Mike Mills entrega um lindo retrato sobre o relacionamento de um tio com o seu sobrinho, mostrando que às vezes nem o tempo pode apagar certas memórias.

Quando a sua irmã lhe pede para tomar conta do filho, um jornalista de rádio embarca numa viagem pelo país com o seu sobrinho enérgico para lhe mostrar a vida fora de Los Angeles.

O mais novo filme escrito e dirigido pelo diretor Mike Mills (Mulheres do Século 20, Toda Forma de Amor) em parceria com a produtora A24 foi filmado entre o final de 2019 e o começo de 2020, sendo um pouco afetado pela pandemia. Por conta da fama do diretor, a presença do ator Joaquin Phoenix no papel principal e o selo da A24 ele conquistou a atenção de diversas pessoas em festivais de cinema, sendo aclamado pela crítica e sendo fortemente considerado para premiações. 

Como um grande fã da filmografia de Mills, não pude deixar de ficar intrigado com a temática do filme e a simplicidade com que ele conta essa história linda e emocionante. A princípio a trama parece seguir um caminho bem óbvio, sendo uma “comédia romântica” da A24 com um tio tendo dificuldade de criar o seu sobrinho. Mas conforme o filme passa e o roteiro se desenvolve, Mills apresenta algo bem mais complexo, intrigante e em alguns momentos existencial.

A fotografia preto e branca traz um charme e melancolia que casa com a história, tom e narrativa do filme. Sempre que um filme atual decide utilizar essa estética normalmente deixa um gostinho meio pretensioso na boca de muitas pessoas. Mas essa estética tem um real sentido dentro do filme para trazer um tom mais melancólico e sentimental. É um excelente trabalho também do cinematógrafo Robbie Ryan (A Favorita, História de um Casamento), principalmente nas cenas em plano aberto com a dupla andando pelas praias, cidades e parques.

Não é segredo para ninguém que o ator Joaquin Phoenix (Coringa, O Mestre) é um dos melhores atores da atualidade e da sua geração. Neste filme não é diferente, visto que Phoenix entrega uma excelente interpretação com camadas diferentes e muita emoção. Para quem está acostumado com os papéis mais intensos do ator, como em “Coringa”, “Gladiador”, “O Mestre”, “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” e outros, pode vai se surpreender no entanto com seu personagem, que não é explosivo, sinistro ou ameaçador como os outros. 

Mas o que realmente serve como uma “cola” que une todo o filme é a excelente interpretação de Woody Norman (A Batalha das Correntes). Normalmente não esperamos muito de interpretações infantis, mas no caso do filme era crucial achar um ator mirim que soubesse interpretar bem o seu personagem e ter uma química boa com Joaquin. 

Crianças (principalmente as que vivem em um ambiente complicado) são bem difíceis de se lidar, e o garoto no filme não é diferente. A explosão constante de sentimentos diferentes e o constante aprendizado são coisas bem reais e humanas que o diretor trabalha muito bem.

A narrativa e o ritmo do filme são bem lentos, mas especificamente nesse caso não chega a ser um demérito do longa. A mensagem final sobre o relacionamento dos dois e a questão da “memória” faz todo o desenvolvimento lento fazer sentido (mas é claro que a questão do ritmo é bem subjetivo, visto que é algo que não me incomoda ou afeta a experiência, mas já outras pessoas não têm paciência para uma narrativa lenta).

“Sempre em Frente” é o tipo de filme que eu mais aprecio nos dias de hoje. Sensível, humano, emocional e real. Ele mostra uma linda e complexa relação de dois seres humanos completamente diferentes, um no começo da vida mas que já tem que lidar com os problemas causados por ela, e outro que está em um momento de transição e luto, enquanto se conhecem e formam um laço.Sem falar no final, que é de encher os olhos. Um filme que merece ser assistido por mais pessoas e reconhecido nas premiações.

Nota: 9.5

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