Os anos 1980 foram responsáveis por produzirem vários clássicos do cinema. É inegável que foi uma década importante para a indústria cinematográfica, produzindo excelentes e nostálgicos filmes que são lembrados e assistidos até hoje. Tais produções marcaram época em um período que desenvolveu roteiros tão originais tanto quanto são excelentes. E muitos se tornaram fenômenos culturais populares inesquecíveis.

De Volta Para O Futuro” é um dos longas cinematográficos mais icônicos e inovadores dessa época; juntamente com vários outros, vale lembrar. Resultou em duas sequências, em 1989 e em 1990; sendo filmados simultaneamente. A franquia também rendeu uma série de desenhos, um brinquedo de parque de diversões, vários jogos eletrônicos, uma peça de teatro musical e vários outros itens de colecionadores – peças colecionáveis estas que são frutos de um filme considerado mais do que uma simples obra amada e lembrada entre os cinéfilos.


Na trama, Marty McFly (Michael J. Fox, de “Os Espíritos”, 1996) é um típico adolescente dos anos 1980 que mora em Hill Valley e tem uma grande amizade com o excêntrico, porém criativo, cientista Dr. Emmet “Doc” Brown (Christopher Lloyd, de “A Família Addams”, 1991). Doc Brown inventa uma máquina do tempo e a adapta em um carro Delorean. Em um experimento para testar a viagem no tempo que Doc decide realizar durante a madrugada, Marty aciona acidentalmente a máquina do tempo enquanto foge de terroristas e é transportado para 30 anos no passado, em 1955.

Ao chegar em 1955, Marty conhece as versões jovens de seus pais e, sem querer, acaba interferindo no namoro deles, colocando em risco sua própria existência, pois alteraria todo o futuro. Para consertar o paradoxo temporal e evitar que sua existência seja apagada, Marty é forçado a servir de cupido entre seus pais e precisa correr para conseguir fazer com que os dois se apaixonem logo, ou então ele deixará de existir. Para complicar, Marty precisa procurar a versão mais jovem do Doc Brown de 1955, para que ele ajude a fazer o Delorean funcionar de novo para a viagem no tempo de volta a 1985; haja vista que a máquina exige 1,21 gigawatts para acionar o capacitor de fluxo, que é o aparelho que faz o Delorean viajar no tempo.


Filmes sobre viagens no tempo são explorados desde os anos 1960, lançando alguns clássicos como “A Máquina do Tempo” (1960) e “O Planeta dos Macacos” (1968). Porém, “De Volta Para O Futuro” conseguiu inovar e reinventar o conceito, elevando o gênero para um novo patamar ao trazer novos elementos narrativos e uma ideia totalmente original. O que era para ser simplesmente um único filme, acabou por se tornar uma trilogia, trazendo histórias para duas sequências completamente coerentes e condizentes com a proposta inicial.

É impressionante notar que, mesmo após 37 anos de seu lançamento, “De Volta Para O Futuro” continua divertido até hoje. Com o trocadilho da expressão, o filme em tela viajou no tempo e, sem dúvida, é um dos maiores clássicos atemporais de todos os tempos. Sinal de que não envelheceu nem um pouco; conquistando uma legião de fãs ao longo de mais de três décadas e marcando gerações.


Não é à toa que “De Volta Para O Futuro” se tornou a produção de maior sucesso em 1985: com um orçamento de (apenas) US$ 19 milhões, o filme arrecadou mais de incríveis US$ 381 milhões em bilheteria; o que é bastante para a época. O filme em tela causou um impacto tão grande na cultura popular, que inovou o gênero de ficção científica no que diz respeito a viagens no tempo e alavancou o tema, inspirando tantas outras produções que vieram a ser lançadas posteriormente.

