Filmes com nomes de pessoas e/ou com números no respectivo título é uma caixinha de surpresas. A menos que o filme seja biográfico e o nome da pessoa em questão (protagonista do filme) seja uma celebridade ou alguém que tenha contribuído para com a humanidade de alguma forma (seja na área das ciências, na literatura etc.), sempre tive um pé atrás e um certo ranço com filmes (com histórias fictícias) que levam o nome do protagonista.
É
lógico que não vou tomar isso como regra e reclamar de todos os filmes com
nomes de pessoas no título. Temos excelentes exemplos de filmes cujos títulos
são os nomes dos protagonistas: “Mary Shelley” (2017); “Erin Brockovich – Uma
Mulher de Talento” (2000); “Forrest Gump – O Contador de Histórias” (1994);
“Johnny & June” (2005) e “Django Livre” (2012).
Ao passo quem também existem filmes com nomes próprios no título que, sinceramente, não sei por qual motivo foram parar lá, tais como: “Lucy” (2014) e “Parker” (2013). Me arrisco a incluir o filme “Beckett” (2021) aqui também (vou explicar o porquê). Minha pergunta para estes casos é: por quê?
Quando
o filme “Beckett” chegou à Netflix no último dia 13 de agosto, me deparei com a
dúvida se eu colocaria para assistir ou não. Fiquei com esta dúvida, pois o título para o filme em questão é o nome do protagonista; sinceramente, não é o
tipo de título que chama a atenção. É lógico que o nome do personagem principal
do filme é Beckett, mas simplesmente colocar o nome dele como título sem alguma
informação adicional (como no caso citado “Forrest Gump – O Contador de
Histórias”) é um título desnecessário. Digo isso porque não vejo motivo algum
para que o título do filme em questão receba o nome do personagem principal,
haja vista que ele não é nenhuma pessoa conhecida e a história é fictícia.
Dito isso, ao terminar de assistir ao filme, creio que chamaria muito mais a atenção (e não criaria dúvidas) se recebesse outro título mais apropriado, que chamasse mais a atenção, do que o simples nome do personagem central – que, ao meu ver, não tem o menor propósito.
No fim das contas, o que levou a assistiu ao filme foi ter visto que o personagem principal é o ator John David Washington, filho do também ator Denzel Washington (de “Filadélfia”, 1993 – leia a Crítica do Filme aqui). Só após isso é que eu fui ler a sinopse do filme, o qual achei interessante e que me ajudou a decidir assistir ao filme.
Em
relação à trama do filme, os turistas americanos Beckett (John David Washington,
de “Infiltrado na Klan”, 2018) e a namorada April (Alicia Vikander, de “Tomb
Raider: A Origem”, 2018) estão viajando de férias pelo interior no norte da
Grécia enquanto há um conflito político no país. Durante uma viagem de carro à
noite, Beckett dorme no volante, o carro capota, sai da estrada e invade uma casa.
Ao acordar no hospital, Beckett é informado que April morreu, mas o hospital
não permite que ele veja o corpo e ninguém sabe informar sobre a família
que estava na casa no momento do acidente.
Após prestar depoimento sobre o acidente, Beckett é liberado com o passaporte, mas, logo em seguida, se torna o alvo de uma caçada mortal por agentes da polícia grega. Sem saber o motivo pelo qual é perseguido e o porquê o querem morto, Beckett é forçado a correr para salvar sua vida e está desesperado para atravessar o país até chegar na embaixada americana em Atenas. Durante a fuga, as tensões aumentam conforme as autoridades se aproximam, Beckett (sem saber o que está acontecendo) se afunda cada vez mais na conspiração política que está ocorrendo no país e ele tem que lutar a todo custo para chegar vivo na embaixada americana, sem saber em quem pode confiar, e tentar descobrir o motivo pelo qual querem ele morto.
Ao
contrário do filme “Justiça em Família” (2021, também disponível na Netflix – leia a Crítica do Filme aqui), o
filme “Beckett” soube utilizar do recurso plot twist de forma adequada,
encaixando-se perfeitamente no enredo em questão e mantendo a tensão do filme
de forma convincente até o final. Isso dá ao filme um ponto positivo, já que o
personagem central passa o longa inteiro no meio de um thriller político no
qual ele é incidentalmente envolvido e, para sobreviver, é obrigado a ter que
juntar as peças do quebra cabeça para descobrir o motivo pelo qual está sendo
perseguido e, assim, escapar com vida.
O
enredo do filme em tela, tal como em um jogo de cartas, vira uma carta de cada
vez para manter o telespectador tenso sem saber qual será a próxima cartada; e
nós só conseguimos enxergar o quadro inteiro no final do filme, quando todas as
cartas estão viradas e o todo o quebra cabeça já está montado. E o trunfo final
é justamente o plot twist, que dá aquela sacada de mestre e responde várias
dúvidas que tínhamos desde o começo do filme. Ou seja, só conseguimos
compreender completamente a trama bem no final do filme; o telespectador passa
o filme inteiro confuso tanto quanto o protagonista título em sua fuga.
“Beckett” tem um enredo simples e até um pouco genérico, mas mantém a fórmula básica de um bom filme de suspense e ação: é sobre um cidadão normal que sofre um acidente de carro, acaba caindo em uma teia de conspiração por estar no lugar errado, se torna alvo de forças perigosas e tem que fugir para sobreviver. Não obstante, ele ainda tem que tentar descobrir a verdade sobre o porquê está sendo perseguido, além de saber quem realmente são as pessoas que estão em seu encalço. Leva-se em consideração, também, que Beckett está em um lugar estranho onde praticamente ninguém sabe falar seu idioma, o que complica ainda mais a situação.
Em relação ao elenco, John David Washington mostra que herdou o talento do pai e entrega uma atuação potencialmente ótima ao representar o personagem título. Se ele seguir carreira nesta esteira e continuar atuando em filmes equivalentes ao longa em questão (e eu trago aqui um excelente longa que também foi brilhantemente atuado por John David Washington: “Infiltrado na Klan” – vale a pena!), com certeza veremos o ator em outros filmes promissores.
Dirigido pelo cineasta italiano Ferdinando Cito Filomarino, o filme “Beckett” é uma coprodução entre Itália, Brasil (pela RT Features) e Grécia, que estreou no Locarno Film Festival em 4 de agosto. O longa em tela estava previsto para ser exibido nos cinemas, mas, por conta da pandemia, acabou sendo adquirido e lançado diretamente na Netflix no último dia 13 de agosto.
Por fim, não se deixe enganar pelo péssimo título escolhido. O filme “Beckett” é muito mais interessante do que o título aparenta ser. Se fossemos julgar “Beckett” somente pelo título (que não é nem um pouco chamativo e atraente), estaremos perdendo a oportunidade de assistir um ótimo filme de suspense, com cenas de ação que prende a nossa atenção até o fim e nos presenteia com um plot twist igualmente ótimo e que se encaixou perfeitamente na trama em questão. A revelação do plot twist compensa todo o mistério criado desde o acidente de carro até o desenrolar do quebra cabeça final.
“Beckett” está disponível na Netflix.
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