável e de proporções epopeicas, quarto capítulo da franquia é o melhor até então
O inesperado sucesso do primeiro John Wick, lançado em 2014, talvez tenha sido um dos eventos mais oportunos para o cinema de ação moderno. Com apenas Missão Impossível entregando uma franquia de ação excepcional, melhorando a cada filme lançado, se preocupando com qualidade acima de quantidade, uma anomalia considerando o estado dos blockbusters agora, estava na hora de outra franquia estar à altura e seguir os mesmos passos.
As tramas simplistas, começando apenas pela busca por vingança de um homem que teve sua cadela de estimação morta e seu carro roubado, e a construção de mundo criativa e afiada, deram à franquia seu status atual. O quarto filme e mais novo capítulo de John Wick segue os passos de seus antecessores apresentando as duas características que listei, mas sabe se renovar na direção estonteante que preza o espetáculo em extensas sequências intensas de ação e na proporção épica que garante ao longa uma importância elevada dentro dos vários outros filmes do gênero.
Não tem como desgostar da direção de Chad Stahelski, que assume aqui em seu trabalho uma seriedade que poderia muito bem não funcionar em um universo como esse com sua premissa quase que ridícula, mas que mesmo assim dá muito certo, concedendo ao filme uma grandiosidade apta para uma história como essa, que funciona como um clímax de três horas, um grande terceiro ato para a história desenvolvida nos três filmes anteriores.
John Wick 4: Baba Yaga não é um quarto capítulo, mas sim um livro inteiro. Após o fim do filme o espectador se sente como o protagonista, cansado como se lesionado pela ação que acabara de ver. Sequências de ação se estendem por dez minutos sem diálogo algum, o som de tiros, facadas, gritos e grunhidos preenchendo nossos ouvidos e nos proporcionando o êxtase semelhante apenas à aquela causado pelo uso de cocaína.
Stahelski e Dan Laustsen, diretor de fotografia, se superaram ao entregar uma cinematografia perfeita, criando a atmosfera ideal para um filme explosivo como esse, mas que usa bem seus momentos de calma. O uso de neon tem a mesma potência infernal vista nas obras de Nicolas Winding Refn, dando ao mundo do filme uma textura vista em poucas obras audiovisuais antes. Cada local utilizado se destaca e é único, todo personagem que habita esse mundo parece palpável, o uso de iluminação é genial e a direção de Stahelski—a exalto aqui mais uma vez—sabe usar todo o potencial de cada cena, seja ela de ação ou não. A edição também ajuda muito, não há um milhão de cortes nas cenas de luta e de tiroteio, e você entende tudo o que ocorre sem problema algum.
O roteiro pode não ser exemplar, mas ele cumpre seu papel muito bem. A trama vai avançando em um ritmo cada vez mais acelerado, tomando um caminho trágico que resulta em um final comovente se você se importa com os personagens desenvolvidos ao longo desses quatro filmes. Os novos personagens introduzidos também são ótimos. A Akira é uma adição interessante á um elenco de personagens interessantes, mas é Caine a maior surpresa. Interpretado brilhantemente pelo Donnie Yen, que entrega dramaticidade na mesma medida que sua já estabelecida presença física como artista marcial.
Keanu Reeves continua seguindo sua própria fórmula de atuação já conhecida, mas que cai no personagem de John Wick como uma luva. A voz grave, comportamento estoico e frieza são utilizados mais uma vez, apesar de aqui também proporcionarem momentos de humor no bom estilo deadpan, que Reeves entrega muito bem. O recentemente falecido Lance Reddick aparece muito pouco, mas ainda assim interpreta muito bem Charon, personagem notável por seu carisma tímido e charme. Ian McShane não é muito expressivo, e o personagem do Winston não tem nada de novo acrescentado, apesar de suas cenas com o John Wick serem excelentes.
Mais personagens novos do que os já estabelecidos são desenvolvidos no entanto. Além do Caine e da Akira, temos também o novo vilão, o Marquis Vincent de Gramont. Bill Skarsgård sabe ser canastrão e interpreta um desgraçado tão desprezível que chega a ser hilário, com um sotaque francês forçado que é simplesmente engraçado, apesar desse elemento ter sido perdido na dublagem infelizmente. O Sr. Ninguém é outro personagem novo que segue a tradição da franquia de personagens com cães, esse sendo um assassino com uma pastor-belga que serve tanto para apoio emocional quanto para destroçar qualquer um que atacar seu dono.
Visualmente perfeito, John Wick 4 irá proporcionar aquele que se permite entrar de cabeça nesse mundo quase três horas de diversão em um filme repleto de sequências de ação filmadas de forma engenhosa, cada uma inovadora à sua própria maneira, com uma história que tem seu toque trágico e que dá a seus personagens uma conclusão satisfatória e deixa em aberto possíveis derivados para aqueles que ainda há algo a se contar. Uma experiência que precisa ser vivida para ser acreditada, não duvide da capacidade de um filme sobre um mundo secreto de assassinos que possuem até uma estação de rádio na Torre Eiffel de te deixar empolgado. Essa é a magia do cinema.
Nota: 10
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