Robert Zemeckis e Bob Gale foram os responsáveis por criar o genial e criativo roteiro, escrito ainda no começo dos anos 1980 – o primeiro rascunho foi finalizado em fevereiro de 1981, sendo reescrito outras duas vezes posteriormente. Porém, o roteiro foi rejeitado por vários grandes estúdios; inclusive pela Disney. Com sorte, a dupla conseguiu que Steven Spielberg aceitasse participar da produção como produtor executivo. Assim, o projeto foi acolhido pela Universal Pictures, tendo Robert Zemeckis como diretor, além de roteirista, juntamente com Bob Gale. Inclusive, foi Spielberg quem conseguiu, na época, convencer o presidente da Universal a aceitar o roteiro e bancar a produção.


Zemeckis e Gale conseguiram criar um roteiro que fala sobre viagem no tempo de forma fácil de entender e sem ficar discutindo o assunto profundamente no campo filosófico. Com isso, a dupla apresenta os conceitos teóricos da viagem temporal em sua abordagem básica, sem complicar muito, e que coubesse, de forma bem didática, em uma história condizente que o roteiro se propõe a contar.

Assim, os roteiristas apenas tiveram que adaptar os elementos narrativos para criarem uma comédia e aventura com ficção científica. A questão que tinha que ser discutida diz respeito aos meios empregados para o desenvolvimento da produção do longa. A principal, talvez, seja qual forma a máquina do tempo teria: originalmente, os produtores tinham a intenção de construir a máquina em uma geladeira. Porém, a ideia foi descartada pois havia o medo de que crianças pudessem subir ou entrar nas geladeiras de suas casas. Após muitas modificações, a decisão final (e que ficou perfeitamente decidida) foi escolher o carro Delorean para ser usado como máquina do tempo; e o roteiro consegue usar uma ótima explicação para tal.


Com exceção de alguns erros de continuidade, que são perdoáveis (e que, para ser sincero, muita gente nem notou), o roteiro de “De Volta Para O Futuro” é uma impecável combinação de comédia, aventura e ficção científica, conseguindo mesclar esses três gêneros em sua melhor forma e entregando uma narrativa excelente, divertida e convincente. A começar pela cena inicial do filme, em que Marty entra na casa do cientista Doc Brown, que está ausente, mas tão logo o telespectador nota os diversos tipos de relógios e os mais variados experimentos científicos dentro do laboratório.

Sem dúvida, a tomada inicial foi a melhor forma de apresentar um personagem (no caso, o Doc Brown) sem que este, necessariamente, esteja presente em cena. Detalhe para um dos relógios na casa de Doc Brown, que representa uma torre: há um homem pendurado no ponteiro dos minutos; o que pode ser uma clara referência ao final do filme.


Um ponto que custou tempo, dinheiro e várias refilmagens à produção foi em relação à escalação do elenco. Michael J. Fox já estava sendo cogitado para o papel de Marty Mcfly desde o começo; sendo a primeira escolha. Porém, o ator estava indisponível, pois já estava participando das filmagens da série “Caras e Caretas” (“Family Ties”, 1982 – 1989). Com isso, Zemeckis acabou escalando o ator Eric Stoltz (de “Rob Roy – A Saga de uma Paixão”, 1995). Depois de quatro semanas de filmagens, Zemeckis e Spielberg estavam insatisfeitos com a atuação de Stoltz.

Assim que Michael J. Fox conseguiu uma brecha maior em sua agenda, a equipe de “De Volta Para O Futuro” se reuniu com Gary David Goldberg (produtor de “Family Ties”) e, finalmente, fecharam um acordo para que Fox pudesse participar do longa. Assim, a produção teve que ter US$ 3 milhões a mais no orçamento para que algumas cenas fossem refilmadas. Depois da saída de Stoltz, a agenda de Fox ficou apertada, pois ele estava filmando, simultaneamente, a série “Family Ties” (durante o dia) e “De Volta Para O Futuro” (durante a noite).


Outro grande acerto foi a escalação de Christopher Lloyd para o papel do Dr. Emmet “Doc” Brown, após o ator John Lithgow (primeira escolha para o personagem) estar indisponível. Inicialmente, Lloyd chegou a recusar o papel, mas mudou de ideia após ler o roteiro e só aceitou por insistência da esposa para que ele participasse da produção. Além de ter uma grande química com Fox, Lloyd improvisou algumas de suas cenas e falas.

