Vez por outra, sempre aparece algum filme que aborde viagem no tempo, seja por meio de alguma máquina ou outro mecanismo que permita a pessoa viajar no tempo ou ficar presa em um looping temporal que a faça reviver um dia em específico. O que muda de um filme para outro é o contexto em que o protagonista está inserido e o que ele deve resolver durante o longa, que justifique a viagem temporal.

A bola da vez é o filme “Mate ou Morra”, que foi lançado em setembro de 2021 pela Imagem Filmes. O longa se baseia no ciclo infinito de looping temporal para apresentar o protagonista principal tento que aprender, preso diariamente nesse ciclo repetidamente, a passar em cada barreira, obstáculo e derrotar cada inimigo em sua cola para conseguir alcançar seu objetivo final e vencer o ciclo temporal, que só vai se interromper quando o grande vilão for derrotado.

Na trama, Roy Pulver (Frank Grillo, de “Capitão América 2: O Soldado Invernal”, 2014) é um ex-agente das forças especiais que, inexplicavelmente, fica preso no tempo e se vê forçado a reviver o dia de sua morte inúmeras vezes. Ele acorda sendo perseguido por assassinos e, de uma forma ou de outra, acaba sempre morrendo no final. Enquanto luta para chegar ao fim do dia com vida, Roy descobre uma mensagem de sua ex-esposa, Jemma (Naomi Watts, de “O Chamado”, 2002), revelando o envolvimento do cientista Coronel Ventor (Mel Gibson, de “Coração Valente”, 1995) nesse ciclo mortal e percebe que a sua família também corre perigo.

Ao mesmo tempo em que Roy tenta evitar ser morto, ele percebe que existe uma razão maior para que tudo isso aconteça. Em uma corrida contra o relógio, Roy deve caçar o Coronel Ventor, chefe de um programa científico, enquanto foge de assassinos altamente treinados, que querem mantê-lo longe da verdade. Com isso, Roy tem que vivenciar o mesmo dia repetidas vezes até descobrir como eliminar todos os obstáculos e inimigos com vida, até conseguir enfrentar Ventor numa luta mortal, onde só há um único jeito de sair com vida.

O longa, que, embora tenha uma sinopse de forma genérica acima descrita, tem uma sacada legal e que pode ser um diferencial: o personagem principal, que está preso em um looping temporal, tem sempre que encontrar uma maneira certa de passar por cada fase e com uma maneira específica de enfrentar determinado inimigo que cruza seu caminho, até chegar no chefão. Se falhar, ele morre e tem que recomeçar tudo de novo.

A tal sacada é que esse mecanismo se parece com os níveis de um jogo de videogame, em que o personagem escolhido pelo jogador tem que vencer todos os seus adversários de uma determinada forma e vencer todos os níveis, até que, finalmente possa enfrentar o grande vilão, e isso só acontece no final. Isso se dá, principalmente, se reparar que o título original do filme em tela é “Boss Level”, o que, em tradução livre, significa “Nível do Chefe”.

Essa fórmula, beirando um elemento genérico, de o protagonista se ver vivenciando o mesmo dia repetidas vezes sem saber o porquê e, ao longo dessa premissa, ter que descobrir o que fazer para interromper o looping temporal, salvar sua própria vida e conseguir seguir em frente já não é mais tão original assim. Ou seja, já está começando a ficar batida e, com o perdão da palavra, também está se repetindo com frequência – tanto quanto o looping temporal que se repete nesse tipo de filme.

Basta vermos outros filmes que se utilizam desta mesma ferramenta para contar histórias em que o personagem principal fica preso em um looping temporal e passa a maior parte do filme tentando descobrir como interromper este ciclo. Filmes como: “No Limite do Amanhã”, “Feitiço do Tempo”, “Contra o Tempo” e “A Morte Te Dá Parabéns”; todos usam desta mesma artimanha para prender o protagonista no mesmo dia e ele tem que descobrir sozinho como escapar. Mas, a questão é que, como dito anteriormente, o que muda de um filme para outro é o contexto em que o personagem está inserido. E “Mate ou Morra” está dentro deste círculo; o que não o torna especial ou excepcional, haja vista que o filme bebe da mesma fonte que os demais longas citados utilizam para contar.

O diferencial apresentado em “Mate ou Morra” é apenas um detalhe de narrativa que muda a concepção do filme em si (em relação aos outros filmes com looping temporal) e que justifica sua produção. Senão, ademais, tirando isso, o que sobra? Premissa e sinopse não se confundem, e tirar o gatilho de um enredo que serve de gancho para o filme acaba tirando a proposta que o longa pretende mostrar para, apenas, sobrar uma ideia genérica e utilizada em tantas outras produções.

E é justamente sob o gênero de ação que “Mate ou Morra” se monta como gatilho para contar a história em questão; diferentemente de “A Morte Te Dá Parabéns”, por exemplo, que se utiliza do gênero de suspense, e de “Feitiço do Tempo”, que já é contada sob o gênero de comédia. Todos os filmes citados sobre esse tema apresentam propostas diferentes, mesmo que usem da mesma premissa, que é o looping temporal. No caso de “Mate ou Morra”, o longa em questão não deixa a desejar em relação à ação e faz o telespectador pensar junto com o protagonista durante o seu trajeto sobre o que ele deve fazer para superar cada obstáculo até chegar no último chefe da trama. E, em cada ciclo, mesmo que o dia se repetindo, o personagem tenta mudar sua rotina, o que não deixa o filme ficar cansativo e ajuda a ação ser bastante dinâmica ao longo da sua uma hora e meia de duração.

Mate ou Morra”, cujo roteiro foi escrito pelos irmãos Chris e Eddie Borey em 2010, e dirigido por Joe Carnahan, pode parecer um tanto genérico por se basear em uma fórmula já bastante utilizada em vários outros filmes – que é o looping temporal –, mas, o que o diferencia dos demais é a forma como ele é explorado. Usando e abusando de cenas de ação do começo ao fim, o filme em tela consegue divertir, mesmo que muitos dos fatos se repitam durante o longa.

Mesmo que “Mate ou Morra” esteja recheado de clichês, o longa em questão precisa se utilizar desta artimanha para conduzir sua narrativa e apresentar uma ideia que se dispôs a contar. As cenas de ação são bem coreografadas e com pitadas de alívio cômico – o que é bom, para quebrar a tensão narrativa e não deixar que fique desgastada. Com isso, o filme se torna dinâmico e menos cansativo, além de divertir.

Mate ou Morra” está disponível no Telecine.

Nota: 8.5

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