Elle Fanning é a poderosa 'Catarina, a Grande' em uma sátira que oscila entre risadas, vergonha alheia e empoderamento. 


Disponível no Brasil pela plataforma Starz, The Great conta a história da ascensão de Catarina até se tornar a governante suprema da Rússia após realizar um golpe de Estado contra o seu próprio marido, Pedro III. 

Como evidenciado pela própria série, trata-se de uma história "ocasionalmente baseada em fatos históricos". Portanto, antes de iniciar sua maratona, esteja ciente de que o show criado por Tony McNamara está mais preocupado em parodiar a Rússia do século XVIII do que se ater à verossimilhança. O roteirista parece ter gostado de brincar com a temática monárquica adicionando traços de humor aos cenários costumeiramente representados como insalubres, vide sua contribuição em A Favorita (que rendeu o Oscar a Olivia Colman).

Em seus primeiros episódios, há um foco maior em trabalhar a adaptação da jovem Imperatriz à nova corte e o relacionamento com o marido Pedro (Nicholas Hoult). Catarina era, na verdade, da Prússia (que equivale, em partes, a atual Alemanha). Dessa forma, existe todo um preconceito por parte da corte russa em aceitar a moça como sua nova governante, rendendo cenas hilárias e, ao mesmo tempo, agonizantes por conta do sofrimento da recém chegada. Por vezes, a história lembra a de Maria Antonieta na França. Afinal, tratava-se também de uma estrangeira que precisava a impor sua presença e se blindar contra os ataques ofensivos e xenofóbicos. 


Desde seus minutos iniciais, com o primeiro encontro entre os protagonista, a série destaca o humor nonsense que permeia toda a produção. Acredite: é necessária um boa dose de suspensão da descrença para aceitar o que é mostrado em tela - seja em falas e costumes atípicos ao período ou ainda nas ações dos personagens. Elle Fanning e Nicholas Hoult, ambos experientes, estão ótimos em seus respectivos papéis e se saem bem em interpretações cômicas. 

Hoult constrói um personagem que pode ser descrito como, no mínimo, odioso e desprezível. Embora caricato (propositalmente, é claro), suas atitudes machistas e imprudentes se assemelham à realidade. Elle Fanning, por sua vez, nos entrega uma ingênua e romântica Catarina que cresce significativamente no decorrer da trama ao passo que acende seu desejo em governar a Rússia. Seu amadurecimento é notável e culminam em cenas interessantes. Curiosamente, o aprofundamento da dinâmica do relacionamento entre os dois, com interações mais latentes, são reservadas quase que exclusivamente aos episódios finais. Anteriormente a isso, os dois seguem núcleos muita das vezes distintos e que, ocasionalmente, se encontram. 


Assim sendo, talvez aqui more o principal problema do show: o ritmo da produção. São 10 episódios com cerca de 50 minutos de duração e com tramas que se prolongam mais do que o necessário, tornando a série cansativa em determinados momentos. Além disso, há uma dificuldade em construir as reviravoltas que serão apresentadas. Por exemplo,  os integrantes do complô liderado por Catarina são claros desde o segundo episódio, mas apenas se reúnem definitivamente no sexto/sétimo. No intervalo entre a consolidação do time, somos bombardeados com sexo, festas e o Pedro provando-se como péssimo Imperador. Não há demérito nas cenas, pois parte da premissa é a sátira, mas a impressão que fica é a de que teríamos algo mais dinâmico e enxuto, com um humor mais pontual, caso encurtassem ou eliminassem certos plots.

Em quesitos técnicos, The Great faz jus ao seu título. Com figurinos opulentos, uma fotografia viva e cenários deslumbrantes, a produção é de encher os olhos. No entanto, senti um certo descuido na trilha sonora, pois não existe o mesmo requinte que há nos demais aspectos. No que tange aos coadjuvantes, todos entregam performances consistentes, embora pouco relacionáveis, com exceção da tia de Pedro, interpretada por Belinda Bromilow, e a Marial de Phoebe Fox. E para os amantes da história, a série é recheada de referências à efervescência do Iluminismo - com direito a uma aparição inusitada de Voltaire. 

Isto posto, ainda que vacile em seu ritmo, The Great ainda vale seu tempo por conta das atuações divertidas de seu casal protagonista e a completa irreverência das situações caóticas propostas.

Nota: 8/10 

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