“De Volta Para O Futuro 3” magistralmente fecha todo um ciclo criado no primeiro filme e ampliado no segundo, com a mesma proporção narrativa e entregando uma aventura extremamente divertida tanto quanto os dois primeiros filmes. Filmado simultaneamente com “De Volta Para O Futuro 2”, o público, em 1990, só teve que esperar sete meses pela conclusão épica da franquia. A Parte 3 veio com um toque muito mais leve e narrativamente menos confusa/complicada do que sua antecessora.
Explorando
o Velho Oeste com mais capricho e uma abordagem menos pesada do que outras produções
cinematográficas do mesmo gênero, “De Volta Para O Futuro 3” encerra a franquia
com um final triunfante, emocionalmente satisfatório e de forma definitiva,
além de saber amarrar toda a história desde o primeiro filme e deixar sua
própria marca registrada. Mesmo tendo vindo como uma sequência não planejada, o
capítulo final manteve a mesma qualidade cinematográfica em relação ao original,
tornando-o um clássico atemporal da ficção científica.
A trama começa exatamente onde o final do segundo filme acabou, com Marty Mcfly (Michael J. Fox, de “Os Espíritos”, 1996), preso em 1955, recebendo uma carta de Doc Brown (Christopher Lloyd, de “A Família Addams”, 1991). Na carta, Doc explica que foi mandado para 1885 após ele e o Delorean voador serem acidentalmente atingidos por um raio e, assim, deixa explicações necessárias sobre a localização de onde o Delorean ficou escondido, bem como as reparações mecânicas que precisam ser feitas no carro, com o intuito de Marty voltar para 1985. Com isso, Marty decide procurar a versão de Doc Brown de 1955 outra vez – exatamente no mesmo horário que sua outra versão voltou para 1985 e Doc (de 1955) ainda está na praça da torre do relógio.
Porém,
ao invés de voltar sozinho direto para 1985, Marty decide ir para 1885 resgatar
Doc Brown, pois descobre que seu amigo foi assassinado no Velho Oeste por
Buford “Cachorro Louco” Tannen (Thomas F. Wilson), bisavô de Biff, apenas 5
dias depois da data marcada na carta. Mas, as coisas ficam mais complicadas
ainda quando, ao chegar em 1885, o tanque de combustível do Delorean sofre uma
avaria e Doc se apaixona pela professora Clara Clayton (Mary Steenburgen).
Agora, a dupla tem apenas 5 dias para resolverem o problema de como fazer o
Delorean andar sem combustível para voltarem para 1985 antes que eles acabem
mortos no Velho Oeste.
Uma das melhores coisas abordadas nos dois primeiros filmes da franquia foi a forma como a história se moveu vertiginosamente no tempo. Paradoxos temporais são empilhados em cima de mais paradoxos, chegando até a criar uma certa confusão na cabeça do público com um enredo um pouco complicado de entender acerca do fluxo temporal – embora tenha seguido um nível bastante racional e compreensivo. “De Volta Para O Futuro 3” mantém esse elemento narrativo, porém o aborda de forma bem mais amenizada do que seus dois antecessores. Com isso, a Parte 3 faz algumas explicações sobre as complexidades da viagem no tempo de forma bem mais fácil de entender e, enquanto isso, se estabelece como uma aventura divertida no Velho Oeste.
Embora
a maioria dos elementos da Parte 3 seja completamente intercambiável com os
outros dois longas, o filme em tela muda o cenário e se foca mais na história
de faroeste. O roteirista Bob Gale e o diretor Robert Zemeckis fazem o possível
para apresentar referências e homenagens a outras produções do gênero, tais
como sequestro de trem, enforcamento, saloon e duelo com armas. Porém, os
cineastas o fazem de forma mais enxuta; até porque produzir um filme
genuinamente de faroeste com todos os elementos inteiramente peculiares e
específicos não é o principal objetivo da história.
Apesar do potencial narrativo sobre o Velho Oeste apresentado na Parte 3, o filme consegue manter esses elementos de forma discreta e superficial. Em outras palavras, o Velho Oeste é apenas o cenário de fundo para contar a última aventura da dupla Marty Mcfly e Doc Brown com viagem no tempo. Gale, Zemeckis e Steven Spielberg elevaram suas expectativas e fizeram uma aposta um tanto quanto arriscada ao misturar faroeste com aventura e ficção científica.
