O ano era 2008. O filme Homem de Ferro dava o pontapé inicial no MCU, o Universo Cinematográfico da Marvel, e na época nós não tínhamos a menor ideia do fenômeno que isso se tornaria. Passada mais de uma década, em 2019, tínhamos o grande desfecho de um sólido projeto que foi dividido em três fases, com o lançamento do sucesso de bilheteria Vingadores: Ultimato

Junto desse longa, subia a régua do espectador que se tornava ainda mais exigente, tamanha qualidade do material que havia sido entregue até ali. Como um ciclo acabava de se encerrar, não demorou até a Marvel anunciar sua fase 4 e o começo de uma nova era para os heróis.

É importante destacar que o ranking a seguir reflete o MEU olhar (escritora que vos fala) com relação aos filmes. Portanto, é legal deixar claro que está tudo bem você leitor discordar. Inclusive, deixe nos comentários como você montaria esse ranking! :) 

E digo mais. Se você não é grande fã da Marvel, conte aí nos comentários, o que está faltando para os filmes te conquistarem!

ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS

6º - Thor: Amor e Trovão

O último colocado desta lista pode gerar polêmica. O mais recente lançamento da Marvel (a considerar a data de publicação desse texto) é o quarto filme solo do Deus do trovão, Thor (o primeiro herói a conseguir a façanha de emplacar mais que uma trilogia). Em Thor: Amor e Tovão, acompanhamos o herói interpretado novamente por Chris Hemsworth em uma nova missão, cujo objetivo é caçar Gorr (Christian Bale), o Carniceiro dos Deuses, que tem sido responsável pela morte de inúmeros deuses. A direção do longa está nas mãos de Taika Waititi, que também assina o longa antecessor, Thor: Ragnarok.

Um dos principais problemas do filme está em seu roteiro preguiçoso e pouco imagético, que se apoia em propósitos rasos. É bem verdade que ele até acerta no romance, em contrapartida peca profundamente no humor. Esperávamos piadas? Com certeza. Até porque tínhamos como parâmetro o bem humorado Ragnarok. No entanto, em Amor e Trovão temos um timing equivocado e fica evidente a falta de um personagem acessor ao protagonista com de fato veia cômica (a exemplo comparativo temos a personagem Katy em Shang-Chi). Chris Hemsworth fica isolado nesse aspecto e os Guardiões da Galáxia têm pouco tempo de tela para fazerem diferença nesse aspecto. Tessa Thompson e Natalie Portman entregam personagens interessantes e representativos, mas que na comédia não emplacam. Dessa forma, o verdadeiro alívio cômica do filme fica nas costas dos bodes (pasmem).

A personagem de Jane Foster (Natalie Portman) retorna, agora como Poderosa Thor, mas passa somente a sensação de desperdício, diante de uma morte definitivamente precoce. Traduzindo, Thor: Amor e Trovão é somente mediano, ou seja, só tem nota para passar de ano e agrega pouquíssimo ao MCU, com uma trama isolada que termina trazendo um desdobramento desinteressante pra ser resolvido.

5º - Viúva Negra 

Viúva Negra provavelmente teve a missão mais complexa de toda a fase 4. Contar a história de uma personagem que já morreu no multiverso que acompanhamos, não é algo fácil de conseguir engajamento. O timing de lançamento desse filme, portanto não podia ser mais equivocado. No longametragem conhecemos um pouco do passado da vingadora Natasha Romanoff (Scarlett Johansson). Em seu filme solo, que se passa após os eventos de Capitão América: Guerra Civil (2016), seguimos a heroína em fuga após a violação do tratado de Sokovia. Enquanto se esconde, Natasha precisará enfrentar um inimigo totalmente associado ao seu passado como assassina. Na trama conhecemos um pouco mais sobre seu treinamento e suas relações familiares, em especial com sua irmã Yelena Belova (Florence Pugh), que acaba sendo o maior acerto do filme.

Com uma história típica da fórmula Marvel e que joga na zona de conforto, o filme que inaugurou a fase 4 acendeu um alerta sobre a pós-produção da Marvel, ao entregar algumas sequências com falhas grosseiras de CGI.

