A nova produção de Patty Jenkins entrega uma mensagem auspiciosa sobre a humanidade sem perder a qualidade do antecessor.  

Após uma série de adiamentos, Mulher-Maravilha 1984 estreou nos cinemas nacionais casando, de maneira assustadora, com o atual cenário mundial. Ainda que sofra com alguns diálogos caricatos e genéricos, o longa provou-se como mais um acerto para a DC Comics ao explorar um novo viés de Diana Prince e seu papel como heroína.  

No novo longa, encontramos a Princesa Amazona em uma nova dinâmica com a sociedade. Embora não apresente a mesma ingenuidade do primeiro filme, ela ainda é uma figura empática que acredita na humanidade. E, no entanto, sozinha. Os primeiros 30 minutos da produção, inclusive, dedicam-se a mostrar a solidão da protagonista, ainda que cercada por toda a agitação que a atmosfera oitentista oferece.  

Aliás, a ambientação é um dos pontos mais interessantes. Aqui vemos Diana tendo que lidar com um ambiente muito mais urbanizado e, de certa forma, mais vivo do que no filme anterior. As paisagens desoladas da guerra são substituídas por ruas engarrafadas, museus, academias, escritórios e novas tecnologias. Essa mudança traz fascínio por vê-la em um período tão contrastante e que não fora abordado em outras aparições dessa versão. 


E no meio desse cenário efervescente, somos apresentados aos personagens de Kristen Wiig e Pedro Pascal: Cheetah e Maxwell Lord, respectivamente. Ambos são bem interpretados e com motivações válidas, permitindo a criação de laços com o espectador. No entanto, alguns diálogos dados aos personagens beiram muitas das vezes o caricato, principalmente em suas primeiras cenas. Maxwell talvez seja o mais prejudicado: ele não lembra a sua contraparte quadrinhesca ou transmite o sentimento de urgência e perigo. Mesmo que seu papel no filme como representante máximo daquela sociedade consumista e egocêntrica seja claro, rendendo ótimos discursos, ele não é um adversário à altura da guerreira amazona.

Em panorama geral, na verdade, apesar do esforço para um embate épico, Patty não constrói um oponente que se equipare à estrela do longa. Ainda que o confronto final com Cheetah tenha belas sequências de movimentação e empolgue, o conflito não atinge seu ponto máximo e encerra-se de maneira abrupta. É notável a relutância da Diana em lutar contra ela – ou com qualquer outro adversário. Todavia, vale ressaltar que existem outros grandes momentos de ação no longa, como a perseguição no Egito e a cena de abertura em Themyscira, evidenciando o potencial do vindouro spinoff focado nas Amazonas da ilha.  


O roteiro leve e otimista, mesmo que apele em conveniências excessivas, consegue trabalhar os diferentes núcleos de maneira coesa e satisfatória. Além de desenvolver seus vilões, permite um longa repleto de homenagens aos fãs da personagem que te fazem abrir um sorriso de orelha a orelha. É digno de nota como a produção consegue transportar alguns elementos clássicos das HQ's para o formato liveaction de maneira orgânica e que faça sentido dentro da trama. Um dos grandes méritos da obra é abraçar o surreal, desde à extensão do poder de sua protagonista até existência de pedras mágicas.  

Em virtude disso, Wonder Woman (no original) é repleto de cenas memoráveis e muito por conta do carisma esmagador de Gal Gadot. A atriz capta toda a essência de esperança e senso de justiça que o papel requisita, mas sem abandonar a afetuosidade ou ternura. Com nuances mais humanas na sequência, possibilitando um vislumbre de sua vulnerabilidade (física e emocional), a personagem é facilmente relacionável e te faz vibrar e se emocionar. A interação com o ótimo Chris Pine como um deslocado Steve Trevor – assumindo um papel inverso ao de 2017 - continua sendo prazerosa de se acompanhar, embora pudesse ser um arco descartado. Contudo, é interessante notar como nesse elo vemos Diana questionar o seu lado heroico, colocando em pauta a dualidade entre o dever e o querer. 

Por fim, cabe citar a belíssima trilha sonora que Hans Zimmer compôs, proporcionando uma imersão na década de 80 e uma nova roupagem para alguns temas antigos, assemelhando-se à estética proposta. Embalando cenas deslumbrantes, é impossível não associar com outros clássicos como Superman de Christopher Reeve – que a diretora já assumiu ser fã. São momentos que enchem os olhos e aceleram o coração.  

Em suma, como um todo, é um filme delicioso de se assistir. Por meio de reflexões profundas e verdadeiras somadas à personagens envolventes, a produção não hesita em nos entregar o que se tem de melhor dos grandes blockbusters. Com a Diana Prince de Gal Gadot, Patty Jenkins e companhia acaba por marcar uma nova geração e nos deixa ansiosos por um futuro de maravilhas. 

 
Nota: 8,5

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