Finalmente, a terceira parte da franquia Animais Fantásticos chega às telonas, conectando de vez o mundo de Newt Scamander com o de Harry Potter ao aprofundar a vida e a história do poderoso Diretor de Hogwarts, Dumbledore. Depois de uma espera de quatro anos, “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” chega aos cinemas (lançado em 14 de abril nas salas brasileiras) com a direção de David Yates, também responsável pelos dois filmes anteriores da franquia (2016 e 2018), e tendo J.K. Rowling, criadora da saga literária, assinando o roteiro ao lado de Steve Kloves.

O terceiro capítulo da franquia continua expandindo o mundo bruxo ao dar sequência nas aventuras de Newt Scamander nos anos 1930, durante os eventos que antecedem a Primeira Guerra Bruxa. A trama segue os acontecimentos do filme anterior, “Os Crimes de Grindelwald”, se aprofundando na disputa entre Dumbledore e o bruxo das trevas Grindelwald em meio a uma guerra que pode afetar tanto outros bruxos quanto o mundo trouxa. E, como o subtítulo do longa aponta, a história central foca no sombrio e misterioso passado de Dumbledore e sua relação com o bruxo das trevas.

O poderoso bruxo das trevas Gellert Grindelwald (Mads Mikkelsen, de “Doutor Estranho”, 2016) está se movimentando para assumir o controle do mundo mágico, e este foi dividido em dois lados opostos depois que Grindelwald começou a colocar seus planos em prática. Incapaz de detê-lo sozinho, Alvo Dumbledore (Jude Law, de “Sherlock Holmes”, 2009) convoca o magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne, de “Os 7 de Chicago”, 2020) para liderar uma intrépida equipe de bruxos e um corajoso padeiro trouxa em uma missão perigosa, na qual eles encontrarão novos animais fantásticos, além de enfrentar a crescente legião de seguidores de Grindelwald.

O que o grupo de Scamander não sabe é que Grindelwald envolverá o Mundo Mágico para o mundo dos trouxas e a Segunda Guerra Mundial. Enquanto o universo da magia vai ficando mais dividido em meio a tantas ameaças, Dumbledore deve decidir por quanto tempo ele ficará à margem da guerra que se aproxima.

Como já dito na Crítica de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, Harry Potter é um dos universos literários mais ricos da cultura popular atualmente. Isso se dá pela brilhante palheta criativa de J.K. Rowling ao criar esse vasto mundo mágico, com material narrativo de sobra para ser explorado de forma abrangente. Sendo a própria criadora deste incrível fenômeno que Harry Potter se tornou, J.K. Rowling tem a total liberdade criativa para desenvolver e expandir esse Universo Bruxo.

E, como tal, J.K. Rowling conseguiu inovar a nova franquia ao contar uma história que, embora levemente já conhecida pelo público na franquia H.P., agora tem a chance de ser contada com mais detalhes e mais profundidade. A vantagem desse elemento criativo para contar a história cinematográfica em questão é que, desta vez, não ficou “presa” ao material base (que são os livros). Sendo J.K. Rowling a própria criadora da franquia, nada mais justo e merecedor do que ela mesma criar, desenvolver e expandir esse mundo mágico. J.K. Rowling tem a oportunidade de ampliar sua própria franquia da forma como ela achar melhor e de acordo que sua criatividade permitir.

A diferença é que J.K. Rowling está podendo ampliar esse Universo Bruxo diretamente para as telonas, na condição de roteirista da produção. Mas, como dito em “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald”, escrever um roteiro cinematográfico é bem diferente do que escrever um livro. E J.K. Rowling, mesmo sendo uma excelente escritora, parece estar tendo dificuldades para fazer a transição de escritora para roteirista. Compor os elementos narrativos diretamente na forma de roteiro exige mais agilidade em seu desenvolvimento do que quando é escrito em sua forma literária.

Essa diferença no desenvolvimento narrativo pode ser percebida nos três filmes de “Animais Fantásticos”, em relação aos filmes de Harry Potter. Isso explica porque o segundo filme dessa franquia ficou extremamente confuso, haja vista que quis ampliar sua narrativa em relação ao primeiro filme. E o terceiro capítulo da saga tenta corrigir alguns desses erros.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” dá continuidade na história abordada em “Os Crimes de Grindelwald”, encerrando alguns arcos narrativos que ficaram abertos no final do filme e dando sequência em outros. O foco principal do filme em tela é centralizar, finalmente, sobre o misterioso passado de Dumbledore e Grindewald. Nesse ponto, “Os Segredos de Dumbledore” conseguiu apresentar uma narrativa mais enxuta e direta para narrar os fatos ocorridos na época em questão, especificamente apontada como história central que o subtítulo se propõe a contar, corrigindo a complexa e confusa narrativa abordada no longa anterior. É um acerto de J.K. Rowling que, desta vez, precisou da ajuda de Steve Kloves para escrever o roteiro.