Ainda assim, o longa não poupa nas sequências de lutas para exaltar as habilidades técnicas da heroína muitas vezes menosprezadas quando ela debutou nos filmes de outros heróis ou da equipe. A direção de Cate Shortland toma todo cuidado para não sexualizar a heroína, algo corriqueiro em filmes da fase inicial.  Sendo assim, temos um bom filme de ação, bem como uma despedida honrosa de Scarlett Johansson do papel.  Viúva Negra poderia ser melhor sem dúvidas, mas agrada na medida do possível.

4º - Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis 

E do filme que eu esperava pouco, vem um surpreendente resultado. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis marcou pela primeira vez a introdução de um personagem inédito na fase 4 na posição de protagonista. Essa novidade não veio sozinha. Além de novo herói, teríamos ainda o primeiro de origem asiática.

Na narrativa  somos apresentados a Shang-Chi/Shaun (Simu Liu), um jovem chinês que vive nos Estados Unidos após ter fugido de seu pai, o vilão Mandarim (Tony Leung Chiu-Way). Ao lado de sua amiga Katy (Awkwafina), ele precisará voltar a seu país de origem para impedir seu pai de cometer um grande erro.

Com direção de Destin Cretton, Shang-Chi esbanja carisma e dinamismo. Aqui o humor funciona muito bem, com Awkwafina se destacando na dupla de protagonistas. Os figurinos estão impecáveis e as sequências de lutas de tirar o fôlego, enfatizando as artes marciais. Ainda que com uma ou outra conveniência de roteiro e soluções fáceis demais para alguns de seus arcos, o personagem Shang-Chi recebe uma introdução contundente e o longa não perde tempo e já conecta o personagem à história central do MCU. 

3º - Homem Aranha: Sem Volta Para Casa

O filme que está no topo do ranking para muitos e que ultrapassou a marca do bilhão em sua bilheteria mundial é medalhista de bronze no ranking de hoje. Mas não me entenda mal. Temos aqui um ótimo filme, que entrega um combinado de sentimentos, com destaque para a nostalgia. Mas não dá pra passar desapercebido o pouco cuidado com seu roteiro, que além de trazer poucas novidades é descuidado.

Na trama dirigida por Jon Watts, o grande foco está na revelação da identidade do Homem-Aranha interpretado por Tom Holland, o que é realmente compreensível. Mas as coisas desandam quando um Peter Parker frustrado e indeciso por não conseguir passar na seleção de ingresso do MIT (um instituto tecnológico), vai pedir ajuda a um vingador, o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que acata esse pedido como se acatasse a birra de um adolescente comum, o que desencadeia (forçadamente) uma série de eventos. A motivação, portanto, é tão boba, mas tão boba, que quase parece desafiar o nosso intelecto e bom senso.

Desses eventos temos o resgate de antigos vilões, ou seja, poucas novidades. De modo geral, lembramos bem como eles se comportam e como podem ser combatidos. No entanto, nesse aspecto as boas atuações sustentam os arcos dada a nostalgia envolvida. O filme talvez passasse mais discretamente se não tivesse reunido ao mesmo tempo tantos personagens que mexem com o afetivo do público que ao longo dos anos acompanhou inúmeros filmes do aranha. Fomos ao cinema já com a quase certeza da presença dos Homens-Aranhas de Garfield e Maguire e concretizamos isso. Temos ainda o aparecimento rápido do Demolidor de Charlie Cox. O fanservice dá um gostinho a mais, mas o filme se sustentar principalmente por isso, faz com que ele não ocupe o topo desse ranking. 

2º - Eternos

Odiado por muitos, mas amado por mim. Eternos foi um filme que muito esperei e de fato muito ambicioso. Imagine introduzir um grupo de DEZ personagens em pouco mais de 150 minutos, dar tempo de tela equitativo, sem a existência de filmes prévios introdutórios individuais. Uma missão difícil que Chloé Zao, ganhadora do Oscar, assumiu para si e cumpriu satisfatoriamente.

No longa conhecemos uma raça de seres imortais que vivem desde a antiguidade da Terra, moldando a história das civilizações enquanto batalham com criaturas chamadas Deviantes.

