Nova animação de Richard Linklater encanta ao mostrar a corrida espacial através da visão de um garoto, com muita nostalgia e sensibilidade.

Um coming-of-age situado nos subúrbios de Houston, Texas, no verão de 1969, em meio a histórica viagem à Lua da Apollo 11, contado pelas perspectivas dos astronautas que fizeram parte do momento triunfante e de uma criança que vive perto da NASA mas acompanhando todo o processo pela TV assim como milhões de pessoas.

O aclamado diretor Richard Linklater (Boyhood: Da Infância à Juventude, Escola do Rock) retornou após um hiato de alguns anos escrevendo e dirigindo seu mais novo filme, que se trata de uma animação feita em rotoscopia para a Netflix. Aqui vemos o diretor novamente em sua zona de conforto abordando temas que ele costuma explorar em seus filmes, com um protagonista jovem tendo uma jornada de amadurecimento cercado de uma trilha sonora espetacular com muitas bandas e nomes icônicos da música Norte Americana.

O estilo de animação adotado pelo diretor é a famosa “rotoscopia”, onde o diretor filma os atores e depois “coloca a animação por cima deles”. É uma técnica centenária bem conhecida, e o próprio diretor já usou esse estilo em outros dois de seus filmes, “O Homem Duplo” e “Acordar para a Vida”. Embora nem todas as pessoas sejam fãs do estilo, ela traz um visual bem único para o filme enquanto consegue dar liberdade para o elenco conseguir se expressar e trazer vida para os personagens.

Como havia dito, esse filme de Linklater trata de temáticas presentes em quase todos os seus filmes. Aqui acompanhamos a corrida espacial dos EUA contra a União Soviética no fim dos anos 80/começo dos anos 70 através dos olhos de um garoto do interior dos EUA, enquanto vemos sua história, amadurecimento, sonhos e novas percepções da vida. Não tem como assistir o filme e não relacionar Stan (Milo Coy) com o próprio diretor, sendo uma viagem nostálgica através da infância. A direção de Linklater é ótima como de costume, e a fotografia de Shane F. Kelly (O Homem Duplo, Jovens, Loucos e Mais Rebeldes) é outro destaque bem positivo do filme.

Já o elenco está recheado de ótimos nomes (que inclusive costumam colaborar bastante com Linklater). Destaques para Jack Black (Jumanji: Bem Vindo a Selva, Alta Fidelidade) que narra o filme interpretando a versão adulta de Stan, Milo Coy como Stan, Zachary Levi (Shazam!, Chuck) como o Agente Kranz, Bill Wise (iZombie, Disenchanted) como o conservador, estranho mas carinhoso pai de Stan e Lee Eddy (Panic, Cruel Summer) como a amável e atenciosa mãe de Stan.

O ritmo e a narrativa às vezes se tornam lentos e truncados, atrapalhando um pouco o aproveitamento da história. Ele aposta em uma narrativa não linear no começo do filme para então contar a história desde o começo até o ponto onde o filme havia parado, e deixa um pouco confuso se o garoto está realmente participando do projeto da NASA ou isso está apenas na sua cabeça. Linklater entretanto compensa quase tudo isso com um lindo final que traz um desfecho perfeito para essa história.

Por conta do período histórico em que o filme se passa, o diretor explora algumas temáticas da época e dá uma leve alfinetada de como o americano médio estava mais preocupado com a corrida espacial do que com os reais problemas sociais que o país e as minorias enfrentam. É muito interessante ver também a reconstrução da época e os costumes das famílias desse período, a forma como as crianças brincavam, como os adolescentes encaravam os trabalhos, os cenários, roupas e rotinas. Tudo isso feito no formato de animação foi bem interessante de se assistir.

No entanto, é bem triste ver um filme tão interessante de um diretor excelente (e que ainda é minimamente conhecido pelo grande público) ser completamente enterrado na Netflix, sem o menor burburinho ou promoção por parte do serviço de streaming, que o tratou apenas como mais uma adição ao catálogo. 

“Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial” é um deleite visual que narra essa história simples mas cheia de coração. As temáticas e estilos narrativos estão na zona de conforto do diretor, o que pode agradar tanto os fãs de sua filmografia quanto pessoas que estão entrando em contato com os seus filmes. Embora ele não chegue no nível de “Boyhood” ou a maravilhosa “Trilogia Before“, é uma excelente e pessoal história que retrata muito bem o sentimento de uma época através dos olhos de uma criança.

Nota: 8

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