É inegável que o primeiro “De Volta Para O Futuro” (1985) é um ícone da cultura popular, fazendo um estrondoso sucesso ao inovar o gênero da ficção científica com uma descontraída narrativa sobre viagens no tempo. Com isso, já era de se esperar que uma sequência (no caso em questão, foram duas sequências; filmadas simultaneamente), viria a acontecer. Embora a segunda e terceira parte, inicialmente, não tivessem sido planejadas, era inevitável que elas seriam produzidas.

Em 1989, o diretor Robert Zemeckis voltou para continuar as aventuras de Marty McFly em suas viagens no tempo no Delorean, com uma incrível história através do presente, passado e futuro. Desde 1985, indo até 2015 e voltando para 1955 outra vez, Marty e Doc Brown têm, literalmente, que correr contra o tempo para restaurar a linha temporal, que foi modificada e, consequentemente, afetou a vida de todos à sua volta. A princípio, parece fácil, mas a dupla tem uma árdua tarefa pela frente, haja vista que ambos têm que tomar cuidado para não criarem um paradoxo temporal e, com isso, alterar ainda mais a história.


Recomeçando diretamente de onde o primeiro filme parou, o cientista Dr. Doc Brown (Christopher Lloyd, de “A Família Addams”, 1991) leva Marty (Michael J. Fox, de “Os Espíritos”, 1996) e sua namorada, Jennifer (Elisabeth Shue, de “Despedida em Las Vegas”, 1995), para o ano 2015, com a finalidade de resolver uma questão familiar no futuro deles e evitar uma tragédia. Porém, Biff Tannen (Thomas F. Wilson), um velho inimigo de família, descobre onde Marty e o Dr. Brown esconderam a máquina do tempo e volta ao ano de 1955 para entregar à versão mais jovem dele mesmo um almanaque com os resultados de jogos esportivos das temporadas de 1950 até 2000. Com isso, o Biff de 1955 consegue alterar a história em seu benefício ao fazer apostas e ficar milionário.

Essa interferência de Biff de 2015 com sua versão de 1955 cria uma ramificação completamente diferente na linha do tempo e altera vários acontecimentos na vida de todos, acarretando em um diferente e aterrorizante futuro em que o pai de Marty foi morto e Doc Brown está preso, além de outros problemas na vida de Marty. Para evitar a tragédia da modificação do futuro, Marty e Doc Brown precisam voltar ao ano de 1955 (na mesma época dos acontecimentos do primeiro filme) para impedir que a versão de Biff desse ano receba o almanaque de jogos e, assim, restaurar a linha do tempo. O problema é, agora, em 1955, há duas versões da dupla, que precisa tomar cuidado para não cruzar com eles mesmos e criar um paradoxo temporal.


De Volta Para O Futuro 2” é um filme complicado, em termos de narrativa, principalmente porque, como não era uma trilogia planejada, a produção teve um trabalho maior para criar um enredo coerente que casasse perfeitamente com a proposta da história original. O resultado foi totalmente positivo, tendo êxito em entregar uma sequência muito divertida, principalmente graças ao carismático elenco e aos vários elementos futurísticos (alguns bem hilários), criados para o cenário de 2015. E isso foi uma coisa impressionante e inovadora, haja vista que a produção foi ousada ao tentar criar elementos que estavam 30 anos no futuro, quando o filme foi produzido.

O futuro mostrado em “De Volta Para O Futuro 2” é uma visão distópica que Robert Zemeckis, Bob Gale e sua equipe tinham de 2015. De acordo com Zemeckis, o ano de 2015 retratado no filme não foi concebido para ser uma representação precisa do futuro. Com isso, o diretor e a produção (juntamente com uma equipe de consultores cientistas) tomaram uma série de liberdades criativas para inventarem vários elementos futuristas dos quais poderiam estar disponíveis no ano em questão. E todo esse planejamento foi desenvolvido de forma bastante despretensiosa tanto quanto possível, pois, de acordo com o diretor, a produção não tinha interesse algum em tentar fazer previsões cientificamente sólidas sobre o futuro. Entretanto, o filme consegue acertar algumas dessas previsões, tais como: drones voadores automáticos, televisões Smarts de tela plana montados em paredes, ligações por vídeo chamadas, computadores tablets e escaneamento de impressão digital. Por outro lado, atualmente ainda não temos skates flutuantes, tênis e blusas automáticos e nem carros voadores.