Eternos traz algo que há tempos havia se perdido no MCU, cenários orgânicos e uma fotografia realista. Nos últimos anos boa parte das cenas dos filmes vem sendo inundadas por fundo verde. Chloé Zhao entrega artesanalmente sequências maravilhosas, filmadas em externas que trazem todo um novo ar estético, amplitude, iluminação e coloração incríveis a cada frame exibido.

Conduzir um roteiro coeso com tantos personagens não é fácil, mas ela consegue. Por que então a recepção pela crítica não foi das melhores? Porque a mudança de fórmula talvez tenha sido brusca demais. Aqui o ritmo é mais lento, trabalham-se especialmente as relações, enquanto o humor, que costuma ser marcante nas obras da Marvel, vem mais pontualmente. O público desse gênero não está habituado a isso. Um ou outro personagem da nova equipe também deve no carisma, o que atrapalha o engajamento do espectador. Ainda assim, temos uma trama interessante, muita representatividade e incríveis cenas de ação, somada a um elenco recheado de estrelas como Angelina Jolie e Salma Hayek.

Eternos é um belo filme merecedor da prata, em especial por sua ousadia de renovar. Uma pena seu vínculo com MCU permanecer num limbo de esquecimento, haja vista sua única e singela mênção ter sido feita em um dos episódios de Miss Marvel.

1° - Doutor Estranho 2: No Multiverso da Loucura


Com notas relativamente abaixo do esperado em sites agregadores como Rotten Tomatoes, alguns devem se surpreender com o primeiro colocado do ranking. Mas tenho que dizer que esse foi escolhido por ser o filme que mais me prendeu e fez jus ao que se propôs.

Na premissa do novo longa da Marvel acompanhamos eventos posteriores ao filme Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e à série WandaVision. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) se depara com uma criatura que parece perseguir uma jovem, America Chavez (Xochitl Gomez). Esta detém uma habilidade única que em mãos erradas pode colocar em risco inúmeros multiversos. Sabendo dos riscos iminentes, ele procurará ajuda de uma poderosa vingadora, que está isolada desde o incidente em Westview e a perda dos filhos, Wanda Maximoff (Elisabeth Olsen).

O diretor Sam Raimi, responsável pela trilogia do Homem-Aranha de Tobey Maguire, retorna ao universo dos heróis deixando sua marca e, tal como Zhao oxigena o estilo narrativo da Marvel. Pela primeira vez, é concebido um filme com elementos de terror que, mesmo obedecendo a classificação indicativa de 14 anos, consegue exalar tensão e acertar nos jump scares. O CGI dessa vez mais acerta do que erra e o visual entregue agrada.

A falha aqui consiste no roteiro apressado que deve na hora de trabalhar alguns arcos. Wanda em um momento está conversando calmamente com Strange, poucos minutos de tela depois está em uma investida para destruir o antigo aliado. 

America Chavez é mais um ótimo acerto. A nova integrante do MCU é carismática e certamente uma excelente adição. Uma pena sua história ter sido contada apenas superficialmente. Mais vinte minutos teriam feito uma diferença positiva para o filme, sem dúvida.

O filme é do Doutor Estranho ou da Wanda? (essa pergunta tomou conta das redes sociais na época de seu lançamento). Pra mim, é do Doutor Estranho. Conhecemos um Stephen mais humano que tenta lidar com o dilema de amar, mas não saber como, de ser herói, mas não ser perfeito e é interessante acompanhar esse lado mais humano dele. Em contrapartida, é um FATO que o grande acontecimento e frenesi do filme é a Feiticeira Escarlate, graças à brilhante atuação de Olsen. Mas não digo que ela chega a ofuscar Strange, ela simplesmente ocupa o papel de antagonista, tão importante e vital quanto o do protagonista.

DE2 tem um final necessário que abre mais portas para o futuro da saga.

Finalizo dizendo que sim, a fase 4 até o momento está abaixo do esperado. Acho que um passo importante é continuar dando autonomia aos diretores, porque já há um desgaste natural da fórmula Marvel. No entanto, mesmo desapontada por vezes, o futuro do MCU ainda me cativa e acho que a culminância com os Jovens Vingadores (não confirmada, mas cada vez mais evidente) deslanchará novamente a franquia. Enquanto isso, nos resta esperar e ficar na torcida por dias melhores!

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