Finalmente, a terceira temporada de “Locke & Key” chegou na Netflix, lançada no dia 10 de agosto. A última temporada não se arrasta tanto quanto as duas primeiras temporadas, com menos episódios e alguns mais curtos – com duração com pouco mais de meia hora cada. Nesse molde, a produção, sabiamente, evitou prejudicar a qualidade da série como um todo ao apresentar apenas oito episódios de forma rápida.

Com praticamente quase todas as pontas soltas amarradas, a temporada final tem um ótimo desfecho ao encerrar história da família Locke e as chaves mágicas de forma satisfatória. A série em tela manteve-se fiel à proposta que a história pretendeu contar e entrega uma conclusão condizente com a narrativa apresentada desde a primeira temporada.

Na trama, dois meses depois de terem derrotado Dodge, tudo parece normal para a família Locke, que segue suas vidas e continua descobrindo mais chaves mágicas na mansão Key House. No entanto, uma nova ameaça se aproxima de Matheson. A família Locke se depara com mais um perigoso vilão: o capitão britânico da Guerra da Revolução Americana, Frederick Gideon (Kevin Durand, de “Com as Próprias Mãos”, 2004), que foi trazido para os dias atuais, no final da segunda temporada, por Eden – e ele tem seus próprios planos sinistros para as chaves.

Gideon, que está possuído por um dos demônios mais perigosos do maligno portão azul – local de origem de outros demônios e fonte de origem do material usado para fabricar as chaves –, planeja usar o poder coletivo de todas as chaves para derrubar a barreira entre nosso mundo e os dos demônios. A família Locke, então, precisa se unir e usar as forças das misteriosas chaves mágicas para vencer Gideon e fechar o portal de uma vez por todas.

Locke & Key” é baseado na série homônima de histórias em quadrinhos, escrita por Joe Hill (filho do também escritor Stephen King) e ilustrada por Gabriel Rodriguez, publicada pela Editora IDW Publishing, e que teve sua estreia em 7 de fevereiro de 2020. Além disso, Joe Hill também é produtor executivo da série.

Porém, ao mesmo tempo em que “Locke & Key” é baseada nas brilhantes Histórias em Quadrinhos, o enredo da adaptação divergiu, significativamente, em relação ao personagem utilizado como último vilão da série. Frederick Gideon não aparece nas HQs de “Locke & Key”. Com isso, a terceira e última temporada teve uma leve modificação no desfecho da trama original.

Com a primeira temporada sendo a etapa inicial perfeita para introduzir a história central e a segunda temporada dando uma guinada sombria, a terceira temporada de “Locke & Key” manteve o desenvolvimento dos elementos narrativos das temporadas anteriores para conseguir encerrar a saga no mesmo padrão. E a produção o fez de forma bem agradável, antes que a série ficasse maçante, cansativa e repetitiva.

E isso é muito bom, porque a produção encerrou a série em seu melhor auge, mesmo que a narrativa tenha perdido um pouco daquele forte impulso tal qual a primeira temporada. Mas, mesmo assim, a terceira temporada tem algumas sequências fantásticas, de fato, quando se trata das chaves mágicas. O surgimento de uma nova chave poderosa traz alguns novos desafios para a família Locke – e, como sempre, os momentos em que eles descobrem as chaves e precisam colocá-las em uso são tão envolventes tanto quanto as duas temporadas anteriores.

Porém, a temporada dá alguns tropeços no caminho, em alguns dos momentos mais cruciais, especialmente quando se trata do confronto da família Locke com Gideon. Ele é um dos vilões mais caricatos do programa, embora seja bastante ameaçador. Quando o antagonista faz sua incursão em busca das chaves mágicas, as coisas começam a se tornar bastante previsíveis. O objetivo de Gideon é usar as chaves para, de alguma forma, abrir um novo e maior portal entre nosso mundo e o mundo dos demônios, quebrando a barreira entre os dois. O problema é que a série não explica corretamente como Gideon é capaz de tentar tal coisa, e isso acaba sendo um potencial desperdiçado – além de, também, nunca ficar claro porque ele é tão obcecado pela família Locke.