De Volta Para O Futuro 2” não fica perdendo muito tempo nessa passagem que seria o futuro – até porque essa parte (relativa ao ano de 2015) foi a que Zemeckis menos gostou de filmar. Assim que termina de explorar “o futuro”, a película volta a girar a sua história em torno das viagens no tempo para outras épocas. O maior sucesso do primeiro filme foi o quão simples era o aspecto da viagem no tempo, não sendo muito complicado com paradoxos e linhas temporais alternativas. A Parte 2 muda isso e cria uma linha temporal alternativa nos anos 1980, com uma versão do Biff magnata e bilionário. Isso contribui para uma história um pouco mais sombria e narrativamente mais complicada em comparação à Parte 1.

Essa construção narrativa exigiu um alto padrão, em termos de desenvolvimento narrativo, para que “De Volta Para O Futuro 2” fosse elaborado e produzido, haja vista que o filme é uma excursão em várias versões do passado e do futuro, chegando a ser tão complicado de entender que até mesmo os personagens precisam fazer explicações constantes um ao outro. Isso se faz necessário, principalmente, porque a sequência se aprofunda ainda mais a respeito do paradoxo temporal. Porém, a produção toma extrema cautela ao construir um enredo fechado e bem estruturado, sem cometer erros narrativos e amarrando (quase todas) as pontas soltas. Importante frisar “quase todas” pelo motivo de que houve desenvolvimento para a Parte 3; então, a produção deixou o final da Parte 2 em aberto, justamente para haver continuidade no capítulo final.


Qualquer história sobre viagens no tempo envolve a possibilidade de paradoxos temporais. A diferença é que a franquia “De Volta Para O Futuro” tenta apresentar esse elemento narrativo da forma mais didática possível; o que, de fato, exige mais esforço. As regras de viagem no tempo inseridas na Parte 2 são inteligentes e facilmente explicadas enquanto Doc as mapeia para Marty (e para o público) na lousa de seu laboratório sobre a realidade alternativa criada pela ramificação temporal em 1985.

Embora “De Volta Para O Futuro 2” se aprofunde ainda mais nesse conceito anteriormente apresentado no filme original, a sequência mantém o mesmo padrão que seu antecessor; e tudo funciona muito bem. Como tal, este segundo capítulo tem praticamente todos os elementos narrativos principais que o original, adaptando e expandindo esse maravilhoso universo que a franquia criou, com uma nova abordagem narrativa; porém, ainda de forma divertida e dinâmica.


Entretanto, um dos aspectos mais criticados da Parte 2 foi seu enredo extremamente recheado e confuso. A sequência apresentou mais viagens no tempo do que o original, criando uma história que pulou do presente (1985) para o futuro (2015), do futuro (2015) para um presente com realidade alternativa (1985 ramificado) e, finalmente, de 1985 ramificado novamente para o passado (1955).

Comparado com o enredo mais direto e básico de seu antecessor, “De Volta Para O Futuro 2” foi considerado uma sequência com qualidade bastante inferior. E isso ocorre, principalmente, porque o filme foi avaliado antes mesmo da conclusão apresentada na Parte 3 da trilogia.


Outro aspecto abordado na Parte 2 é em relação ao uso de coincidências, como, por exemplo: o enredo força Marty a frequentar um café dos anos 80 quando ele está em 2015 e a sobreposição de Marty invadir o mesmo baile em 1955. E, muitos desses segmentos se transformam em complicações ainda maiores que exigem reparos complicados em sua narrativa; embora tudo isso crie vários momentos engraçados e inovadores – muitos dos quais se sobrepõem diretamente aos principais eventos do primeiro filme.

Com isso, o mais impressionante da Parte 2 é que quase todos os personagens conversam consigo mesmos – ou seja, as versões diferentes dos mesmos personagens –, o que exige uma composição cinematográfica mais elevada e mais complicada de ser realizada; principalmente por ser uma produção do final dos anos 1980. Além de duplicar seus atores na mesma cena (interpretando duas versões de seus personagens), Zemeckis também replica cenas do primeiro filme, com o objetivo de fazer com que as versões do mesmo personagem possam interagir entre si em algum ponto do tempo. Tal aspecto foi surpreendentemente bem estruturado e entregou um resultado extremamente bem feito e ficou muito legal.


