O melhor buddy cop filme dos anos 80.

Buddy cop é um gênero de filme que coloca dois policiais numa parceria improvável para lutar contra poderosos bandidos. É costume que nessa categoria de produção, os protagonistas serem pessoas bem distintas e Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover) são os melhores exemplos de tal definição.

Dirigido por Richard Donner (Superman: O Filme) e escrito por Shane Black (Homem de Ferro 3), 'Máquina Mortífera' é um dos filmes de ação mais interessantes que os anos 80 trouxeram para o público e deu origem a uma das franquias mais bem sucedidas de Hollywood. Situado na época de Natal, o filme conta o início da icônica parceria entre o impulsivo Martin Riggs e o cauteloso Roger Murtaugh enquanto ambos tentam sobreviver a uma guerra contra um poderoso cartel de drogas em Los Angeles.

A trama inicia estabelecendo uma atmosfera melancólica e gradualmente vai mostrando um pouco da vida dos personagens, assim como vai montando as pequenas pistas do mistério que será o mote principal da história. O texto consegue mostrar com maestria a selvageria da Los Angeles na época, ressaltando que o trabalho de um policial nessa cidade é bem caótico (para dizer o mínimo). O interessante nessa abordagem é que não há pudor em explicitar para o público que os personagens não são policiais convencionais, eles cometem erros, tomam atitudes questionáveis e brigam constantemente, porém tudo isso é feito tendo em vista proteger as pessoas.

Toda ação de Murtaugh e Riggs visa a proteção do próximo, algo que nem sempre é alcançado por conta de ações dos vilões, mas que dá a esses policiais uma virtude estabelecida. Também é notável o quanto um precisa do outro, apesar do estranhamento inicial. Riggs passa por um processo autodestrutivo por conta da morte de sua esposa e o trabalho como policial é a única coisa que o impede de surtar completamente. Mel Gibson atua de modo selvagem expressando toda a loucura do personagem, numa das melhores cenas, ele passa toda a vulnerabilidade e ódio de Martin, mostrando diversas camadas do personagem.

Murtaugh é um pai de família cinquentão que só deseja viver em paz, mas que quando é obrigado a trabalhar com Riggs, descobre nele um amigo sincero e também um certo desejo por ação desenfreada por mais que negue. A relação de ambos é muito bem construída pelo roteiro com cada um sabendo das angústias um do outro e respeitando suas diferenças, ainda que nem sempre concordem. O desenvolvimento de personagens aqui é um dos melhores que já vi em filmes do gênero e os diálogos são bem honestos nesse sentido, não há nada forçado, pois naquela situação e contexto, fazem sentido.

A ação do filme é bem violenta, não chega a glamorizar, mas é explícita o bastante para chocar o público. A intenção do diretor Richard Donner é mostrar que na luta contra o crime, as mãos saem sujas e os personagens lutam de todos os modos possíveis, contra vários criminosos notoriamente violentos. A câmera movimenta-se como se fosse um observador silencioso da história, sempre pegando os melhores ângulos, mas mantendo-se distante para não se comprometer. Quando existe a necessidade de um combate mais próximo, o jogo de ângulos muda e tornando-se mais impessoal e um tanto sujo, a luta final entre Riggs e Jordan (Gary Busey) é um bom exemplo disso.

A química entre Mel Gibson e Danny Glover foi essencial para esse filme funcionar, pois, a boa sintonia deles permite que o público simpatize mais rápido com os personagens. Os vilões da história são típicos traficantes de drogas, mas são funcionais na trama por serem uma ameaça real, nota-se que não são bandidos normais. Nem todo antagonista precisa de uma história triste ou motivações sensíveis, eles precisam ser ameaçadores e aqui são isso.

Por fim, vale destacar as ótimas críticas sociais disfarçadas de piadas que o roteirista insere na narrativa. Uma das mais engraçadas é na parte que a dupla mortífera deve questionar várias crianças negras sobre um suspeito, mas encontram resistência, pois os meninos julgam que policias matam e prendem pessoas negras sem razão legal. Isso deixa os protagonistas um tanto sem graças e demonstra que eles sabem que isso em parte é verdade, mas não podem dizer em voz alta.

'Máquina Mortífera' vale todo o seu tempo e é um dos melhores filmes dos anos 80.

Nota: 10,0

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