Novo filme da franquia abraça o ridículo em uma história descerebrada cheia de ação e momentos cômicos.


A franquia Velozes e Furiosos começou a ser reconhecida, por causa de seus filmes mais recentes, pelas cenas de ação extravagantes e sua trama simplista e burlesca. A franquia garante entretenimento fácil por duas divertidas horas pra quando os créditos rolarem você já ter esquecido boa parte da história mas ainda lembrar dos momentos exagerados e comédia típica. Digo que os últimos filmes da franquia me entreteve, como o Hobbs & Shaw e Velozes e Furiosos 8, e eu achei que ambos lidaram bem com o tom cafona de suas histórias e tentaram entregar algo no mínimo decente. 

Mas parece que em Velozes e Furiosos 9 não houve nem sequer uma tentativa de fazer o mesmo e abraçaram o ridículo totalmente, o que pode até ser um benefício em alguns casos, mas aqui o absurdo toma completamente conta de tudo e acaba com as chances de fazer sequer um filme. F9 é mais como um amontoado de cenas bem dirigidas com cenas bregas sobre família e lealdade pra encher linguiça e aumentar a duração do filme. 

A começar que o roteiro de Daniel Casey e Justin Lin parece ter sido escrito em cinco dias e que não houve nem sequer uma tentativa de escrever um segundo esboço ou polir um pouco a trama. Eles chutaram o balde e decidiram que nem precisa fazer o mínimo de sentido, algo que ainda tentaram anteriormente, mesmo que fosse um mero resquício. 

E o filme também é bastante autoconsciente de sua extrapolação, como Deadpool faz por exemplo, e mesmo que isso não seja necessariamente prejudicial, eles utilizam essa autoconsciência pra tentar justificar e fazer a audiência perdoar os erros e ruindades que são totalmente visíveis. Há piadas no filme sobre os furos de roteiro, e isso é basicamente Lin dizendo que não se importam mais com uma história coesa, ele só quer filmar carros se batendo e explosões gigantescas sem o esforço de fazer um roteiro aceitável. 


Confesso que em partes fiquei confuso e me perdi em algumas partes porquê a trama parecia que não sabia onde queria exatamente ir e metiam cada vez mais elementos, personagens e histórias paralelas que o resultado é um filme convoluto que não justifica suas duas horas e meia. Lin só quis enfiar cada vez mais sequências de ação que com certeza ele deve ter se divertido enquanto dirigia, mas no final não há uma tentativa de justificar sua existência no escopo geral da trama. O roteiro consegue complicar uma história tão simples como a "caça pelo McGuffin", algo que a franquia sabe fazer relativamente bem. 

E a desculpa para algumas maluquices acontecerem, como a cena do espaço que foi revelada no último trailer, é risível. Os produtores levaram a sério as piadas sobre Velozes e Furiosos ir pro espaço e o filme não soube convencer de fato que aquilo era algo necessário. Não duvido que no próximo filme haja uma corrida de drifts nos anéis de Saturno, com a desculpa de que isso é necessário "pela família" ou alguma bobagem desse nível.

E não é só no roteiro que a preguiça é escancaradamente perceptível. A trilha sonora também é uma avalanche de pouca criatividade que as vezes eu ria de quão ruim era. Parecia que eles pegaram a maioria das faixas da trilha sonora de um banco de músicas genéricas - uma pra ação, outra pra suspense, etc - e usaram nas cenas e acharam que ninguém iria perceber. O coitado do Brian Tyler, que já fez trilhas sonoras excelentes como a de Homem de Ferro 3, devia estar cansado da franquia, pra qual ele já compôs várias vezes, e decidiu ganhar um dinheiro fácil fazendo uma trilha sonoro genérica e meia-boca.


As atuações do filme também foram uma piada de mau gosto, esse aspecto só piora a cada filme que ás vezes me pergunto se é proposital. Temos o Vin Diesel novamente com aquela expressão de que quer arrotar e olhos quase fechados. A Michelle Rodriguez está claramente desmotivada e só quer receber o cachê dela. Ironicamente, o único que ainda parece tentar atuar é o Tyrese Gibson, que claramente está se divertindo muito fazendo o filme, a energia dele é clara em todas suas cenas. O novato na franquia John Cena também parece tentar algo, mas falha completamente e sai como um vilão esquecível, diferente da Charlize, mas ela é boa muito por conta de seu charme do que pelo roteiro em si. 

Mas nem tudo são males. As sequências de ação exageradas continuam legais de se assistir. Justin Lin manda muito bem na direção delas, ele faz tomadas aéreas como ninguém e pega os melhores ângulos quando as cenas são de perseguição de carros. As loucuras do filme são bem executadas e nesse aspecto não há muito a que reclamar. Velozes e Furiosos 9 então é um filme cheio de defeitos que, mesmo possuindo seus momentos, falha em entregar algo minimamente admissível e mesmo que eles façam piadas no filme sobre o quão absurda é a franquia, tornando-se quase que uma paródia mal feita de si mesma, isso não é desculpa para tentar fazer um ridículo mais justificável. 

Nota: 4

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