Nova temporada surpreende ao manter a qualidade dos anos anteriores e abordar o amadurecimento de seus personagens com leveza e sensibilidade.
A primeira temporada de Never Have I Ever (no original) estreou em maio de 2020, no auge do isolamento social por conta da pandemia. Diante do cenário mundial incerto e caótico, o show possuía os ingredientes certos para transportar o público para um mundo em que as coisas ainda pareciam normais, garantindo horas de entretenimento descompromissado e, ainda assim, se mantendo relevante.
Na dramédia romântica, acompanhamos Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan), uma estudante americana com ascendência indiana, lidar com os problemas típicos da adolescência: relacionamentos, ascensão social, e as inseguranças tão inerentes a este período da vida. Em princípio, a base da série realmente segue outros inúmeros dramas adolescentes, mas, ao mesmo tempo, Eu Nunca possui particularidades que a tornam um show único e cativante, com identidade própria, como a simplicidade ao explorar pontualmente a tradição indiana sem parecer desinteressante para o grande público.
Começamos a 3ª temporada com a concretização do sonho de Devi em namorar Paxton Hall-Yoshida (Darren Barnet). No entanto, se tratando da protagonista em questão, era de esperar que as coisas não saíssem bem como planejado. E é justamente aí que mora o grande atrativo da série: a intensidade de Devi ao explorar as múltiplas sensações que é viver a adolescência. Por isso, é louvável o trabalho fenomenal por parte das criadoras Mindy Kalling e Lang Fisher na construção da personagem completamente imprevisível: você realmente não sabe o que vem a seguir, mas certamente estará ansioso para descobrir.
O novo ano expande a narrativa de Devi, seja em relação ao futuro com a chegada de Des (Anirudh Pisharody) e a faculdade ou mesmo no que diz respeito a superar os traumas do passado. Portanto, é notório como o arco da personagem está sendo bem delimitado e o amadurecimento ocorre de forma natural.
Aliás, amadurecimento é, na verdade, a palavra da vez: todos os personagens estão passando por mudanças interessantes e aqui são colocados em situações limites que permitem desdobramentos hilários, no melhor estilo Eu Nunca de resolver seus problemas.
Desse modo, temos ótimos momentos envolvendo Eleanor (Ramona Young), Fabiola (Lee Rodriguez), Paxton e, seguindo a tendência das últimas temporadas, um episódio inteiro dedicado ao Ben Gross de Jaren Lewison. E embora a Devi ainda não tenha se decidido definitivamente entre Paxton e Ben (é inegável a química que ela tem com ambos), a nova temporada traz alguns desfechos interessantes para determinados plots que nos fazem questionar sobre o quem vem pela frente.
Um outro detalhe que salta aos olhos e que não poderia deixar de mencionar é o relacionamento familiar de Devi: assistir a relação entre as Vishwakumar é sempre empolgante e terapêutico. Aqui destaco a personagem de Poorna Jagannathan como a mãe de Devi, que é divertidíssima desde a estreia da série, lá em 2020.
Por outro lado, no entanto, ainda que o show mantenha seu ritmo ágil na maior parte do tempo, alguns arcos soam desinteressantes e jogados, como o relacionamento entre Fabíola e Aneesa (Megan Suri), ou mesmo pouco desenvolvidos, como é o caso de Kamala (Richa Moorjani). Ainda assim, o roteiro consegue inserir essas personagens perfeitamente em outros núcleos, de modo que não há prejuízo para a série como um todo.
Por fim, basta ressaltar a força cativante dos personagens de Eu Nunca… ao envolver prazerosamente o espectador em seus deliciosos (e cômicos) dramas adolescentes. Honestamente, a regularidade na qualidade do programa durante 3 temporadas é realmente surpreendente: desde o seu primeiro ano, a série mantém um nível elevado por conta de sua narrativa diversificada, empoderadora e sensível.
Eu nunca… já foi renovada para sua 4ª e última temporada prometendo um desfecho condizente com tudo o que foi apresentado e que certamente irá agradar os fãs. Até lá, só nos resta esperar ansiosos pelo último ano escolar de Devi Vishwakumar.
Nota: 9,5
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