Você já escreveu uma carta para o Papai Noel quando era criança? Sabe para onde vai as cartinhas e como o Papai Noel as recebe? Já imaginou como funcionaria a fábrica do bom velhinho no mundo real? Já parou para pensar de onde vem os subsídios que arcam com as despesas do negócio; ou você acredita que tudo na indústria acontece de forma mágica? E se fosse possível localizar o lugar onde o Papai Noel constrói os brinquedos e percebesse que toda essa história tradicional precisasse ser arcada com um gigantesco orçamento anual, que presenteia as crianças de acordo com seus bons ou maus comportamentos?
“Entre
Armas e Brinquedos” responde a essas perguntas, abordando, de maneira nada
tradicional, como funcionaria a indústria do Papai Noel no mundo real do
sistema capitalista e como ele tenta, desesperadamente, alavancar seu negócio,
que está à beira da falência, haja vista que é subsidiado por um contrato com o
governo para a produção de todos os brinquedos. Ao mesmo tempo, também mostra
as consequências de crianças insatisfeitas com presentes ruins por mal
comportamento.
Com a falta de crianças boas no mundo, Chris Cringle, o Papai Noel (Mel Gibson, de “Coração Valente”, 1995) está à beira da falência e está lutando contra o declínio. Para salvar seu negócio, Chris se vê obrigado a fazer uma parceria com o exército dos Estados Unidos e coloca a fábrica de brinquedos à serviço dos militares para que fabriquem armas e, assim, Chris conseguir aumentar os subsídios.
Para
piorar a situação, Billy Wenan, um garoto rico e mimado de 12 anos, contrata um
sicário altamente treinado (Walton Goggins, de “Os 8 Odiados”, 2015) para matar
o Papai Noel, após o garoto receber um pedaço de carvão no Natal no lugar de um
presente, por ser uma criança de péssimo comportamento. Isso coloca o bom
velhinho e o assassino num jogo de gato e rato.
“Entre Armas e Brinquedos” foge dos tradicionais filmes natalinos ao abordar um Papai Noel fora dos padrões convencionais: mal-humorado, ranzinza, resmungão, cansado da vida e desiludido com o excesso de crianças más e com a falta de crianças boas no mundo. Para piorar, o bom velhinho ainda sofre com a crise econômica em um mundo capitalista que custeia seu estilo de vida e, com isso, está empurrando seu negócio à falência. O que fazer, então, diante de tal situação, senão expandir o ramo de suas atividades para novos setores de produção?
Em
um cenário em que a imagem do Papai Noel e sua fábrica operada por elfos
existem no mundo real, o conceito mais próximo que se pode chegar da realidade
coloca o bom velhinho como empresário, cuja empresa está passando por extremas
dificuldades financeiras – o que torna a narrativa mais real e lógica ainda,
embora seja, obviamente, uma história fictícia. A solução para tal problema
financeiro encontra refúgio na ideia de terceirizar a fábrica para que o
governo fabrique armas. Com isso, Chris consegue aumentar o subsídio pago pelo
governo e melhorar sua renda – haja vista que é com esse dinheiro que ele paga
os elfos, alimenta as renas e paga as contas, além de seu próprio sustento, que
divide com a esposa, Ruth Cringle.
Dirigido pelos irmãos Ian Nelms e Eshom Nelms, que também assinam o roteiro, “Entre Armas e Brinquedos” traz uma diferente, porém curiosa, releitura sobre a entidade do Papai Noel e de como funciona os bastidores de seu (nem tanto) lucrativo negócio, cuja narrativa, embora improvável, poderia sugerir ser uma ideia utópica, dentro do contexto mais perto do real em que vivemos.
É
uma ideia que convence? Sim, pois o Papai Noel é uma história fantasiosa; pode
ser livremente explorada dessa forma (e de tantas outras possíveis).
Entretanto, se os diretores se propõem a apresentar o filme em tela sob essa
perspectiva, então que seja feita bem explorada e bem explicada. “Entre Armas e
Brinquedos” tentou apresentar dois arcos diferentes em uma mesma história, sem
se aprofundar muito e, com isso, ficando um tanto superficial demais – só para
não falar “sem conclusão”.
Mel Gibson está excelente, como sempre, e perfeito em sua performance como um Papai Noel insolente, agressivo e malcriado, além de conseguir transmitir sua raiva com alguma coisa (ou com alguém) quando faz a expressão de louco em sua cara. Cumpre ressaltar que o título original (“Fatman”) significa, em tradução livre, gordo/obeso; que, no caso, refere-se à condição física do Papai Noel. Porém, dado o contexto em que o enredo do filme em tela explora, a tradução para o título (“Entre Armas e Brinquedos”) foi bem adequada aos propósitos que a trama expõe.
“Entre
Armas e Brinquedos” é um bom filme de comédia de ação, que vale a pena ser
visto por construir uma narrativa divertida e diferente do que conhecemos sobre
a história do Papai Noel e de como ele administra seus negócios (nem tão
lucrativos assim) em um mundo capitalista, que requerem retornos financeiros
para que as atividades desta figura natalina continuem sendo realizadas. O
filme em tela foge dos padrões tradicionais de uma forma até um tanto audaciosa
demais, então é melhor assisti-lo sem se preocupar com certos absurdos – se bem que todo o universo tradicional sobre o Papai Noel em si já é fantasioso e
absurdo o suficiente. O que os Irmãos Nelms fizeram foi apenas decorá-lo um
pouco mais.
“Entre Armas e Brinquedos” está disponível na Netflix, na Amazon Prime Video e na Paramount+.
Nota: 7.5
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