Crítica | Insânia – 1ª Temporada (Star+, 2021)

Nos últimos tempos, excelentes produções brasileiras têm ganhado um destaque cada vez maior – não só em relação aos filmes, mas, também, em relação às séries/minisséries. O suspense policial “Insânia” é a primeira série brasileira original e exclusiva do Star+, produção da Intro Pictures, distribuída pela Disney Platform Distribution e lançada na plataforma em 3 de dezembro de 2021.

A Star+ chegou ao Brasil em 2021 e não perde tempo em criar suas produções exclusivas em seu catálogo. “Insânia” é uma dessas produções brasileiras originais da Star+, com apenas oito episódios de aproximadamente 40 minutos cada. A nova série brasileira é um ótimo thriller policial psicológico tenso, angustiante, imprevisível e cheio de reviravoltas, onde nada e ninguém é o que parece ser.

Na trama, Paula (Carol Castro) é uma policial científica que tem um surto psicótico depois de ser informada que a filha faleceu em um horrível acidente de carro, no qual seu corpo ficou carbonizado. Com isso, ela precisa ser internada em um misterioso hospital psiquiátrico recém reativado, chefiado pelo Dr. César Schultz. Ao recobrar a consciência, Paula se encontra algemada nos pulsos e tornozelos a uma cama, fortemente traumatizada com o recente evento pelo qual passou.

Enquanto Paula é tratada pelo Dr. Schultz, que usa experimentos não muito ortodoxos, sua mente beira à insanidade e navega por caminhos sombrios e perigosos, chegando perto da loucura durante o tratamento em que ela é forçada. Visitada por uma figura assustadora em sonhos, além de premonições e visões que a atormentam, Paula tem cada vez mais dificuldade em distinguir a realidade da fantasia, passando a desconfiar do real motivo de sua hospitalização, assim como sobre a morte misteriosa de sua filha e o papel desempenhado pelo Dr. Shultz. Com isso, Paula começa a suspeitar de uma conspiração aterrorizante à sua volta.

Dirigido por Gustavo Bonafé (de “O Doutrinador”, 2018) e criado por Lucas Vivo Garcia Lagos, que assina o roteiro juntamente com Marcelo Slavich, Walter Slavich e Flor Canosa, “Insânia” é uma excelente série policial que prende a atenção do começo ao fim ao contar uma tensa história sobre uma policial que precisa lutar por sua vida e sanidade ao enfrentar um drama pessoal que se transforma em um caso chocante e impressionante. Não convencida da morte da filha, a policial Paula desconfia fortemente que há algo suspeito por trás dessa suposta tragédia. Porém, o que a impede de agir é uma decisão judicial que a obriga a ficar internada na instituição psiquiátrica.

O diferencial de “Insânia” é que, apesar de ter um design de produção modesto, a produção em tela consegue criar uma ambientação narrativa muito boa e satisfatória desde o primeiro episódio. Cenários imundos, sangue, canibalismo, experimentos sinistros, segredos, reviravoltas e o misterioso papel desempenhado pelo Dr. Shultz, que parece estar sempre na retaguarda com seu jeito frio e calculista, são elementos narrativos que contribuem enormemente para pontuar o mistério do enredo. Tudo isso chama a atenção e instiga ainda mais a curiosidade de forma extremamente intrigante.

A história, como um todo, exprime a aterrorizante sensação de que não há lugar pior para estar trancado do que na própria mente confusa, principalmente quando a pessoa está, de forma obrigatória, confinada em uma instituição, sem liberdade e com várias restrições. Esse conceito se expressa ao máximo ao longo dos oito episódios de “Insânia”, sabendo dosar com cuidado os limites do compreensível, mesmo sabendo que sua narrativa é totalmente ficcional.

“Insânia” tem vários momentos sufocantes e alguns bem impactantes. Porém, a série em tela não exagera muito em sua composição ou violência (embora pareça um pouco chocante, as vezes), sabendo entregar um resultado satisfatório no qual o enredo se propõe a contar. É angustiante ver a protagonista confinada em um hospital psiquiátrico, sendo tratada com experimentos inovadores, ao passo em que ela luta para não perder sua identidade e suas memórias, além de tentar alcançar seu objetivo de descobrir sobre o que realmente aconteceu com a filha no acidente de carro.

Um dos pontos fortes de “Insânia” é o elenco, que conta com ótimos atores, a começar por Carol Castro, Rafaela Mandelli e Ravel Cabral, que conseguem entregar uma excelente e convincente atuação, criando uma fluidez entre eles e empatia com o público. A amizade incondicional entre seus personagens é o que norteia o curso da história, se apresentando de forma bastante interessante e com enorme cumplicidade até o último episódio.

“Insânia” apresenta vários cenários bem interessantes, condizentes com a história e que conseguiu transmitir todo um ambiente misterioso envolvendo um sinistro hospital psiquiátrico. Boa parte da série foi filmada no Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Além dessas locações, a equipe de produção conseguiu transferir algumas gravações para Uruguai.

“Insânia” é um excelente thriller policial envolvendo vários elementos narrativos de terror psicológico. Seu desenvolvimento é rápido e vai direto ao ponto, sem ficar rodeando explicações desnecessárias e nem perdendo tempo com diálogos extensos. Mas, às vezes, isso acontece até demais. Talvez, um fator que faz a produção errar é justamente não preencher tanto o desenvolvimento narrativo da história e sem super explorar todos os seus elementos, bem como os seus personagens; o que poderia fazer a série crescer mais e ficar mais rica em detalhes.

Ainda assim, a produção entrega um material cinematográfico que consegue satisfazer bastante e atender as expectativas ao apresentar uma narrativa intrigante, interessante, inovadora e promissora. “Insânia” tem um enorme potencial para agradar todos aqueles que são fãs do gênero policial e suspense com elementos de terror, carregados de teorias misteriosas. A série em tela encerra seu último episódio com um desfecho em aberto muito bem estruturado e deixou um gancho muito bacana para uma possível segunda temporada.

“Insânia” está disponível na Star+.

Nota: 9.0