Robert Zemeckis, magistralmente, usa excelentes e inovadores efeitos especiais para dirigir o filme, considerado um dos projetos mais inovadores da Industrial Light & Magic – sendo esta produção, inclusive, uma das primeiras incursões da empresa de efeitos em composição digital, bem como o sistema de câmera de controle de movimento VistaGlide, permitindo a gravação de sequências mais complexas. Foi este recurso tecnológico que permitiu que Michael J. Fox interpretasse três personagens diferentes, todos interagindo entre si na mesma cena. Embora tais cenas não fossem novas, o VistaGlide permitiu, pela primeira vez, uma cena completamente dinâmica. A técnica também foi usada nas cenas em que os personagens de Thomas F. Wilson, Christopher Lloyd e Elisabeth Shue encontram e interagem com suas outras versões temporais de si mesmos.

Tanto Michael J. Fox quanto Christopher Lloyd lideram, de forma excelente, o elenco. A dupla mantém uma química estrondosamente positiva e bastante formidável em tela. A atuação dos dois atores juntos foi tão bem sucedida no primeiro filme que, além de conseguirem reprisar seus personagens com igual força e intensidade na Parte 2, é inegável que eles próprios carregaram toda a sequência sozinhos.


Para completar o incrível elenco, Thomas F. Wilson reprisa seu personagem como o terrível Biff Tannen, de forma mais ameaçadora e assustadora. Claudia Wells, que interpretou Jennifer Parker no primeiro filme, foi convidada para reprisar seu papel, mas recusou devido a problemas pessoais. Com isso, a produção escalou Elizabeth Shue para substituí-la, o que obrigou a produção a refilmarem a cena final do primeiro filme para o início da sequência. Crispin Glover também foi convidado para reprisar o seu papel de George McFly – o ator até manifestou interesse, mas não conseguiu chegar a um acordo com os produtores sobre seu salário. Para solucionar essa questão, Zemeckis usou imagens anteriormente filmadas do primeiro filme, bem como novas imagens do ator Jeffrey Weissman, que usou próteses para se assemelhar a Glover. Por fim, Lea Thompson retorna como a mãe de Marty, mas a atriz foi completamente desperdiçada em tela; o que é uma pena.

Por fim, o final de “De Volta Para O Futuro 2” foi elaborado especificamente com um final inacabado, tal como a Parte 1. Porém, diferente de seu antecessor, o filme em tela termina com a promessa de uma Parte 3, no qual inclui um trailer antes dos créditos finais, exibindo algumas cenas do terceiro filme da franquia, de modo a garantir ao público que a história ainda teria mais um capítulo. Esse teaser nos créditos finais é extremamente fascinante e estava à frente do seu tempo, pois é um dos primeiros exemplos que utiliza esse elemento narrativo, que, agora, é completamente comum – principalmente entre os filmes de super-heróis.


De Volta Para O Futuro 2” é uma excelente, inteligente e bem executada mistura de ficção científica com comédia e aventura. O roteiro funciona muito bem, mas é um pouco difícil de entender, pois a história é bem complexa; porém, também é muito bem estruturada, incrivelmente amarrada e impressionantemente coerente. Embora seja um pouco mais bagunçado, narrativamente falando, o filme em tela é muito divertido, engraçado e inovador; todo o humor, emoção e prazer do primeiro filme estão presentes na sequência, de uma forma mais ampliada e expandida.

A Parte 2 faz um excelente trabalho ao produzir uma continuação direta das aventuras sobre as confusões causadas pela viagem no tempo, bem como todo um paradoxo temporal criado pelas ramificações alteradas pelos personagens. Embora a sequência se apresente um pouco mais inferior do que seu antecessor, seus elementos narrativos muito bem escritos promoveram à trilogia, como um todo, uma incrível história de ficção científica que elevou o gênero a um novo patamar, de forma bastante criativa e inovadora.

De Volta Para O Futuro 2” está disponível na Amazon Prime Video, Star+, Globoplay Netflix.

Nota: 10

 

Entre aqui para ler a Crítica do filme “De Volta Para O Futuro” (1985).

Entre aqui para ler a Crítica do filme “De Volta Para O Futuro 3” (1990).

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