Contudo,
o cenário de faroeste é um campo amplamente seguro de ser explorado, em termos
narrativos. O que faltou em termos de elementos tecnológicos futuristas na
Parte 2, a Parte 3 compensou em abundância com um excedente número de elementos
narrativos do gênero de faroeste, que todos já conhecem e que já foi visto em outras
produções desse gênero.
Ao conduzir essa mistura de elementos narrativos e de gêneros cinematográficos, a produção conseguiu fazer com que a Parte 3 funcionasse como um relógio. A estrutura do enredo se encaixa perfeitamente na proposta original, compensando os cinco anos de desenvolvimento no arco dos personagens principais, que entregam um trabalho satisfatório e compensador, no final das contas.
“De
Volta para o Futuro 3” é um filme muito diferente de seus antecessores,
equilibrando uma cativante história de aventura e amor com um enredo mais
orientado para a ação. Além dos elementos de viagem no tempo – que ocupam o
segundo lugar nesta Parte 3 – existem alguns elementos de ficção científica. E
tudo isso ambientado no Velho Oeste.
O grande diferencial da Parte 3 é que sai do lugar comum, mostrado nos antecessores. Embora aquela região seja o passado de Hill Valley, a ambientação é completamente diferente. A Fotografia, assinada por Dean Cundey, tem vários desafios para criar aquela ambientação que, no futuro, será Hill Valley – inclusive no que diz respeito às tomadas amplas. Os cineastas buscaram uma imagem brilhante e colorida para cada cena, com um toque de sépia em certos momentos.
O
Desenhista de Produção, Rick Carter, se destaca bastante na Parte 3. Os dois
primeiros filmes fizeram uso extensivo dos cenários permanentes na área
adjacente da Universal Studios, mas a versão de 1885 da cidade fronteiriça de
Hill Valley foi construída do zero e, de alguma forma, ainda parece familiar com
o que já foi visto anteriormente. E, a melhor coisa sobre a ambientação de “De
Volta para o Futuro 3” é que o longa foi filmado no maravilhoso Monument
Valley, lugar de locação de muitos faroestes já tão conhecidos ao longo dos
anos. Tal locação foi uma das melhores decisões que a produção tomou para
concluir a trilogia.
Um ponto positivo presente na Parte 3 é que a produção prestou homenagens a várias lendas, tais como Clint Eastwood e John Ford. A produção também prestou homenagem ao gênero de faroeste ao escalar Pat Buttram, Harry Carey Jr. e Dub Taylor; três veteranos do faroeste, que podem ser vistos como os idosos que frequentam o bar da cidade. O nome de Clint Eastwood foi autorizado pelo próprio ator para ser inserido no filme e, com isso, rendeu ótimas piadas – o que foi excelente, pois Eastwood era a maior estrela de filmes de faroeste na época da produção de “De Volta para o Futuro 3”.
Outro
ponto que chama a atenção na Parte 3 é a Trilha Sonora. Alan Silvestri volta
para compor a trilha, entregando um estupendo trabalho. Silvestri homenageia os
grandes filmes de faroeste americanos ao trazer os temas anteriores durante os
títulos de abertura e fazendo uma composição que mistura os temas clássicos com
a musicalidade do gênero de faroeste durante o resto do filme. Vale destacar
que, em 1990, “De Volta Para O Futuro 3” ganhou o Prêmio Saturno de Melhor
Música pelo trabalho de Alan Silvestri.
O elenco de apoio regular é reduzido desta vez – George Mcfly (ou seu intérprete) não tem tempo em tela na Parte 3. Lea Thompson interpreta a tataravó de Marty, fazendo seu possível tanto quanto nos 2 outros filmes; embora tenha um sotaque irlandês não convincente. Detalhe que Michael J. Fox interpreta seu próprio tataravô. Thomas F. Wilson está brilhante e dá seu melhor desempenho na Trilogia como Buford “Cachorro Louco” Tannen. Wilson, como os diferentes personagens da família Tannen, fornece um inimigo digno da franquia. Seu pistoleiro abobalhado, mas amedrontador, tem uma vantagem ainda mais desagradável do que o bilionário Biff em “De Volta Para o Futuro 2”, além de ser o Tannen mais sinistro de todos. Em 1990, “De Volta Para O Futuro 3” também ganhou o Prêmio Saturno de Melhor Ator Coadjuvante para Thomas F. Wilson.
