Série live-action da Netflix falha miseravelmente em tentar adaptar o clássico anime de 1998, se consagrando como mais uma adaptação ruim de animes e uma das piores produções do ano.

Baseado no anime dos anos 1990, Cowboy Bebop acompanha Spike Spiegel, Jet Black e Faye Valentine enquanto eles formam um poderoso grupo de caçadores de recompensas se aventurando pelo sistema solar atrás dos criminosos mais perigosos do universo, como Vicious. Juntos, eles embarcam em diversas aventuras mortais pela galáxia, encontrando todo tipo de figura e formando aliados e inimigos pelo caminho.

“Cowboy Bebop” é um dos animes mais famosos e influentes de todos os tempos. A obra original de Shinichiro Watanabe (Animatrix, Samurai Champloo) conquistou os corações de todo mundo e como toda obra que faz sucesso, virou um grande alvo de Hollywood. Durante anos, houve um grande interesse em adaptar o clássico anime em um filme live-action, com o ator Keanu Reeves (Matrix, John Wick), que é assumidamente um fã da série, envolvido como produtor e potencialmente vivendo o protagonista.

Em 2018, foi anunciado que a Netflix estava desenvolvendo enfim a adaptação live-action de “Cowboy Bebop”, com Christopher Yost (Thor: Ragnarok, The Mandalorian) servindo como produtor, showrunner e roteirista principal e direção da dupla Alex Garcia Lopez (Demolidor, The Witcher) e Michael Katleman (Primitivo).

Logo de cara, a primeira coisa que dá pra perceber é o roteiro e diálogos tenebrosos da série, que fazem a produção e os personagens parecerem mais uma paródia de “Cowboy Bebop” do que uma adaptação oficial com um orçamento gigantesco de milhões de dólares produzida pelo maior serviço de streaming do planeta. Alguns desses diálogos são tão ruins, mas tão ruins, que nem os atores principais salvam as cenas.

Quem assistiu o anime sabe que as cenas de ação são extremamente importantes e bem feitas, com algumas sequências sendo consideradas as melhores já feitas nas animações. A direção do live-action tenta emular o dinamismo e agilidade delas, mas as cenas de ação ficam simplesmente intragáveis e mal feitas. Algumas são até decentes e tem coreografias boas, mas a execução é péssima. E falando na direção, os diretores de fotografia da série tem uma séria obsessão em usar o famoso “Ângulo Holândes” (uma breve inclinação da tela que deixa ela meio torta), usando esse recurso visual a todo momento. Isso somado a fotografia completamente blasé deixam a fotografia e estética da série bem desinteressante. 

O elenco principal por incrível que pareça, é uma das melhores coisas da série. John Cho (Star Trek, Buscando...) como Spike pode não ter o ar “cool” ou até mesmo o carisma do personagem na animação, mas convenceu (minimamente) nas cenas de ação e nas partes de humor. Mustafa Shakir (Luke Cage, Quarry) como Jet tem todo o carisma do personagem, enquanto Daniella Pineda (Diários de um Vampiro, Jurassic World 2: Reino Ameaçado) como Fey traz todo o ar sexy da personagem sem objetificar ela como o anime faz (e isso é muito bom). Chega a dar pena ver esses atores se esforçando tanto para salvar seus personagens do roteiro e falas terríveis, o mesmo infelizmente não pode ser dito do resto do elenco.

Todo o elenco secundário e atores extras (que fazem bandidos principalmente) são péssimos. É realmente difícil distinguir se a culpa é do roteiro e da direção, ou os atores é que são o problema. No entanto, o núcleo mais prejudicado de toda a série foi o do vilão, Vicious, interpretado pelo ator Alex Hassell (Two Down, Cold Mountain). Esse é um caso muito especial, pois as expressões e entrega de falas dele são tão ruins que fazem as cenas do vilão serem hilárias. Ele em nenhum momento convence ou traz um senso de perigo, destoando totalmente do personagem da animação. Até as cenas de combate com a sua espada são terríveis.

Os roteiristas da série até tentam manter a estrutura da animação, onde cada episódio tem a equipe lidando com uma ameaça diferente, enquanto constroem e desenvolvem uma relação entre si. Mas de novo, isso é mais uma coisa executada de maneira porca e preguiçosa. Um bom exemplo é um dos melhores e mais assustadores episódios da animação, onde Spike enfrenta o psicótico Pierrot Le Fou em um intenso combate situado em um parque abandonado. No live-action, eles recriam o visual do vilão (vivido pelo ator Josh Randall), dos cenário e alguns frames idênticos ao do anime (como a parte em que vemos Spike ser chutado múltiplas vezes para cima, através das sombras refletidas na parede), mas é tudo tão artificial e desinteressante, que perde a mágica. Você só quer que o episódio acabe.

Quando a Netflix anunciou a série, o maior medo de parte das pessoas era o valor de produção, os visuais e os efeitos especiais. Surpreendentemente, tanto os visuais gerais dos personagens, o design de produção (cenários, naves, armas e objetos) é bem feito, assim como o cgi (na maior parte do tempo).

Um dos poucos acertos da série é trazer a lendária compositora Yoko Kanno (Cowboy Bebop, Macross Plus) para trabalhar na série. Kanno reutiliza várias faixas icônicas que compôs para a trilha do anime, e quem assistiu "Cowboy Bebop" sabe que a trilha sonora é um dos grandes elementos do anime, servindo até mesmo como um recurso narrativo da história. Ela é de longe a melhor coisa da adaptação da Netflix, e até as novas composições originais para a série são boas.

A temporada termina com um grande twist (previsível e horrível) na trama, trazendo uma mudança drástica para a série em relação ao anime, no que diz respeito ao vilão e as tramas das futuras temporadas. Eles também introduzem finalmente a personagem Ed, vivida por Eden Perkins, que parece ter saído de um episódio do programa infantil “LazyTown”, de tão caricata e bizarra que é. A personalidade, escrita e atuação é só mais uma prova de como a Netflix, os produtores e roteiristas falharam em entender os personagens.

“Cowboy Bebop” se junta à extensa gama de adaptações ruins de animes, é pouco inspirada, tem diálogos e atuações vergonhosas e cenas de ação mal filmadas. É um grande desperdício do potencial e dos atores principais, que tentam ao máximo carregar a série nas costas. Caso alguém queira ver a adaptação, recomendo ver o anime clássico de 1998 (e se já assistiu, assista mais uma vez).

Nota: 3.5

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