Recentemente, têm se tornado bastante recorrente a extrema quantidade de produções cinematográficas que repetem, basicamente, o mesmo formato narrativo para contar uma história. Essa repetição constante de lançamentos, mesmo que com a alteração de alguns detalhes em sua premissa, acaba fazendo com que tais longas sejam genéricos e previsíveis.
“Contrato
Perigoso” é mais um dentre tantos que não conseguem fugir desse pacote básico que
apresenta uma história já batida. Isso é muito preocupante, pois abre discussão
sobre os tipos de filmes que são produzidos ultimamente, colocando em xeque a
credibilidade destes.
Na trama, James Harper (Chris Pine, de “Um Jantar Entre Espiões”, 2022) é um Sargento das Forças Especiais dos Estados Unidos que, devido ao uso de drogas ilegais para tratar de uma lesão grave no joelho, é involuntariamente dispensado dos Fuzileiros Navais e tem sua pensão cortada, bem como o seguro de saúde. Passando por dificuldades financeiras e ficando cada vez mais endividado, James começa a procurar emprego no ramo de segurança privada para sustentar a esposa Brianne (Gillian Jacobs, da trilogia “Rua do Medo”, 2021) e o filho pequeno. Com a ajuda de seu melhor amigo, Mike (Ben Foster, de “Os Indomáveis”, 2007), também militar, James aceita participar de uma organização paramilitar privada, sob o comando de Rusty Jennings (Kiefer Sutherland, de “Tempo de Matar”, 1996), um colega veterano.
Juntamente
com a equipe de elite em sua primeira missão secreta, James viaja à Europa e
deve liderar uma operação tática na Alemanha para investigar e eliminar uma
suposta ameaça de questão de segurança nacional. Porém, a operação dá errado
durante a fuga e a equipe é eliminada. Sozinho, James é caçado por inimigos na
Europa Oriental, que o querem morto. Agora, preso em uma perigosa conspiração,
ele tem que fugir e tentar sobreviver para encontrar uma maneira de conseguir
voltar para casa vivo, a fim de descobrir os verdadeiros motivos daqueles que o
traíram.
Há uma ampla evidência de que o lançamento de filmes com tais premissas chama a atenção ao encontrar uma base de público para atender essa alta demanda. Entretanto, “Contrato Perigoso” sofre com a falta de ambição ao desenvolver um roteiro bastante comum e já explorado de forma altamente constante.
“Contrato
Perigoso” tem um roteiro (assinado por J. P. Davis) bastante interessante e é
recheado de ação. Porém, ao longo de seu tempo, a película luta para fazer
esses dois aspectos funcionarem juntos, apenas para levar a uma conclusão
previsível. É de se esperar que as cenas de ação sejam agitadas e rápidas, mas,
inevitavelmente, termina com um confronto final sendo completamente espremido.
Sem dúvida, o diretor Tarik Saleh prova seu talento ao conduzir cenas de ações militares realistas e dinâmicas. Na mesma proporção, mostra a importância das cenas de suspense, bem como o complicado drama familiar dos protagonistas. O problema é que J. P. Davis e Tarik Saleh parecem ter medo de fazer algo ousado e fora do lugar comum depois de estabelecerem os elementos narrativos que compõem a história.
Além
disso, o diretor e o roteirista tentam dar uma dimensão extra ao filme,
abordando como os EUA trata seus veteranos militares. O protagonista é
involuntariamente dispensado dos Fuzileiros Navais com honra ao mérito e sem os
benefícios que o ajudaria financeiramente, apesar de seus anos de serviço com
enorme dedicação e patriotismo. É um elemento narrativo também já abordado
constantemente em várias outras produções – vale destacar “Nascido em 4 de
Julho” (1989). Contudo, quaisquer pontos da trama relacionados a isso são
rapidamente deixados de lado em favor de dar continuidade na trama principal.
“Contrato Perigoso” é composto de um elenco talentoso, que se esforça para entregar um trabalho notável e ótimas atuações. Chris Pine tem uma atuação sólida, tal como em outros filmes em que ele já atuou. O ator é totalmente convincente como um especialista letal e competente em operações táticas militares.
Sem
surpresa, Chris Pine acaba carregando quase todo o filme sozinho, embora suas
cenas com Ben Foster acabam criando alguns momentos de alta intensidade,
especificamente no ato final. Pine e Foster atuam muito bem juntos, apesar da
limitação do roteiro. Mas, ao passo em que Foster entrega uma atuação pequena e controlada, seu personagem acaba se tornando muito superficial e previsível.
Em papéis coadjuvantes, Kiefer Sutherland e Gillian Jacobs não têm muito o que fazer em tela; mas, pelo menos, conseguem brilhar em algumas poucas cenas em que aparecem. Isso mostra que o elenco tem que fazer um esforço para levar adiante esse filme básico, que foca em apenas dois personagens (James e Mike) – mas, com isso, prova que Pine e Foster têm uma excelente química juntos.
Por fim, “Contrato Perigoso” insere alguns temas subdesenvolvidos, de forma extremamente superficial, nada relevantes e posteriormente esquecidos. Além de abordar sobre a apatia em relação aos veteranos militares (como já dito anteriormente), o filme em tela tenta mostrar rapidamente a relação que James tem com o pai. Porém, esses dois temas não são nada mais do que uma fachada para continuar desenvolvendo o roteiro, servindo apenas como gatilho narrativo para justificar o andamento da trama e para desenvolver a história que o enredo se propõe a contar
Apresentado, simplesmente, como um despretensioso filme de ação, “Contrato Perigoso” é competente nesse sentido. Mas não tem uma história que ostenta originalidade e, também, não consegue superar expectativas; o que é uma pena, pois poderia ter sido um thriller de ação mais instigante. O problema da narrativa é a falta de ambição para se criar algo novo e criativo, que já não fosse tão repetitivo assim em tantas outras produções anteriormente lançadas. A narrativa geral entregue parece pouco convincente, principalmente porque não é nova. Quase todos os filmes sobre (ex)soldados mercenários são constantemente explorados sob essa narrativa ao longo do tempo.
Infelizmente,
“Contrato Perigoso” é mais um thriller militar de ação com premissa bastante
genérica e previsível, mesmo com um alto grau de
entretenimento e com capacidade suficiente para divertir com várias cenas de
ação. De fato, o filme em tela contém algumas sequências de ação cativantes,
mas não consegue se libertar de seus grilhões medíocres, básicos e
superficiais, que inibem a imaginação dos roteiristas para se criar algo novo e
criativo.
“Contrato Perigoso” está disponível na Amazon Prime Video.
Nota: 6.5
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