A
química entre Christopher Lloyd e Mary Steenburgen é bem forte;
basicamente colocando Doc Brown no centro do filme com maior destaque. Os
roteiristas Robert Zemeckis e Bob Gale são sabiamente econômicos com o
crescente relacionamento entre Clara e Doc Brown; porém, dando ao Doc um
paradoxo próprio para brincar: como pode um homem tão lógico e orientado pela
ciência se apaixonar à primeira vista? É algo que leva o Doc a desafiar muitas
de suas crenças e suposições, e dá início ao pensamento que o leva a construir
uma máquina do tempo em um trem no desfecho do filme – o que caiu como uma
luva, apresentando um final perfeito para uma das trilogias mais inovadoras da
ficção científica.
Como era de esperar, “De Volta para o Futuro 3” está bem abastecida com excelentes piadas, trocadilhos astutos e detalhes de época. Destaque para Tannen coberto de esterco (como nos outros dois filmes), as piadas sobre Clint Eastwood no Velho Oeste (incluindo referências de seus personagens nos filmes do gênero) e Marty, inadvertidamente, afetando o desenvolvimento da cultura popular – neste caso, ele “inventa” o Frisbee. Zemeckis e Gale tiveram uma ótima sacada narrativa ao fazerem os personagens de Marty e Doc Brown inverterem suas frases de efeito: com Marty exclamando “Great Scott!”, enquanto Doc Brown concorda que a situação é “pesada”.
A
franquia “De Volta Para O Futuro” é um épico sucesso e um fenômeno da cultura
popular. O primeiro filme criou muitos momentos icônicos ao inovar o gênero de
ficção científica sobre viagens no tempo. A Parte 2 vai ainda mais longe e
consegue expandir o tema ao desenvolver paradoxos temporais com mais
profundidade – além de fazer algumas previsões futuristas, como videochamadas.
“De Volta Para o Futuro 3” também é um filme marcante, principalmente por
mesclar ficção científica com Velho Oeste – embora tenha sido bastante
criticado e subestimado na época de seu lançamento. Porém, a Parte 3 supera
esse obstáculo ao se tornar um daqueles raros terceiros filmes que são
merecidamente reconhecidos como um grande sucesso depois de algum tempo –
diferentemente de terceiros filmes de outras franquias, tais como “Jurassic
Park 3”, “O Poderoso Chefão 3” e “O Exterminador do Futuro 3”.
A Parte 3 se dá o trabalho de montar uma conclusão que reúne confortavelmente as demais vertentes narrativas da Trilogia de maneira eficaz, satisfatória e bem amarrada; resolvendo todos os assuntos pendentes e não deixando nenhuma ponta solta. Com isso, a produção consegue entregar um final maravilhosamente construído. A estrutura narrativa é dinâmica e divertida – além de entregar diálogos rápidos, de forma clara e coerente. Finalmente, vemos Marty evitar seu acidente, mudando sua vida (e seu futuro) para sempre.
Com
Robert Zemeckis na direção, Bob Gale no roteiro e Steven Spielberg como Produtor
Executivo, “De Volta Para o Futuro 3” é um filme de sucesso convincente e
emocionante. Como parte final de uma Trilogia, é impossível pensar que poderia
ter sido melhor, ou diferente. O terceiro capítulo encerra a clássica Trilogia
de grande sucesso, de forma brilhante ao misturar ficção científica com o Velho
Oeste, entregando uma conclusão adequada, satisfatória e triunfante sobre as
aventuras de Marty e Doc Brown sobre viagens no tempo com o Delorean. Sem
dúvida, “De Volta Para o Futuro 3” é o melhor encerramento de uma Trilogia
clássica, maravilhosa e eternamente marcante.
“De Volta Para O Futuro 3” está disponível na Amazon Prime Video, Star+, Globoplay e Netflix.
Nota:
10
Entre
aqui para ler a Crítica do filme “De Volta Para O Futuro” (1985).
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