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Considerado um dos precursores da literatura do horror e ficção policial, a tentação para adaptar uma história com Edgar Allan Poe como uma espécie de detetive é altamente interessante, mas não é nova. Seguindo os passos de “O Corvo” (2012), o roteirista e diretor Scott Cooper usa a ideia de um jovem Edgar Allan Poe resolvendo assassinatos misteriosos e macabros – que, de alguma forma, parece servir como inspiração para criar suas obras literárias.

No caso em questão, Cooper apresenta “O Pálido Olho Azul”, que se concentra na época em que Edgar Allan Poe era Cadete na Academia Militar de West Point. Embora o filme em tela seja uma obra de ficção, sua narrativa apresenta uma abordagem elegante, intrigante e crível do escritor, fazendo alusões a seus poemas e contos posteriormente escritos. Porém, e, infelizmente, a produção falha ao se arrastar excessivamente em sua narrativa – o que torna a trama um tanto cansativa.

Em 1830, um Cadete é encontrado morto na Academia Militar de West Point, no que, a princípio, parece ser um suicídio por enforcamento. Mas, o caso fica macabro quando o médico legista constata que o coração foi cirurgicamente removido após o enforcamento. Preocupados com a honra e segurança da Academia Militar, o Superintendente Thayer (Timothy Spall, de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, 2004) contrata o renomado e veterano detetive, Augustus Landor (Christian Bale, de “Thor: Amor e Trovão”, 2022), para investigar o caso.

No entanto, o Código de Silêncio dos Cadetes se mostra um forte obstáculo para a investigação de Landor; que, logo, se depara com mais assassinatos. Para solucionar esses assassinatos sinistros, Landor recruta Edgar Allan Poe (Harry Melling, de “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, 2001), um jovem Cadete da Academia Militar, para lhe auxiliar na investigação. Poe se mostra prestativo e detalhista, porém bastante excêntrico.

Roteirizado e dirigido por Scott Cooper (“Aliança do Crime”, 2015), “O Pálido Olho Azul” é um thriller policial gótico baseado na obra homônima do escritor Louis Bayard, publicado em 2003. A produção não é baseada completamente em uma história real, mas é inspirada em um momento da vida de Edgar Allan Poe. Em 1830, o então Cadete de 21 anos – que, mais tarde, se tornaria um grande escritor e poeta mundialmente famoso – realmente ingressou na Academia Militar dos Estados Unidos de West Point e passou seis meses na instituição. O longa em questão se passa durante esse tempo.

Essa época na vida de Poe dá bastante liberdade – talvez até demais – para Bayard e Cooper contarem uma história fictícia carregada de mistério envolvendo o escritor, colocando-o em uma história de detetive própria. Com isso, o filme em tela especula que alguns de seus poemas e histórias foram inspirados pelos crimes (e outros fatos) que ocorrem em West Point, enquanto mostra o jovem Cadete Poe resolvendo assassinatos na Academia Militar.

O Pálido Olho Azul” aborda um mistério sombrio e intrigante, centrado em um detetive com profundidades enigmáticas e complicadas. Porém, da forma como o filme em tela se desenrola, não faz muito sentido como as reflexões de Poe são tão rapidamente capazes de penetrar na mente de um homem tão endurecido quanto Landor. Isso ocorre, igualmente, com a parceria entre Landor e Poe durante a investigação, que, conforme avança gradualmente, revela os componentes preguiçosos, rápidos e superficiais da trama.

Ademais, a produção apresenta um caso macabro e misterioso de assassinato de forma lenta e arrastada ao conduzir o público por uma investigação aparentemente sem saída. Essa abordagem narrativa é uma ótima forma de enganar o público e mantê-lo intrigado ao longo de todo o filme. Porém, ao mesmo tempo, é cansativo demais acompanhar uma história que não produz resultados por cerca de duas horas para, finalmente, entregar toda a explicação de bandeja em forma de uma reviravolta que quer ser surpreendente nos minutos finais do longa.

Nessa esteira narrativa, percebe-se que “O Pálido Olho Azul” é um daqueles thrillers que apresenta uma história tão limitada de narrativa, personagens e suspeitos, que seu enredo principal parece uma espécie de embuste. Com esse desenvolvimento, os personagens praticamente imploram por arcos dramáticos mais fortes. Além disso, o conteúdo emocional não é profundo o suficiente.

Somente após o suposto mistério principal do enredo ser resolvido é que a produção se concentra em explorar os demais elementos narrativos da história. Esse estilo narrativo pode ser divertido para quem gosta de histórias despretensiosas de detetives com uma atmosfera macabra e misteriosa; mas, também, pode ser um pouco frustrante por ser arrastado demais e por ter um desfecho carregado de reviravoltas preguiçosas.

A performance de Christian Bale é profunda e bastante enigmática, adicionando ao seu personagem uma base sólida, forte e consistente. Harry Melling é um ótimo ator, que chama bastante a atenção como um charmoso e promissor poeta, além de ser uma pessoa peculiar e excêntrica. As atuações de Bale e de Melling funcionam incrivelmente bem; os dois atores têm uma dinâmica bastante crível e carregam filme inteiro nas costas. Por outro lado, Gillian Anderson (de “Arquivo X”, 1993–2018) entrega uma personagem bizarramente estranha. Destaque para a pequena, porém ótima, participação de Robert Duvall (de “O Juiz”, 2014).

Um ponto positivo é a excelente Fotografia de Masanobu Takayanagi, que entrega uma chamativa escala de cinza, quebrada pelos uniformes azuis dos Cadetes da Academia Militar de West Point. A Cinematografia de Takayanagi se baseia na atmosfera gótica e sombria que o roteiro e a direção de Cooper se propõem a apresentar. Essa abordagem que Takayanagi utiliza consegue trazer perfeitamente a essência das obras sombrias de Edgar Allan Poe.

O Pálido Olho Azul” é um thriller policial macabro e cinematograficamente sombrio. O filme em tela somente consegue ser atraente e interessante pelo fato de Scott Cooper apresentar um processo narrativo sinistro e misterioso enquanto a investigação se desenrola e mais mortes acontecem. Porém, a produção chega a ser extremamente cansativa por ser arrastada demais e por apresentar reviravoltas preguiçosas como solução para um enredo relativamente fraco. Desta forma, percebe-se que o diretor está mais interessado em apresentar uma despretensiosa produção de horror gótico.

Levando tudo isso com consideração, a produção não se preocupa muito com a profundidade da narrativa e de seus personagens – mas, ao mesmo tempo, toma muitas liberdades criativas ao usar o nome de Edgar Allan Poe apenas como um gancho narrativo para apresentar uma sinistra história de assassinato. No fim das contas, “O Pálido Olho Azul” apenas homenageia uma figura da vida real, que se tornaria um poeta e autor de histórias de horror e de mistério dos anos 1800, para criar um intrigante e macabro thriller policial com uma excelente e elegante atmosfera gótica e misteriosa.

O Pálido Olho Azul” está disponível na Netflix.

Nota: 6.0

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