Além disso, para uma série sobre chaves mágicas, a temporada final parecia um pouco carente sobre isso. Embora as chaves mágicas sejam extremamente importantes para o enredo geral, parecia que o objetivo central desta temporada era escondê-las do uso diário (e dos vilões) mais do que para usá-las, efetivamente. No entanto, algumas novas chaves são essenciais para uma grande parte emocional desta temporada final, trazendo alguns dos melhores momentos da série.

A terceira temporada começa muito forte e mantém os aspectos de tensão e fantasia das duas primeiras temporadas. No entanto, à medida que a série se aproxima do final da temporada, especialmente no episódio final, o público pode sentir que a narrativa foi apressada para que tivesse um final conclusivo e satisfatório.

A Netflix anunciou que a terceira temporada seria a última, mas se olharmos para as Histórias em Quadrinhos nas quais a série se baseia, há bem mais naquele universo que ainda poderia ser explorado. Ainda assim, o que a produção conseguiu realizar nessas 3 temporadas foi uma produção recheada de fantasia, de forma sombria, divertida, tensa e cheia de ação. Além da magia, “Locke & Key” também é sobre família, sendo natural que a série termine de forma mais leve, focando principalmente na família Locke e menos na magia.

Os cenários são atraentes e esteticamente agradáveis; particularmente o interior expansivo da mansão Locke, em Massachusetts. O elenco de “Locke & Key” também tem um ótimo desempenho em carregar seus personagens consistentemente muito bem. Cada personagem foi capaz de obter algum fechamento ou algum crescimento na terceira temporada. Todos têm suas próprias jornadas pessoais separadas para empreender.

Jackson Robert Scott (de “It - A Coisa”, 2017) mostra grande maturidade em seu papel como Bode; ele explora uma ampla gama de emoções e se destaca nisso. Kevin Durand é ameaçador como o principal antagonista da série, Frederick Gideon – apesar de ser caricato. O timbre distinto de sua voz, juntamente com sua atuação, faz dele um vilão digno de se enfrentar. Darby Stanchfield, Connor Jessup(de Falling Skies”, 2011-2015), Aaron Ashmore e Emilia Jones (de No Ritmo do Coração”, 2021) completam o principal elenco e cada um deles tem momentos individuais de amadurecimento, onde realmente brilham.

Locke & Key” pode não ser tão famoso quanto “Stranger Things”, que também pertence a um gênero semelhante, mas é uma série igualmente inovadora que soube, à sua própria maneira, chamar a atenção e ser atraente. Isso se deu pelo motivo de que a série em tela se prendeu a um padrão que não dá muito espaço para criatividade e, portanto, não se pode esperar muito além do que já foi apresentado. Mas, isso não quer dizer que a série seja ruim; ela tem seus méritos e entrega uma proposta diferente, conseguindo atrair o público com um interessante conceito de chaves mágicas que fazem coisas fantásticas. A produção fez algumas mudanças importantes no final da série, mas honra as Histórias em Quadrinhos de maneira bastante notável.

Locke & Key” é uma série de fantasia que começou com grande promessa e termina com um desfecho maravilhoso. O final não deixa espaço para ambiguidade e parece encerrar sua jornada da melhor maneira, embora seja um pouco previsível e clichê. Mas, com forte caracterização, atuações incríveis e um final satisfatório, “Locke & Key” consegue dar uma despedida decente à família Locke. A terceira temporada apresenta uma conclusão adequada, satisfatória e emocionante para o seriado, além de ser uma das melhores séries de fantasia lançadas em 2022.

A 3ª Temporada de “Locke & Key” está disponível na Netflix.

Nota: 8.0

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