Os Segredos de Dumbledore” conseguiu amadurecer a franquia, dando um passo além nesse Universo Bruxo. Com isso, a história central começa a se desenvolver de tal forma que a ideia principal não é mais, exatamente e unicamente, se focar só nas criaturas mágicas. O terceiro capítulo supera a ideia de centralizar Newt Scamander como um “Indiana Jones do Mundo Bruxo” atrás de animais fantásticos para, enfim, colocar Dumbledore, sua família e Grindewald como as verdadeiras faces centrais dos acontecimentos que a narrativa se propõe a contar.

J.K. Rowling precisa entender que o foco principal não é mais Newt Scamander, que passa a ser um personagem coadjuvante na história. Prova disso é que o longa em questão cresce nas telas toda vez que Dumbledore aparece e toma para si a capa da liderança. Com isso, “Os Segredos de Dumbledore” derrapa em sua narrativa ao insistir em centralizar Newt como protagonista em uma história que não mais sua. E isso se justifica pelo fato da escritora/roteirista criar uma franquia que tem como base o título principal nas três produções, que é “Animais Fantásticos”. “Os Segredos de Dumbledore” tenta fazer essa transição de personagens, com base em seus subtítulos, mas J.K. Rowling peca no erro e insiste em apresentar personagens e arcos demais, que poderiam muito bem terem se encerrado nos filmes anteriores.

Mas, diferente das produções anteriores, J.K. Rowling consegue roteirizar um longa mais enxuto e menos complicado do que seu antecessor, entregando um material melhor aproveitado para apresentar a trama que foi preparada para este fim. Encerrou um ciclo apresentado desde o primeiro filme da franquia e abordou, finalmente, uma história que todos os fãs estavam esperando desde o último filme de Harry Potter.

Com um tom mais político, a base narrativa principal de “Os Segredos de Dumbledore” transcorre em cima da eleição que vai escolher o novo Chefe Supremo da Confederação Internacional dos Bruxos. E é com base nessa pauta narrativa que Grindewald age para conseguir mais seguidores e colocar em prática seu plano contra os “trouxas”. Dentre os candidatos ao cargo, está a bruxa brasileira Vicência Santos (Maria Fernanda Cândido).

E, para deter Grindewald de atingir seus objetivos, Dumbledore tem que encontrar uma maneira de confrontá-lo e impedir que seus planos se concretizem, haja vista que o “pacto de sangue” realizado entre os dois impedem que um aja diretamente contra o outro. Neste aspecto narrativo, J.K. Rowling conseguiu apresentar uma história compatível e satisfatória com a proposta. É um grande passo que a franquia dá.

Nessa esteira, “Os Segredos de Dumbledore” também acerta no que diz respeito às referências do Mundo Mágico, sabendo utilizar esse elemento narrativo com mais respeito e da forma certa. Ainda assim, escorregou em alguns erros, tal como com a presença da bruxa Minerva, mas sem ficar muito carregado de fanservice, tal como o anterior.

O Figurino e a Cenografia dos anos 1930 estão belíssimos, condizentes com a proposta que o filme quer passar nessa década em questão. O mesmo pode se falar da Direção de Arte, que continua impecável e visualmente deslumbrante ao criar as criaturas mágicas. A Trilha Sonora, assinada novamente por James Newton Howard, apresenta, mais uma vez, a maravilhosa música do Mundo Mágico de Harry Potter; deleite para os fãs.

O elenco está impecável. Eddie Redmayne e Jude Law continuam entregando um excelente trabalho. Maria Fernanda Cândido está simplesmente maravilhosa como Vicência Santos, entregando uma atuação perfeita ao encenar uma personagem imponente e digna da posição que assume no filme. Por fim, Mads Mikkelsen substitui Johnny Depp no papel de Grindewald, entregando uma atuação mais séria e menos caricata ao personagem, totalmente condizente com o que a proposta narrativa precisa – essa substituição foi um dos enormes acertos do filme.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” consegue corrigir os erros do filme anterior e entrega uma história mais profunda e melhor desenvolvida que a narrativa se propõe a contar, mas continua patinando em apresentar arcos e personagens que já deveriam ter se encerrado. Mas, mesmo assim, o terceiro capítulo melhora, e muito, sua narrativa e a forma como se dispõe a apresentá-la, entregando uma história mais compatível com a proposta e, finalmente, tenta centralizar Dumbledore como o personagem principal da trama. Isso abre margem e mais conteúdo para as duas próximas sequências que estão por vir. A abordagem de “Os Segredos de Dumbledore” é mais coerente, mais direta e mais simples, fazendo uma curva narrativa que precisa se distanciar do foco inicial (que são os animais fantásticos e sua relação com Newt) para, enfim, chegar na abordagem central e mais importante, que é a história principal de Dumbledore com Grindewald. Tudo isso faz o terceiro filme ser o melhor da franquia até agora.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore” está disponível na HBO Max, Amazon Prime Video, YouTube e Google Play.

Nota: 8.0

 

Entre aqui para ler a Crítica do filme “Animais Fantásticos e Onde Habitam” (2016).

Entre aqui para ler a Crítica do filme “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” (2018). 

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