É inegável que o MCU alavancou a carreira de Chadwick Boseman e o levou ao estrelato. É com muito pesar que, infelizmente, não foi por muito tempo, haja vista que o eterno Pantera Negra faleceu em agosto de 2020 – o que é uma pena muito grande, pois ele era um excelente ator e tinha um potencial enorme para continuar brilhando, além de ser bastante carismático.

Crime Sem Saída” foi o primeiro filme de Boseman após sua última participação na fase 3 do MCU (Vingadores: Ultimato) e o antepenúltimo de sua carreira; precedido por “Destacamento Blood” e “A Voz Suprema do Blues”, ambos de 2020. O longa em tela é um ótimo suspense policial com roteiro até bem simples, mas que não deixa de se destacar pelos ótimos elementos narrativos que o compõem e, sobretudo, pelas competentes atuações, compostas pelo excelente elenco de peso.

Na trama, Andre Davis (Chadwick Boseman, de “Pantera Negra”, 2018) é um detetive da polícia de Nova York que recebe um complexo desafio do Capitão de Polícia McKenna (J.K. Simmons, de “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, 2021): ele precisa encontrar e prender uma dupla de ladrões que assassinou oito policiais enquanto estavam roubando uma quantidade grande de cocaína dentro de um restaurante na ilha de Manhattan. Para cercar e conseguir prender os ladrões, Davis decide bloquear as 21 pontes usadas como entrada e saída da ilha (aí o porquê o título original é “21 Bridges”). Com isso, o detetive inicia uma perseguição de gato e rato durante a madrugada para encurralar e capturar os ladrões.

Sob pressão de McKenna, o detetive, juntamente com a parceira no caso, a detetive da divisão de narcóticos Frankie Burns (Sienna Miller, de “G.I. Joe – A Origem de Cobra”, 2009), deve fazer justiça pelos policiais assassinados. Assim, Davis encontra a oportunidade de redimir seu passado, pois realizar a prisão dos criminosos implicaria em recuperar a honra que ele perdeu durante algumas tarefas mal executadas nos últimos anos. No entanto, quanto mais ele avança na investigação, mais ele percebe que os assassinatos se tratam de uma conspiração assombrosa entre criminosos e membros de sua própria categoria.

Aparentemente, “Crime Sem Saída” pode ser visto apenas como um filme clichê, onde dois bandidos roubam uma quantidade de droga, matam os policiais que, coincidentemente (será?), chegam ao local do crime de forma inesperada e, depois, são perseguidos pelas forças policiais que querem justiça pelos seus companheiros assassinados. Filmes com premissas nada originais assim estão aos montes. Porém, o filme em tela não se resume a só essa premissa básica e resumida. O roteiro, assinado por Adam Mervis e Matthew Michael Carnahan, se mostra mais complexo do que uma simples história classificada como clichê e nada original, que vai se desenrolando conforme as investigações mostram resultado e a tensão durante a perseguição dos criminosos aumenta cada vez mais.

Em outras palavras, “Crime Sem Saída” tem uma narrativa que nada é ao acaso e tão simples assim. Conforme as investigações avançam, Davis vai se enroscando cada vez mais em uma grande teia de aranha sobre o submundo do crime e os responsáveis nela envolvidos. O diretor Brian Kirk toma o cuidado de argumentar os fatos e informações do longa em questão com a máxima tensão de um exemplar filme de suspense policial, e ele a administra ao telespectador com um conta gotas. O que é um ponto positivo, já que isso conseguiu segurar o mistério até o final e evitou de o longa ser previsível.

Outro elemento bem explorado desde o início de “Crime Sem Saída” é o desenvolvimento dos personagens, que são definidos por motivações próprias e que justificam suas ações ao longo do filme. A caracterização dos personagens foi bem construída pelo roteiro e o contraste de cada um é percebida já logo quando o personagem entra em cena. O maior de todos, talvez, seja o do próprio protagonista principal, Andre Davis, cujo início do filme já mostra ao telespectador o quanto ele moldou seu bom caráter na função de policial, se inspirando no bom exemplo de seu pai, que também era policial e morreu quando ele ainda era uma criança.

Esse desenvolvimento é importante para mostrar o quanto o personagem de Boseman é determinado, sério, focado e que tenta ser um policial justo. Pode-se perceber isso já logo quando Davis é interrogado pela comissão da corregedoria de investigação interna da delegacia de polícia que ele trabalha, por ser um policial que já precisou atirar e matar bandidos com uma certa frequência. E esse é um bom elemento narrativo, que, além de fixar o caráter do personagem, se faz relevante para discutir uma subtrama explorada depois. E Boseman consegue desempenhar seu personagem com incrível maestria, mostrando seu enorme talento.

Nem todo filme policial precisa apresentar inúmeros dispositivos e elementos narrativos, de forma absurdamente excessiva, para ser caracterizado como excelente, só para querer ser um diferencial. Basta apresentar um roteiro condizente, amarrado, coerente, o mínimo de clichês possível e com ótimas cenas de ação. Muitas vezes, apenas o simples e básico servem para construir uma história muito bacana – desde que bem construída –, sem precisar ficar apelando para o exagero e sem precisar ficar incluindo elementos complexos demais ao tentar criar uma narrativa diferente de um filme policial. Desnecessário exigir demais quando se pode entregar e agradar com menos.

E “Crime Sem Saída” funciona muito bem como um ótimo filme policial, pois, além das excelentes atuações (juntamente com o ótimo elenco), o longa cria uma história tensa e interessante, que consegue prender a atenção com um ritmo dinâmico. O longa consegue agradar ao desenvolver uma narrativa inteligente e satisfatória sobre perseguição policial, mesmo não se preocupando com muitas reviravoltas, explicações extensas e explosões. O roteiro cumpre o que promete ao entregar um material cheio de ação, além de ser completamente acelerado. Além disso, o longa em questão consegue segurar o suspense até o fim e sabe surpreender com uma simples história policial recheada de perseguição frenética.

Crime Sem Saída” está disponível para assistir na Amazon Prime Video e HBO Max.

Nota: 9.0

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