“Cinebiografia” de Marilyn Monroe é uma ofensa ao legado da atriz, sendo um dos piores lançamentos de 2022.
Nesta cinebiografia fictícia reimagina a conturbada vida privada da atriz Marilyn Monroe e discute o preço que ela pagou pela fama. O filme inicia com a infância de Norma Jeane (Marilyn Monroe). Com uma mãe alcoólatra e um pai ausente, teve uma infância difícil.
Uma das figuras populares mais conhecidas do mundo é a atriz Marilyn Monroe, afinal, todos reconhecem a imagem dela segurando o seu vestido branco em cima do bueiro. Então chegamos em "Blonde", um filme que adapta o livro de mesmo nome escrito por Joyce Carol publicado em 1999, que é uma releitura ficcional da vida de Monroe lançado pela Netflix. A adaptação foi envolta de polêmicas por conta da forma que aborda a vida da artista, sendo o primeiro filme da Netflix a ter censura NC-17 (classificação indicativa nos EUA que não indica que menores de 17 anos assistam o filme). Isso no entanto não impediu o filme de ser uma das grandes apostas do streaming para as premiações do ano.
Marilyn Monroe foi muito mais do que um sex simbol dos anos 40/50, ela teve uma carreira bem prolifica (que o filme aborda de uma forma porca e desrespeitosa) no cinema, trabalhando em grandes filmes e sempre entregando interpretações charmosas e marcantes, como por exemplo nos longas "Quanto Mais Quente Melhor" e "Os Homens Preferem as Loiras".
Bom, então é hora de abordar o grande elefante branco na sala: a sexualização, nudez excessiva e cenas de abuso que acontecem em 90% do filme. Essa visão que o diretor e o filme trazem dela é extremamente desconfortável e desrespeitosa, se perpetuando durante todo ele de forma que em alguns momentos parece ser uma paródia pornô.
Vale ressaltar que eu como um homem não tenho propriedade total para comentar esse assunto a fundo, mesmo tendo procurado várias opiniões distintas de mulheres sobre ele, então eu gostaria de recomendar que todos procurassem análises do filme feitas por mulheres que tem muito mais bagagem para falar disso.
Todo o filme é feito em volta da questão do pai de Norma Jeane, com ela constantemente procurando por ele ou por alguma figura masculina que o substitua. Mas o fim da picada que acendeu todas as luzes vermelhas possíveis com o filme foi quando a personagem começou a chamar todos os homens com quem se relacionava de “daddy” (ou papai), que só traz desconforto e uma conotação sexual mequetrefe que deixa Norma irritante toda a sexualização mais nojenta.
Ana de Armas (Entre Facas e Segredos, Blade Runner 2049) é de longe a melhor coisa desse filme. Ela não só está igual Monroe como estudou a fundo a sua personalidade, sotaque e voz, entregando uma excelente atuação e momentos dramáticos fortes. É óbvio que ela escolheu esse papel e esse filme pensando nas premiações e uma possível indicação (e vitória) no Oscar, mas a essa altura do campeonato não dá mais pra cravar essa indicação/vitória com tanta certeza.
Já a direção de Andrew Dominik (O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Chopper - Memórias de um Criminoso), que assina o roteiro do filme também, é inegavelmente boa, que junto com o diretor de fotografia Chasyse Irvin (Infiltrados na Klan) criam um visual bem interessante com tomadas e transições belas (destaque para a “cena da cachoeira). A dupla de compositores Nick Cave e Warren Ellis (A Qualquer Custo, A Estrada) também faz um bom trabalho na trilha sonora do filme, trazendo uma trilha atmosférica e depressiva que combina com a trama.
Até o começo muito bem feito e chocante do filme (com a infância da personagem e a relação traumática com a sua mãe) rapidamente se perde, depois que avançamos para a fase adulta dela que se torna extremamente chato e lento. 2 horas e 50 minutos de filme intermináveis sem a menor substância e um ar prepotente onde o diretor realmente acredita que está criando uma obra marcante e profunda (sendo que está apenas entregando um softporn misturado com fanfic da vida de Marilyn Monroe).
“Blonde” é misógino, prepotente, longo e um desrespeito com o legado de Marilyn Monroe. Depois do “prólogo” cada minuto do filme se torna sufocante e difícil de assistir, e nem a qualidade técnica inquestionável e a atuação de Ana de Armas salvam a experiência. Algumas pessoas vão de fato gostar do filme pelos aspectos técnicos, mas digo que sem dúvidas esse é um dos piores filmes de 2022.
Nota: 3,5
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