Não só de bom roteiro, boa direção e bom elenco se fazem uma excelente produção; muitas vezes um filme depende de uma Trilha Sonora igualmente ótima e que seja marcante. Um grande destaque em “De Volta Para O Futuro” é a maravilhosa e encantadora Trilha Sonora, que reúne clássicos memoráveis e que fizeram um sucesso estrondoso. Alan Silvestri foi o responsável pela Trilha Sonora e foi quem sugeriu que Huey Lewis and the News criasse a canção tema. A banda de Lewis gravou duas músicas: “The Power Of Love” e “Back In Time”. Destaque para Huey Lewis fazendo uma ponta no filme, como o professor escolar que rejeita a banda de Marty por tocarem muito alto. Outro destaque que chama a atenção é a música “Johnny B. Goode”, tocada no baile escolar, e as canções “Mr. Sandman” e “Earth Angel”, que remetem aos anos 1950.


Os Efeitos Especiais e Visuais de “De Volta Para O Futuro” podem estar bastante ultrapassados atualmente, mas é inegável que surpreendeu bastante naquela época. É lógico que a produção tem alguns erros nesse quesito, mas a tecnologia da época permitiu entregar um material incrivelmente maravilhoso, satisfatório, convincente e que agradou o público. É compreensível que os Efeitos Especiais não tenham envelhecido tão bem assim, mas, mesmo assim, consegue impressionar pela ótima qualidade que a produção dispunha ao seu alcance na época; e isso funcionou de tal forma que, até hoje, consegue ser primoroso.

A Cenografia, o Figurino e a Direção de Arte foram três pontos perfeitamente elaborados e trabalhados. O cenário de Hill Valley foi construído com a aparência dos anos 1950, de forma mais limpa e bonita, para que a produção pudesse filmar as cenas dessa década primeiro. Encerrada essa parte, todo o cenário foi bagunçado, mexido e envelhecido para que se parecesse 30 anos mais velho, para ter a aparência surrada de 1985. O Figurino e a Direção de Arte foram montados de acordo com suas respectivas épocas e garantindo, de forma perceptível, as mudanças ocorridas por causa da interferência temporal que Marty faz ao voltar para 1955 e de volta para 1985.

Por fim, vale destacar os prêmios. “De Volta Para O Futuro” ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, para Charles Campbell e Robert Rutledge. A música “The Power Of Love” foi indicada para Melhor Canção Original. Robert Zemeckis e Bob Gale foram indicados para Melhor Roteiro Original. Bill Varney, B. Tennyson Sebastian II, Robert Thirlwell e William B. Kaplan foram indicados para Melhor Mixagem de Som.

Em 2006, o Roteiro Original de “De Volta Para O Futuro” foi selecionado pelo Writers Guild of America como o 56º melhor roteiro da história. O longa foi selecionado, em 27 de dezembro de 2007, para preservação no National Film Registry da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, sendo considerado “culturalmente, historicamente ou esteticamente significante”. Isso mostra a importância e o impacto cultural que “De Volta Para O Futuro” causou, tanto na indústria cinematográfica quanto no público. Sua influência na cultura pop foi tão marcante que o longa deixou um legado enorme, e, mesmo depois de 37 anos, ainda consegue divertir de um modo único e peculiar; além de conquistar gerações ao longo do tempo. A produção se faz especial e icônica pela incrível e diferente abordagem sobre viagem no tempo, mesclando ficção científica com comédia e aventura com uma narrativa leve e engraçada que somente tal película conseguiu realizar. “De Volta Para O Futuro” é um excelente clássico atemporal que marcou época e merece ser assistido várias vezes, eternizado na memória dos fãs mais nostálgicos.

De Volta Para O Futuro” está disponível na Amazon Prime Video, Star+, Globoplay e Netflix.

Nota: 10


Entre aqui para ler a Crítica do filme “De Volta Para O Futuro 2” (1989).

Entre aqui para ler a Crítica do filme “De Volta Para O Futuro 3” (1990).

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