Crítica | Uma Noite em Miami (Amazon, 2020)

Uma das grandes apostas para o Oscar, o filme mostra a importância de debater temas como racismo, religião e de se posicionar a favor de lutas sociais.

“Uma Noite em Miami” é o relato fictício de uma noite incrível onde os ícones Cassius Clay/Muhammad Ali, Malcolm X, Sam Cooke e Jim Brown se reúnem e discutem seus papéis na luta pelos direitos civis e na revolução cultural dos anos 1960.

O filme começou a chamar a atenção do público por ser a estreia da aclamada e premiada atriz Regina King (Watchmen, Se a Rua Beale Falasse) na direção, além de ser exibido em diversos festivais, sendo elogiado pela crítica. Isso acabou fazendo com que a Amazon adquirisse o projeto, se tornando uma das maiores apostas do serviço de streaming para a temporada de premiações.

O primeiro ato se concentra em apresentar os personagens principais da história suas lutas pessoais, onde acompanhamos cada um deles em suas jornadas enfrentando desafios e a segregação racial. O talentoso músico Sam Cooke (Leslie Odom Jr.) batalhando para se apresentar em uma casa que o despreza por conta da cor de sua pele, o lutador Cassius Clay (Eli Goree) batalhando para se tornar o melhor do mundo, o ativista Malcolm X (Kingsley Ben-Adir) que luta e discursa a favor da comunidade negra e muçulmana, sendo considerado por muitos um “extremista” e o jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge), que está pensando em deixar sua carreira como jogador para virar ator.

A abordagem temática da visão religiosa de Malcolm X é muito bem construída, que serve como um guia de Cassius para o inspirar a migrar de religião, se tornando um muçulmano. Mas dentre os principais debates que os personagens tem, a maior disputa ideológica fica entre Malcolm e Sam Cooke, onde o ativista questiona o que o músico fez pela luta e opressão dos negros, sendo que outros artistas (brancos) contribuíram mais para a luta do que ele.

O filme peca pela própria direção de Regina King, que embora seja operante e eficaz, não apresenta nenhuma grande técnica e joga no seguro, sendo o “elo mais fraco do longa”. A real estrela do filme é o roteiro de Kemp Powers (Soul), que somado com as interpretações incríveis dos quatro protagonistas, consegue envolver o espectador e desenvolver diálogos sagazes que em nenhum momento torna o filme “chato”. A trilha sonora de Terence Blanchard (Infiltrados na Klan) composta quase toda por jazz ajuda a criar a atmosfera da época, que realça a bela recreação dos anos 60 que o filme cria.

Os atores conseguem dar um show à parte, embora Ben-Adir não entregue uma versão de Malcolm X tão marcante como Denzel Washington no filme “Malcolm X”, ele consegue mostrar um homem calmo, amável mas que tem uma enorme sede por justiça. Aldis mostra uma versão sonhadora e apaziguadora de Jim Brown, sendo um dos personagens mais carismáticos do filme. Leslie convence ao mostrar um músico perdido que está tentando se renovar, mas o destaque fica por conta de Eli Goree, que interpreta Muhammad Ali em seu momento mais importante da vida.

Disponível no Amazon Prime Video, “Uma Noite em Miami” pode não ser um filme perfeito ou totalmente marcante, mas apresenta mensagens e debates universais que sempre serão atuais, nos fazendo pensar sobre a importância de nos posicionarmos e lutarmos através de direitos, assim perseguindo nossos sonhos.

Nota: 8,5.